EXPLICAÇÃO SOBRE O JUDAISMO E O SURGIMENTO DO CRISTIANISMO


 



O Judaísmo.

 “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor ”(Dt. 6,4). 

O surgimento do Judaísmo remonta a Abraão e Moisés. Abraão teria vivido possivelmente por volta do ano 2000 a. C, na Mesopotâmia e migrou para uma terra de Canaã, situada no Mediterrâneo oriental. Moisés, por sua vez, teria vivido por volta de 1140, a. C, e foi considerado pelos israelitas, como sendo “o primeiro e o maior de todos os profetas”. Contudo, apesar de ambos os personagens serem fundamentais na religião judaica, podemos afirmar que o surgimento do judaísmo se deu com “Abraão, que reconheceu Deus como o Criador do Universo”, e confiando no Altíssimo “migrou da Ur dos Caldeus para Canaã”. Segundo o que relata o Livro do Gênesis, Abraão era um homem de fé profunda, e por ser o primeiro que confiou nas palavras do Deus verdadeiro, foi considerado o pai do judaísmo. 

O politeísmo é a coleção em vários deuses e o triteísmo é a coleção em três deuses distintos.

     

A religião não possui um credo formal, isto é, doutrinas meticulosamente sistematizadas; porém ela pode ser sintetizada no Shema Israel, que proclama a unicidade de Deus e exige a lealdade dos israelitas ao Deus verdadeiro. O líder espiritual da comunidade é o Rabino; sua função é dirigir, pregar educar, aconselhar, etc.

Shema Israel: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas cortinas. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno ”(Dt. 6, 4-6).


     

Os Livros Sagrados.

 A Bíblia Hebraica é formada por 24 livros, e é denominada de TANACH, que é um acrônimo, uma sigla, formada a partir das palavras Torah, Neviím e Chetuvím, que se caracteriza como categorias nas quais as escrituras são divididas. A primeira categoria é formada pelos Cinco Livros de Moisés, isto é a Torah; a segunda é composta pelo Neviím (livros dos profetas) e a terceira pelos Chetuvím (Escritos). Esta organização foi consolidada a partir de uma decisão “tomada pelas lideranças rabínicas e eruditas que se reuniram em um sínodo (assembleia) na cidade de Iavne, aproximadamente no ano 100 EC”. Este modo de organizar a Bíblia estabilizada até os dias de hoje e é aceito de forma inquestionável, pois os rabinos que tomaram tal considerados considerados homens dotados de grande experiência e respeito. De acordo com o pensamento judaico,

O número 24 “é um múltiplo de 12, o número das Tribos de Israel” (BLECH, 1999, p. 92). Dado que 24 é a soma de 12 + 12, o referido número significa que “através dos seus livros, os filhos de Israel tornam-se duas vezes o que são!”


Divisão dos livros Bíblicos.

a) A Torah: é composta por cinco livros também chamados de Chumásh e é considerada como a “comunicação direta entre Deus e o homem” (BLENC, 1999, p. 91). Segundo Wilkinson (2011) “a Torá contém 613 instruções, regulando desde comida e roupa até rituais e festas” (WILKINSON, 2011, p. 67). Para a tradição judaica, uma Torá foi escrita por um único autor, aproximadamente no século 13 a. C e é composta pelos seguintes livros: Bereshít, Shemót, Vayikrá, Bamidbar e Devarim. Os nomes do processo, em hebraico, possuem significados, e se especial a palavra mais importante que se encontra no primeiro versículo de cada livro. No quadro abaixo, apresentamos os nomes em hebraico, o seu significado e o assunto que aborda cada livro.


Hebraico transliterado

Tradução

Versículo da Torah

Aspectos de Fé

1.Bereshít (Gênesis)

No princípio...

“No princípio criou Deus o céu e a terra”.

Gênesis: relata parte da Criação e do princípio da história do mundo, passando pelos patriarcas do povo judeu e pelo começo da história do povo de Israel.

2.Shemót (Êxodo)

Nomes...

“E estes são os nomes dos filhos de Israel que vieram ao Egito com Jacob; cada um com a sua família veio”.

Êxodo: trata principalmente da saída dos Judeus do Egito, onde foram escravos.

3.Vaicrá (Levítico)

E chamou...

“E chamou a Moisés e falou-lhe o Eterno...”

Levítico: fornece instruções detalhadas dos serviços e dos sacrifícios que eram realizados pelos levitas, designados para servir o Templo.

4.Bamidbár (Números)

No Deserto...

“E falou o Eterno a Moisés no deserto de Sinai, na tenda da reunião, no primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da sua saída da terra do Egito...”

Números: mostra o censo dos judeus no deserto e acompanha os acontecimentos que precederam a chegada à Terra Prometida.

5. Devarim (Deuteronômio)

Palavras

“Estas são as palavras que falou Moisés a todo Israe, de além do Jordão.”

Deuteronômio: consiste em um último e longo discurso de Moisés ao seu povo, sua despedida, recapitulando o que ocorrera aos judeus até então, bem como recordando a aliança feita entre eles e Deus, que garantiu sua sobrevivência enquanto povo.


Neviím e Chetuvím 

O Neviím é composto por oito (08) livros que segundo a tradição judaica, contêm “comunicações de Deus escritas nas palavras dos próprios autores” . Quanto aos Chetuvím, estes são num total de onze (11) livros que são considerados como uma “comunicação menos intensa, [entre Deus e o homem] conhecida como presença divina”


No quadro abaixo, apresentamos os livros que compõem o Neviím e o Chetuvím.


Neviím

Chetuvím

1. Josué

1. Salmos

2. Juízes

2. Provérbios

3. Samuel 1 e 2

3. Jó

4. Reis 1 e 2

4. Cântico dos Cânticos

5. Isaías

5. Rute

6. Jeremias

6. Lamentações

7. Ezequiel

7. Eclesiastes (Cohelet)

8. O Livro dos Doze: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

8. Ester


9. Daniel


10. Esdras e Neemias (considerados como um único livro).


11. Crônicas 1 e 2.


Além dos livros sagrados que compõem a Torá, o Neviím e o Chetuvím, os judeus também possuem outros livros que ajudam no conhecimento da Lei, estes são a Mishnah e o Talmud.

Mishná e o Talmude 

A Mishná é a interpretação da Torá e é composta por comentários, interpretações, isto é, “as principais publicações dos escribas e rabinos em assuntos de Lei, técnicos especializados de quatro séculos de interpretação da Torá”.  É caracterizada por ensinamentos provenientes, de uma das escolas dos fariseus, a Hillel e é composta por setenta e três tratados, que abordam as Leis sobre “agricultura; festividades estatutárias, o lugar das mulheres, propriedades e assuntos legais, o templo e o seu equipamento, e a impureza ”. Quanto ao Talmud, este é composto pela Mishnah e pela Guemara. Segundo Haley (1996), “a Gemara é uma combinação de sentimento sobre o Mishnah, que se verificam nos cinco ou seis séculos após sua publicação”.

O local de Culto 

Quanto ao local no qual os judeus se reúnem para a oração, este é chamado de Sinagoga, vocábulo que significa, etimologicamente, reunião, e designa o local para a prece litúrgica comum. Contudo, esta não é utilizada somente para reuniões litúrgicas, mas também para formações, tais como o estudo do hebraico e da Torá. A origem da Sinagoga é incerta, contudo, segundo Harley (1996, p. 273), esta pode ser datada dos “tempos em que os estavam exilados na Babilônia, depois da queda de Jerusalém em 586 a. C ”. 

Após a volta do exílio, eles instalaram estas casas de oração e de ensino, para estudarem a Torá. Harley (1996) aponta que a sinagoga é o ponto de encontro da comunidade judaica, e a sua liturgia e uma expressão ritual da fidelidade do povo judeu ao Deus impronunciável. Quando falamos que o nome de Deus é impronunciável, queremos dizer que o nome do Altíssimo não pode ser pronunciado, é uma proibição proibir-lo.


As festas Judaicas.

 As festas judaicas foram definidas a partir de um calendário específico do povo judeu, que nas palavras do Rabino Blech (1999), é um “calendário lunarsolar” (BLECH, 1999, p. 145), composto por 12 ou 13 meses. 


Calendário lunar-solar: “Quando se completa o ciclo de 19 1 \ 2 dias do 'aniversário' da lua nova, inicia-se um novo mês, celebrado como Rosh Chódesh ('cabeça do mês'). O ano lunar é mais curto do que o ano solar, pois tem 354 dias em vez de 365. Mas assim, as festividades que têm lugar na primavera correriam o risco de cair nos meses frios de inverno. O judaísmo segue um calendário lunarsolar. A lua determina os meses, mas a defasagem de 11 dias entre os dois ciclos é compensada pela adição de um 'mês extra' por sete vezes a cada ciclo de 19 anos [...]. Isso faz com que a discrepância entre os calendários lunar e solar seja reduzida ao mínimo ”(BLECH, 1999, p. 145).



Tal calendário tem como ponto de partida a criação da espécie humana, apreciado como “o momento mais importante” no qual “Deus criou Adão, o primeiro homem, a 'sua imagem'. Deste modo, o tempo é sagrado tanto para nós como para toda a humanidade ”(BLECH, 1999, p. 143). Dado que o ponto de partida é a criação do homem, a contagem do calendário se dá a partir do sexto dia e não a partir do primeiro, e entendem que “os 'dias' bíblicos anteriores à criação do ser humano não eram os dias que conhecemos; eram períodos diferentes de tempo, estágios no processo de desenvolvimento do mundo ”(BLECH, 1999, p. 143). É a partir deste calendário lunar-solar, que são preparados como festas religiosas judaicas, nas quais se comemoram os principais eventos que recordam a história do povo de Israel, a saber: 1) Rohs Hashanah (Ano Novo Judaico): Lembra a criação divina e celebra a renovação da Aliança de Deus com Israel; 2) Yom Kippur (O dia da Expiação): Dia de jejuar e pedir perdão a Deus de seus pecados; 3) Sucot (A Festa dos Tabernáculos): Comemora a viagem do Egito à Terra Prometida, quando os Judeus tiveram que morar em tendas no deserto; 4) Simchat Torá (A Alegria da Lei): Inicia-se um novo ciclo da leitura da Torá. Comemora-se o dom da Lei. Neste dia lê-se a última parte do livro do Deuteronômio e inicia-se novamente a leitura da Torá, com os primeiros; 5) Hanukkak (O Festival das Luzes): Celebra a “vitória de Judas Macabeu sobre os sírios e a reconsagração do Templo de Jerusalém, no ano de 164 a. C ”(HARLEY, 1996, p. 275); 6) Purim (Sortes): É o Festival que recorda a história da Rainha Ester. “Recorda as sortes lançadas por Hamã para escolher o dia em que iria destruir todos os padrões do Império Persa. O Livro de Ester é lido na sinagoga ... ”(HARLEY, 1996, p. 275); 7) Pesach (Páscoa Judaica): Lembra a libertação dos Judeus da opressão do Faraó; 8) Shavuot (Pentecostes): “Comemora a entrega da Torá a Moisés, por Deus, no Monte Sinai” (HARLEY, 1996, p. 277); 9) No Tishah B'av (Um dia de Pranto): Recorda a destruição do Templo de Jerusalém pelos Romanos no ano 70 d. C. Além da observação das festas, os nossos realizam a Prece privada durante três vezes ao dia, e guardam o sábado, como o dia de descanso. por Deus, no Monte Sinai ”(HARLEY, 1996, p. 277); 9) No Tishah B'av (Um dia de Pranto): Recorda a destruição do Templo de Jerusalém pelos Romanos no ano 70 d. C. Além da observação das festas, os nossos realizam a Prece privada durante três vezes ao dia, e guardam o sábado, como o dia de descanso. por Deus, no Monte Sinai ”(HARLEY, 1996, p. 277); 9) No Tishah B'av (Um dia de Pranto): Recorda a destruição do Templo de Jerusalém pelos Romanos no ano 70 d. C. Além da observação das festas, os nossos realizam a Prece privada durante três vezes ao dia, e guardam o sábado, como o dia de descanso.


Surgimento do Cristianismo


“E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). O Cristianismo surgiu no seio do Judaísmo e foi dentro dele que se estabilizou. Inicialmente nasceu como um movimento (BARROS, 1996, p. 73). Porém, o conflito foi inevitável! Grande parte dos julgamentos não aceitava Jesus como o Messias de Israel e isso levou a uma cisão dentro do judaísmo oficial. De um lado aceito por aqueles que acreditam em Jesus e foram denominados de cristãos. De outro, os personalidades, que continuaram a professar a mesma fé de sempre e continuaram a esperar a vinda do Messias. Para resolver o conflito, as autoridades judias da época expulsaram do judaísmo oficial que acreditavam em Jesus. Sendo assim, a partir da expulsão dos cristãos, do seio do judaísmo,

     Messias significa em sentido literal, 'ungido', fazendo memória a forma com que os reis em Israel eram sagrados. Em grego compreende-se, a palavra Messias como Christos, ou seja, aquele que viria como prometido. Essa terminologia segundo os evangelhos, possivelmente não foi atribuída a Jesus por si mesmo, mas provavelmente por seus discípulos que reconhecem nele as características messiânicas.               



Quem foi Jesus de Nazaré?

Jesus nasceu antes da morte do Rei Herodes, provavelmente por volta do ano 749 da era romana. Era um Judeu, “e na época de sua juventude o reino judaico estava sobre o controle direto de um oficial do Império romano”. Ao se tornar adulto, “Jesus se tornou um profeta itinerante, baseando suas ideias nas escrituras judaicas”, porém sua perspectiva ensejava uma nova doutrina, que ia além das escrituras judias. Como consequência da atividade profética, Jesus foi perseguido e condenado a morte no ano 29 ou 30. Seu sentenciador foi o alto funcionário romano, chamado Pôncio Pilatos, que o mandou executado mediante pena de crucificação. A acusação que pesou sobre Jesus, foi a de que ele se considerava Deus. Entretanto, o fato preponderante que levou Pilatos a sentenciar Jesus foi de ordem política, isto é, Jesus comprometeu a estabilidade da dominação Romana em Israel. Porque? Porque a pregação de Jesus atraia muita gente e os Romanos temiam que Ele incitasse a multidão a revoltar-se contra a dominação romana. Se Jesus fizesse isso, evidentemente provocaria um enfraquecimento do poder romano em Israel. Por isso, para evitar problemas políticos e sociais, as autoridades romanas agiram rápido e incitados por alguns líderes, decidiram eliminar Jesus! Se Jesus fizesse isso, evidentemente provocaria um enfraquecimento do poder romano em Israel. as autoridades romanas agiram rápido e incitados por alguns líderes, decidiram eliminar Jesus! Se Jesus fizesse isso, evidentemente provocaria um enfraquecimento do poder romano em Israel. as autoridades romanas agiram rápido e incitados por alguns líderes, decidiram eliminar Jesus! Se Jesus fizesse isso, evidentemente provocaria um enfraquecimento do poder romano em Israel. 

Crucificação ou crucifixão foi um método de execução cruel usado na Antiguidade e comum tanto em Roma quanto em Cartago. Abolido no século IV, por Constantino, consistia em torturar o condenado e obrigá-lo a levar até o local do suplício a barra horizontal da cruz, onde já se encontrava a parte vertical cravada no chão. De braços abertos, o condenado era pregado na madeira pelos pulsos e pelos pés e morria, depois de horas de exaustão, [o condenado morria] por asfixia e parada cardíaca (a cabeça pendida sobre o peito dificultava sobremodo a respiração) (ENCICLOPÉDIA BARSA, 1994, p. 111).


Para os Romanos, Jesus era uma ameaça política; para os Judeus, era um herege que dizia igual a Deus, e para os seus seguidores, era Jesus o Filho de Deus que se fez Homem, para salvar os homens

     

Profissão de Fé

 Após a difusão da fé em Jesus, a expulsão dos Cristãos do judaísmo Oficial e a criação de diversas comunidades, surgiu a necessidade de se formular um Credo que especificasse de forma clara a fé dos cristãos. Tais providências foram exigidas para não deixar com que a Fé em Jesus se confundisse com as diversas religiões pagãs que existiam na época e para pré-salvaguarda possíveis cisões nas comunidades locais (GAARDER, 2001, p. 164). A definição dos princípios fundamentais da Fé em Jesus tornou-se de suma importância, também para consolidar como comunidades nascentes e para evitar a difusão de heresias, isto é, de doutrinas que transmitiam ideias errôneas sobre a pessoa do Messias. Foi nesse cenário que surgiram os primeiros dogmas do cristianismo, definidos nos Concílios de Nicéia (325), Éfeso (431), Calcedônia (451), Constantinopla III (681) e que refutaram diversas heresias. Na Tabela abaixo, apresentamos os conteúdos doutrinários que definiu cada Concílio e a heresia que cada um refutou.

Os concílios eram grandes reuniões organizadas pela Igreja ou pelo Imperador, que tinha por objetivo sanar problemas de ordem doutrinária e política.

     

CONCÍLIOS QUE DEFINIRAM A FÉ EM JESUS CRISTO.

Concílio de Nicéia: No ano de 325, sob o pontificado de Silvestre I, o imperador Constantino convocou o Concílio de Nicéia do qual participaram 330 bispos, e presidiu-o Ósio, bispo conselheiro de Constantino. Diante da heresia Ariana, o Concílio definiu a divindade de Jesus, que é consubstancial ao Pai, da mesma substância, exprimindo a igualdade entre o Pai e o Filho, enquanto ambos são o único e mesmo Deus. Definiu-se que o Filho é gerado e único, da mesma substância do Pai, não foi criado, é ingênito e mesmo Ele se encarnou e se fez homem, Ele mesmo sofreu, morreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu e virá como juiz dos vivos e dos mortos.

 Heresia Ariana: Os arianos surgiram no século IV com Ário, que ensinava que o Filho era criado de Deus Pai, foi criado e não gerado, e que tinha sua natureza diferente da Pai. O Criador era entendido como uma entidade angélica que poderia ser chamado de Deus apenas num sentido impróprio. Negavam a consubstancialidade do Filho com o Pai.

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Concílio de Éfeso: O Concílio de Éfeso foi convocado no ano de 431, sob o pontificado de Celestino I, para redimir o problema suscitado pela heresia Nestoriana. Nestório era patriarca de Constantinopla e “proibiu o culto a Maria 'Mãe de Deus', afirmando que ela foi mãe só de Cristo enquanto homem” (GONZALES, 1992, p. 279). Com isto Nestório negava a divindade de Jesus. Contra esta heresia o Concílio ancestral Maria como Mãe de Deus e falou de uma misteriosa união das duas naturezas em Cristo, posteriormente chamada de união hipostática. O Concílio definiu que em Jesus, Deus assumiu realmente uma carne humana, de modo que a relação entre Deus e Jesus é real no sentido de que Deus assumiu a humanidade sem excluir de modo algum a divindade

Heresia Nestoriana: Esta heresia teve como seus expoentes principais Diodoro de Tarso e Teodoro de Mopsuéstia; eles afirmavam que em Cristo havia uma dupla personalidade: a do homem e do Verbo, que estava unidas, de modo que diziam que o Verbo habitava em Jesus. Nestório via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus, sendo assim diz que Maria não é a mãe de Deus [Theotókos], mas simplesmente mãe do homem Jesus [Cristotókos].

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Concílio de Calcedônia: No ano de 451, sendo Papa Leão I, o imperador Marciano convocou o Concílio de Calcedônia para bem definir a doutrina sobre quem de fato é Jesus para a Igreja, e combater a heresia Monofisista de Eutiques, que dizia que em Jesus havia apenas a natureza divina, pois a humana havia ficado dissolvida na sua divindade. Contra isso, o Concílio de Calcedônia definiu a existência de duas naturezas em Cristo, perfeitamente Deus e perfeitamente homem, duas naturezas inequívocas não mescladas, “divina e humana, sem confusão, sem divisão e nem separação” (GONZÁLES, 1992, p. 279 )

Heresia Monofisista: Surgiu com Eutiques, monge em Constantinopla. Afirmava as duas naturezas de Cristo antes da encarnação, porém quando encarnado dizia que em Cristo preponderava apenas uma natureza divina, de modo que a humanidade de Jesus, após a encarnação, ficou dissolvida na sua divindade.

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Concílio de Constantinopla III: Em 681 a Igreja convocou o Concílio de Constantinopla III, sob a orientação do Papa Agatão e foi presidido pelo imperador Constantino IV, para pôr fim a heresia monotelista. Contra os hereges o Concílio ensinou que Cristo quis a nossa salvação com suas duas vontades naturais, e definiu que a vontade humana de Cristo está em plena conformidade com a divina, que há uma única pessoa, duas naturezas e duas vontades. A intenção latente deste Concílio “era de salvaguardar a plena e explícita vontade humana de Jesus, que era precisamente o que desprezavam os monofisistas” (GONZÁLES, 1992, p. 310).

Heresia Monotelista: Heresia propagada pelo patriarca Sérgio de Constantinopla e alguns bispos que não aceitaram o Concílio de Calcedônia. Na tentativa de reconciliar os bispos monofisitas, o Patriarca Sérgio propôs uma fórmula que pretensamente poderia agradar a todos: “Jesus Cristo tem em si duas naturezas; mas atua com uma só vontade, a divina ”.

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As ramificações do Cristianismo


Desde a sua fundação, o Cristianismo foi marcado por uma diversidade de povos e culturas, que obviamente geraram diferentes expressões da fé cristã e consequentemente produzir conflitos entre as comunidades. Neste contexto, as autoridades cristãs tentavam sanar as dificuldades por meio dos concílios, porém nem sempre obtinham sucesso, pois quase sempre estavam em jogo fatores doutrinários, culturais e políticos. Ser os grupos mais fortes impunham a sua visão doutrinária aos grupos menores, e a estes restava acatar a decisão da maioria ou manterem-se à margem das comunidades maiores, porém quase sempre enfrentando a pressão das grandes comunidades. Quando os grupos menores não aderiam a ideia da maioria, estes rompiam a comunhão com a Igreja Oficial e constituíam comunidades autônomas, governadas por um clero também autônomo. Neste contexto de discordâncias teológicas e políticas, surgiram as primeiras rupturas no cristianismo nascente. No que se refere às comunidades cristãs do mundo antigo, Barros (1995) aponta que elas eram organizadas por patriarcados e eram como Igrejas mães que fundavam outra mesma região. “Assim, havia a Igreja de Jerusalém, de Antioquia, de Alexandria, de Roma e, depois, de Constantinopla” (BARROS, 1995, p. 76). 

 No quadro abaixo apontamos algumas divisões que ocorrem no primeiro milênio do cristianismo:

ALGUMAS DIVISÕES NO PRIMEIRO MILÊNIO CRISTÃO


Comunidade

Ano

Observações

Igreja Oriental da Pérsia

424 d. C

“Proclamou a independência de qualquer autoridade exterior e afirmou sua lealdade ao império persa” (BARROS, 1995, p. 77).

Igreja da Síria

450 d. C

Separou-se das demais comunidades, sendo acusada pela Igreja de Roma, de professar o Monofisismo.


De acordo com Sadgrove (1996), as igrejas do Oriente se dividiram principalmente após o Concílio de Éfeso em 431 e o Concílio de Calcedônia em 451. Deste período data “a Igreja Nestoriana, centralizada historicamente na Pérsia, e as igrejas monofisistas, como a da Síria, do Egito e da Etiópia ”. Em resumo, o autor aponta que dentre as Igrejas do Oriente, “incluem-se as igrejas ortodoxas, junto com as que com estas dividem um etos espiritual e cultural derivado do Império Bizantino” (SADGROVE, 1996, p. 362). Vale ressaltar que dentro do universo religioso das Igrejas Orientais, no decorrer dos séculos, algumas aderiram a Igreja Católica Romana, apesar de continuarem a manter a própria Tradição Litúrgica e eclesiástica.

Na sequência dos fatos, apontamos o Cisma entre oriente e ocidente que aconteceu no ano de 1054, segundo milênio da era cristã. Para Barros (1995), o problema foi de disputa de poder entre os bispos de ambos os lugares. “É importante salientar que tanto quanto Igrejas do Oriente como do Ocidente caíram neste pecado, ambas se conquistaram atrelar demais pelo Estado” (BARROS, 1995, p. 78). Segundo o referido autor, tais desentendimentos “duraram séculos e acabaram provocando um excomunhão mútua entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla, junto com todas as Igrejas ortodoxas do Oriente a ela ligadas. [...] A partir daí o cristianismo do Oriente seguiu um caminho, e o do Ocidente outro ”(BARROS, 1995, p. 78).

A palavra 'Cisma' do grego skisma, significa fenda, separação. Foi traduzida para o latim como schisma, com o sentido de dissidência religiosa, separação de uma religião específica.


REFERÊNCIAS 

BACH, Marcus. As Grandes Religiões do Mundo: origens, crenças e desenvolvimento. Tradução de Marli Berg. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. BARROS, Marcelo. O sonho da paz: a unidade nas diferenças: ecumenismo religioso e o diálogo entre os povos. Petrópolis: Vozes, 1995. BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução de Mauro Gama, Cláudia Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. BERGER, Peter. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. Tradução de José Carlos Barcellos. São Paulo: Paulinas, 1985. BLECH, Rabino Benjamin. Judaísmo. São Paulo: Editora Sêfer, 2004. BOURDIEU, Pierre. A Economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998. CAZENEUVE, Jean. Sociologia do rito. Porto: Rès, s / d. COWLING, Geoffrey. Desenvolvimento do Judaísmo. Em. VV. AA. As Religiões do Mundo: do primitivismo ao século XX. São Paulo: Melhoramentos, 1996. ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo: Perspectiva, 1972. ______. O sagrado e o profano. Tradução de Rogério Fernandes. São Paulo: Martins Fontes, 1992. ENCICLOPÉDIA BARSA. Editora Encyclopaedia Britannica Consultoria Editorial Ltda. "Crucifixão", São Paulo (1994). GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O Livro das Religiões. Tradução de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia de Letras, 2000. GONZÁLES, C. Ignacio. Ele é a nossa Salvação. São Paulo: Loyola, 1992. HARLEY, David. O Povo eleito: Judaísmo. Em. VV. AA. As Religiões do Mundo: do primitivismo ao século XX. São Paulo: Melhoramentos, 1996. JOMIER. Jacques. Islamismo: História e doutrina. Trad. Luiz João Baraúna. Petrópolis: Vozes, 1992. KEPEL, Gilles. La revancha de Dios. Salamanca: Anaya & Mario Muchnik, 1995. KERR, David. O Culto do Islão. As Religiões do Mundo: do primitivismo ao século XX. São Paulo: Melhoramentos, 1996. MALINOWSKI, Bronislaw. Magia, ciência e religião. Tradução de Maria Georgina Segurado. Lisboa: 70, 1988     



Fernando Vanini de Maria.

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