A IGREJA ORTODOXA E SUAS DIFERENÇAS COM A IGREJA CATÓLICA ROMANA.


 Cumpre, primeiro, saliente que aquilo que muitos vêem como diferenças entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa não são, propriamente, distinções entre elas. A Igreja Ortodoxa, no seu conjunto, adota, regra geral, o rito bizantino, alguns casos contemporâneos de adoção de ritos ocidentais pré-1054 em Dioceses européias e americanas, mas ele não é seu exclusivo. Em outras palavras, o rito bizantino não é uma característica a diferenciar a Igreja Ortodoxa da Igreja Católica, pois esta também utiliza. A Igreja Ortodoxa é um grupo de Dioceses que está em cisma, ou seja, que saiu da comunhão com o Sumo Pontífice e chefe de toda Igreja, o Papa. Até 1054, estava unida ao Papa, reconhecendo-lhe o primado de jurisdição. Nesse ano, por força de alguns desentendimentos que já vinham de séculos e, como negar, de certa dificuldade de diálogo até mesmo de prelados católicos romanos, o Patriarcado de Constantinopla foi excomungado por Roma (e esta foi excomungada pelo Patriarca). Tais decretos, revogados pelo Papa Paulo VI e pelo Patriarca Atenágoras I em 1964, fizeram com que as Igrejas, outrora católicas, que estavam subordinadas a Constantinopla, seguissem caminhos distintos de Roma, em aberta e declarada cismática.

Antes do cisma, dizer “Igreja Ortodoxa” e “Igreja Católica” significava a mesma coisa. Tanto é assim que mesmo hoje os católicos nos consideramos possuidores da ortodoxia, da doutrina correta, e os irmãos da assim chamada Igreja Ortodoxa tratam-na como a Igreja una, santa, católica e apostólica. Na sua visão, nós, os católicos, os unidos ao Papa, é que estamos em cisma, que nos separamos da comunhão eclesiástica. Eles, os ortodoxos, acham-se os verdadeiros católicos. E nós, católicos, somos os verdadeiros ortodoxos. Usamos, pois, a expressão Igreja Ortodoxa com ressalvas, apenas para facilitar a identificação.

De qualquer modo, os ritos litúrgicos, como falamos, e as tradições, os costumes, as disciplinas canônicas, as formas de elaborar a teologia e explicar os dogmas, não são distinções entre as duas Igrejas, mas entre famílias rituais diferentes. Assim, antes de 1054, essas diferenças existiam e nunca foram problemáticas para a manutenção da unidade: os vários ritos constituiam a unidade na diversidade, a riqueza própria da única Igreja, santa e católica, herdeira da ortodoxia ensinada pelos Apóstolos, e em comunhão com o Romano Pontífice. Também depois do cisma, não biliões Igrejas em união com Constantinopla manifestaram desejo de voltar à comunhão com a Igreja Universal, abandonando o cisma e sendo recebidos com todo o amor e devoção pelo Papa.

Essas Igrejas, chamadas jocosamente pelos ortodoxos de “uniatas”, nada mais são do que uma expressão natural da Igreja do primeiro milênio, anterior ao cisma. A Igreja Oriental não deve manter-se separada de Roma por ser oriental. Seus ritos e veneráveis tradições são riquezas que a Igreja Católica Romana sempre promoveu e defendeu. Assim, pouco a pouco, como Igrejas, no início unidas ao Papa, e depois dele separado pelo cisma de Constantinopla, voltaram ao seu lugar de origem: a união com todo o cristianismo, sob a primazia do Soberano Pontífice, do Bispo da Igreja de Roma, mantendo, como é óbvio, seus costumes (entre, o de ordenar ao sacerdócio também homens casados, e o de ter patriarcas a frente de suas Igrejas autônomas), seus ritos (seu modo de celebrar em Santa Missa, suas cerimônias, seu calendário litúrgico, sua língua litúrgica etc).

Muitas igrejas, porém, continuam sem cisma. Evidentemente, como estão separados de Roma desde 1054, não puderam experimentar o sadio e desenvolvimento natural dogmático - que não importa em evolução de doutrina, mas em aprofundamento e explicitação da mesma doutrina de uma vez por todas revelada aos Apóstolos. Todos os dogmas declarados posteriormente ao cisma, todos os entendimentos da Revelação, não tiveram o mesmo realce entre os ortodoxos. Da mesma maneira, certas matérias canônicas como que “se congelaram” entre elas, não se permitem qualquer modificação em leis que são, essencialmente, humanas, derivando do mero direito eclesiástico.

Desse modo, não creem os ortodoxos na Imaculada Conceição da Santíssima Virgem (ao menos não como dogma, pois alguns teólogos sustentam a possibilidade da concepção sem pecado de Maria), e, claro, nas chamadas causas do cisma: um processão do Espírito Santo do Pai e do Filho (sustentam que procede apenas do Pai), e o primado de jurisdição do Papa (considera que seu primado é de honra somente e, que, aliás, foi perdido pelo “nosso” cisma). Além disso, certas distinções que eram apenas de rito (ou seja, diferenças sadias e acidentais entre o rito romano e o rito bizantino) acabaram, para alguns, por se tornar distinções doutrinárias: por isso, a maioria das Igrejas Ortodoxas considera erros doutrinários certas cerimônias e usos do Ocidente (como o pão ázimo na Eucaristia). Desenvolveu a Igreja Ortodoxa, outrossim, A Igreja Católica não tem esforços para trazer de volta à comunidade dos irmãos ortodoxos. E isso desde 1054! Os concílios (como o de Florença) foram convocados com o fito específico de reestabelecer os laços de comunhão com a Igreja de Constantinopla. Envio de missionários, reuniões, simpósios, conversas, tratativas, sempre foram empreendidas pelos diversos Papas nesse sentido, os quais, aliás, louvaram as tradições preservadas nas Igrejas Ortodoxas, e consideraram as Igrejas Orientais já em comunhão com Roma como verdadeiras pontes por onde os ortodoxos vir a Roma (infelizmente, muitos ortodoxos entendream como Igrejas Orientais Católicas, “uniatas”, como uma afronta, um desrespeito, dado que continuavam orientais, com suas próprias tradições, mas com e sob o Papa de Roma).

Não obstante, a Igreja Católica não foi despida de sua unidade com o cisma dos ortodoxos. A unidade é uma sua característica essencial. Deixando de ser una, uma Igreja Católica deixaria de ser Igreja e, como tal, como promessas de Cristo foi em vão, tendo as portas do inferno sobre ela prevalecido. Pelo contrário, mesmo com membros e Dioceses inteiras abandonando o barco de Pedro, a Igreja Católica segue a mesma, una e única. Os que a deixam é que se separam, como foi o caso dos que recebem a chamar-se ortodoxos, um despeito, entretanto, de conservarem inúmeros elementos de santificação, sinais da verdadeira Igreja (os sacramentos dos ortodoxos são válidos, suas Missas são verdadeiras , possuem uma Sucessão Apostólica, e crêem em muitas verdades católicas). A verdadeira Igreja ortodoxa é a Igreja Católica Apostólica Romana. Só ela é uma, santa, católica, apostólica, continuadora da missão de Cristo, fundada por Ele. Os ritos ancestrais praticados pelos ortodoxos são católicos de direito: já eram praticados nos tempos em que estavam unidos a Roma e continuam a ser praticados, dentro da Igreja Católica, pelos denominados “uniatas”.

É preciso, outrossim, não confundir as chamadas Igrejas Ortodoxas com as Igrejas que tinham se separado antes de 1054 por ocasião das heresias nestoriana e monofisita. São estas Igrejas, igualmente, orientais, e, como os de Constantinopla (e as Igrejas com ela em comunhão), consideram-se “ortodoxos” (daí serem conhecidas, essas nestorianas e monofisitas, como “Antigas Igrejas Orientais Ortodoxas”). Também muitas Igrejas voltaram do nestorianismo e do monofisismo e buscaram reavivar sua comunhão com Roma, mantendo os ritos e costumes: são os católicos coptas, armênios, siríacos, malankares, caldeus e malabares.

Que o testemunho das Igrejas Orientais Católicas demonstre que é possível ser plenamente oriental, sem abrir mão de suas sadias tradições, suas teologias, seus costumes, seus ritos, e, ainda assim, estar com o Papa e sob sua jurisdição.


Fernando vanini de maria

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

"A leitura abre as janelas do entendimento e desperta do sono a sabedoria"