DOUTRINA DA IGREJA SOBRE A CREMAÇÃO.

 




Muitas  são as pessoas que morrem e têm como último pedido que seu corpo seja cremado. É muito bom ver as pessoas que cuidam do exterior e do interior. O cuidado com si mesmo é importante e recomendável pelo apóstolo Paulo, pois somos templos do Espírito Santo (cf. 1Cor 6,19), mas é claro que devemos ter cuidado com a vaidade!
Deus mora no ser humano, habita cada pessoa. A vida é dom divino, assim como o corpo também o é. E porque Deus mora na pessoa humana, cada homem deve, com gratidão, zelar pela vida e pelo corpo.
Com a morte da pessoa, o cuidado com ela continua?
Sim, deve continuar. A dignidade e o respeito pelo corpo do ser humano estão presentes na Sagrada Escritura, pode-se verificar que, desde o Antigo Testamento, os homens eram nascidos em sepulturas (Gn 23,4), inclusive Abraão quis para sua esposa “a melhor sepultura” (23,6). Já no Novo Testamento, nosso Senhor Jesus Cristo foi colocado num sepulcro novo de José de Arimateia (Lc 23,51-53).
Posição da Igreja
Na verdade, a Igreja não é contra a cremação; ao contrário, até a permite. Há casos em que a cremação é necessária devido a alguma doença grave do falecido ou no caso de ele ter morrido para o seu país e a família não teve as condições de transporte imediatamente o corpo. Há também casos em que uma pessoa desejava mesmo ser cremada.
No entanto, uma coisa precisa ficar clara: a cremação não deve ter fins supersticiosos, nem de uma coisa que não condiz com a fé católica. O Catecismo nos ensina: “A Igreja permite a cremação, a não ser que esta ponha em causa a fé na ressurreição dos corpos” (n. 2301).
Às vezes, alguns filmes apresentam cenas muito emocionantes, quando o ator espalha as cinzas da pessoa amada como se a presença dela fosse ficar por ali vagando. Essa não é a nossa fé. Como católicos cristãos, nossa fé é de ressurreição. Quando se faz a opção pela cremação, seja por um pedido da pessoa ou por questão de saúde, tal atitude não deve negar a fé na ressurreição.
Mas quando se fala de cremação do corpo, algumas pessoas pensam que é um pecado, já que o corpo é templo do Espírito. “A Igreja é contra esses que desejam ter o corpo cremado”.
1. Na maior parte de sua história, a Igreja Católica somente inicia o enterro como destino do corpo após a morte, vendo que esta seria a prática melhor para representar a esperança na ressurreição.
2. Principalmente após a revolução francesa, no século XVIII, a Igreja intensificou a proibição de cremarem os corpos dos cristãos, pois, durante aquele período houve uma grande campanha contra a fé cristã, propagando a cremação dos corpos num contexto onde se queria destruir a fé na vida eterna e, principalmente, onde se queria destruir a doutrina da Igreja Católica sobre a vida após a morte.
3. O Concílio Vaticano II deu novas orientações para os católicos que desejassem ter seus corpos cremados após a morte. A Igreja entende que a cremação, em muitas hipóteses, se faz necessária, principalmente em lugares de grande população, onde não há espaço suficiente para o sepultamento dos corpos.
4. Porém, mesmo orientando que a cremação é uma possibilidade digna de destino dos corpos dos católicos após a morte, uma Igreja ensina que asas não podem ser espalhadas em matas, no mar, divididas ou mesmo mantidas em casa, mas sim devem ser guardadas num lugar sagrado e aprovado pela Igreja, seja nos cemitérios ou espaços criados criados para este fim.
5. A conservação das cinzas num lugar sagrado é importante para manter a memória dos fiéis falecidos pelos seus familiares. É importante ter um lugar onde se pode reverenciar e rezar a memória daqueles que caminharam entre nós e agora vivem no céu, na morada do Eterno Pai, principalmente no dia de Finados, onde fazemos memória de todos os fiéis falecidos. Ir um local onde se puder acender uma vela ou depositar uma flor é importante para não afastar a memória dos falecidos da gravação dos pais e da comunidade cristã.
6. Porém, mesmo orientando que uma cremação pode ser feita, a Igreja conselha que, onde seja possível o sepultamento dos corpos, que assim seja feito, como recordação do Cristo, cujo corpo foi colocado no sepulcro, e memória também de todos os primeiros cristãos mártires, incluídos eram corpos eram sepultados nas catacumbas, sendo mais comum como de São Calixto, em Roma.
Instrução Ad resurgendum cum Christo
a propósito da sepultura dos defuntos
e da conservação das cinzas da cremação.


1. Para ressuscitar com Cristo, é necessário morrer com Cristo, isto é, “exilarmo-nos do corpo para irmos habitar junto do Senhor” (2 Cor 5 ) Com a Instrução Piam et constantem, de 5 de Julho de 1963, então então chamado Santo Ofício, diminuída que “seja fielmente conservado o traje de enterrar os cadáveres dos fiéis”, informaando, ainda, que a cremação não é “em si mesma contrária à religião cristã”. Mais ainda, afirmava que não devem ser negados os sacramentos e como exéquias que pediram para ser cremados, na condição de que tal escolha não seja querida “como a negação dos dogmas cristãos, ou num espírito sectário, ou ainda, por ódio contra a religião católica e à Igreja”. eclesiástica foi consignada no Código de Direito Canónico (1983) e no Código dos Cânones da Igreja Oriental (1990).
Entretanto, a prática da cremação difundiu-se bastante em muitas Nações e, ao mesmo tempo, difundem-se, também, novas ideias contrastantes com a fé da Igreja. Depois de a seu tempo se ter ouvido a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, o Pontifício Conselho para os Textos Legislativos e numerosas Conferências Episcopais e Sinodais dos bispos das Igrejas Orientais, uma Congregação para a Doutrina da Fé considere oportuno publicar uma nova Instrução, a fim de repôr as razões doutrinais e pastorais da preferência a dar à sepultura dos corpos e, ao mesmo tempo, dar normas sobre o que diz respeito à conservação das cinzas no caso da cremação.
2. A ressurreição de Jesus é a verdade culminante da fé cristã, anunciada como parte fundamental do Mistério pascal desde as origens do cristianismo: “Transmiti-vos em primeiro lugar o que eu mesmo recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e apareceu a Pedro e depois aos Doze ”(1 Cor 15, 3-5).
Pela sua morte e ressurreição, Cristo libertou-nos do pecado e deu-nos uma vida nova: “como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, também nós vivemos uma vida nova” (Rom 6, 4). Por outro lado, Cristo ressuscitado é princípio e fonte de nossa ressurreição futura: “Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos morreram… do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos serão restituídos à vida” (1 Cor 15 , 20-22).
Se é verdade que Cristo nos ressuscitará “no último dia”, é também verdade que, de certa forma já ressuscitámos com Cristo. De facto, pelo Baptismo, estamos imersos na morte e ressurreição de Cristo e sacramentalmente assimilados a Ele: “Sepultados com Ele no baptismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus, que O ressuscitou dos mortos” (Col 2 , 12). Unidos a Cristo pelo Baptismo, participamos já, realmente, na vida de Cristo ressuscitado (cf. Ef 2, 6).
Graças a Cristo, uma morte cristã tem um significado positivo. A liturgia da Igreja reza: “Para os que crêem em vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma; e, desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna ”. Na morte, o espírito separa-se do corpo, mas na ressurreição Deus torna a dar vida incorruptível ao nosso corpo transformado, reunindo-o, de novo, ao nosso espírito. Também nos nossos dias a Igreja é chamada a anunciar a fé na ressurreição: “A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: acreditando nisso somos o que professamos”. 
3. Seguindo a antiga tradição cristã, a Igreja recomenda insistentemente que os corpos dos defuntos sejam sepultados no cemitério ou num lugar sagrado. 
Ao lembrar a morte, sepultura e ressurreição do Senhor, mistério à luz do qual se manifesta o sentido cristão da morte, a inumação é, antes de mais, a forma mais idónea para exprimir a fé e a esperança na ressurreição corporal. 
A Igreja, que como Mãe acompanhou o cristão durante a sua peregrinação terrena, oferece ao Pai, em Cristo, o filho da sua graça e entrega à terra os restos mortais na esperança de que ressuscitará para a glória.
Enterrando os corpos dos fiéis defuntos, a Igreja confirma a fé na ressurreição da carne, e deseja colocar em relevo a grande dignidade do corpo humano como parte integrante da pessoa da qual o corpo condivide a história. Não pode, por isso, permitir comportamento e ritos que envolvam concepções erróneas sobre a morte: seja o aniquilamento definitivo da pessoa; seja o momento da sua fusão com a Mãe natureza ou com o universo; seja como uma etapa no processo da reincarnação; seja ainda, como a libertação definitiva da “prisão” do corpo.
Por outro lado, a sepultura nos cemitérios ou noutros lugares sagrados responde à piedade e ao respeito devido aos corpos dos fiéis defuntos, que, mediante o Baptismo, se responsável pelo templo do Espírito Santo e dos quais, “como instrumentos e vasos, se serviu santamente o Espírito Santo para realizar tantas boas obras ”. 
O justo Tobias é elogiado pelos méritos alcançados junto de Deus por ter enterrado os mortos, e a Igreja considera uma sepultura dos mortos como uma obra de misericórdia corporal. 
Ainda mais, a sepultura dos corpos dos fiéis defuntos nos cemitérios ou novos lugares sagrados favorece a memória e a oração pelos defuntos da parte dos seus familiares e de toda a comunidade cristã, assim como a veneração dos mártires e dos santos.
Mediante a sepultura dos corpos nos cemitérios, nas igrejas ou em lugares específicos para tal, uma tradição cristã conservou o comunhão entre os vivos e os mortos e opõe-se à tendência a esconder ou privatizar o acontecimento da morte e o significado que ela tem para os Cristãos.
4. Onde por razões de tipo higiénico, económico ou social se escolhe uma cremação; escolha que não deve ser contrária à vontade explícita ou razoavelmente presumível do fiel defunto, a Igreja não há razões doutrinais para impedir tal práxis; uma vez que a cremação do cadáver não toca o espírito e não impede à onipotência divina de ressuscitar o corpo. Por isso, tal facto, não implica uma razão objetiva que negue a doutrina cristã sobre a imortalidade da alma e da ressurreição dos corpos. 
A Igreja continua a preferir a sepultura dos corpos uma vez que assim se evidencia uma estimativa maior pelos defuntos; todavia, a cremação não é proibida, “a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã”. 
Na ausência de motivações contrárias à doutrina cristã, a Igreja, depois da celebração das exéquias, acompanha a escolha da cremação seguindo as referências litúrgicas e pastorais, evitando qualquer tipo de escândalo ou de indiferentismo religioso.
5. Quaisquer que sejam as motivações legítimas que levaram à escolha da cremação do cadáver, como defunto devem ser conservadas, por norma, num lugar sagrado, isto é, no cemitério ou, se for o caso, numa igreja ou num lugar especialmente dedicado a esse fim determinado pela autoridade eclesiástica.
Desde o início os cristãos desejaram que os seus defuntos objecto de orações e de memória pela parte da comunidade cristã. Os seus túmulos assumiram-se os lugares de oração, de memória e de reflexão. Os fiéis defuntos fazem parte da Igreja, que crê na comunhão “dos que peregrinam na terra, dos defuntos que estão levando a cabo a sua purificação e dos bem-aventurados do céu: formam todos uma só Igreja”.
A conservação das cinzas num lugar sagrado pode contribuir para que não se corra o risco de afastar os defuntos da oração e da gravação dos parentes e da comunidade cristã. Por outro lado, deste modo, se evita a possibilidade de esquecimento ou falta de respeito que podem acontecer, sobretudo depois de passar a primeira geração, ou então cair em práticas inconvenientes ou supersticiosas.
6. Pelos motivos causados, a conservação das cinzas em casa não é consentida. Em casos de circunstâncias gravosas e excepcionais, dependendo das condições culturais de carácter local, o Ordinário, de acordo com a Conferência Episcopal ou o Sínodo dos Bispos das Igrejas Orientais, pode autorizar a conservação das cinzas em casa. Como cinzas, no entanto, não podem ser dividias entre os vários núcleos familiares e deve ser sempre assegurado o respeito e como condições de conservação das mesmas
7. Para evitar qualquer tipo de equívoco panteísta, naturalista ou niilista, não seja permitida a dispersão dasas no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar. Exclui-se, ainda a conservação das cinzas cremadas sob uma forma de registro comemorativa em peças de joalharia ou em outros objetos, tendo presente que para tal modo de proceder não podem ser retornados de ordem higiénica, social ou econômica a motivar a escolha da cremação .
8. No caso do defunto ter claramente manifestado o desejo da cremação e a dispersão da mesma natureza por razões contrárias à fé cristã, devem ser negadas como exéquias, segundo o direito. 
O Sumo Pontífice Francisco, na Audiência concedida ao abaixo-assinado, Cardeal Prefeito, em 18 de Março de 2016, aprovou a presente Instrução, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação em 2 de Março de 2016, e ordenou a sua publicação.
Roma, Congregação para a Doutrina da Fé, 15 de Agosto de 2016, Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria.


Fernando Vanini de Maria.

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