A Santíssima Trindade é um dogma da Igreja Católica, uma proposição teológica de crença obrigatória; definitiva e imutável. Assim sendo, é absolutamente verdadeiro, para todo o cristão, a existência de um único e mesmo Deus; criador do céu e da Terra e de tudo que nela há. Criador das coisas visíveis e invisíveis.
Sobre a Santíssima Trindade, o Concílio de Latrão (1215) assim manifestou-se:
“Firmemente cremos e simplesmente confessamos que apenas um é o Deus Eterno, Verdadeiro, Imenso, Imutável, Incompreensível, Onipotente e Inefável; Pai, Filho e Espírito Santo; três pessoas certamente, mas uma só essência, substância ou natureza absolutamente simples. O Pai não vem de ninguém, O Filho apenas do Pai, e o Espírito Santo de Um e de Outro, sem começo, sempre, e sem fim” (Dz.428).
Esse Deus, que é eternamente um único e mesmo Deus, possui três Pessoas, eternamente, unidas na Sua constituição.
As três Pessoas da Santíssima Trindade correspondem às processões divinas imanentes ou ” ad intra”. O Verbo de Deus é o modo como Deus conhece e ama a Si mesmo. O Verbo de Deus é o princípio da sabedoria eterna presente na criação do mundo. O Verbo divino é o principio através do qual tudo foi feito, princípio que sustenta toda a realidade criada e sem ele, nada foi feito. O Verbo é – assim – a palavra de Deus um engedramento eterno do entendimento divino.
O Deus Pai, o Deus Filho e o Espírito Santo formam – portanto – uma unidade eterna, como revelada pelos evangelhos. São João evangelista, observa “E estes três são um” (lJo 5,7)
As Três Pessoas encontram-se unidas em substância.Cada uma das três Pessoas da Santíssima Trindade é plenamente Deus.Sobre essa proposição manifestou-se o Concílio de Florença:”(…)o Pai está todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo inteiro no Pai, todo inteiro no Filho .O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho, é o mesmo Deus único” (ver Catecismo da Igreja Católica (c.245)).
Essa última definição do credo católico :a afirmação teológica segundo a qual “o Espírito Santo procede do Deus-Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho, é o mesmo Deus único, constitui o principal ponto de divergência com a chamada Igreja ortodoxa. Trata-se da controvertida questão do “Filioque”. Para a Igreja oriental, o Espírito Santo provém unicamente do Deus-Pai, “através” do Deus Filho, e não “do” Deus Filho; sendo “com” Ele igualmente cultuado. Apenas o Deus-Pai não procede de ninguém.
O Concilio de Toledo assim pronunciou -se sobre a questão:
“O Espírito Santo, que é a terceira Pessoa da Trindade, é Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substância e também da mesma natureza. Contudo, não se diz que Ele é somente o Espírito do Pai, mas, ao mesmo tempo, o Espírito do Pai e do Filho”.
Não há nenhum rebaixamento no grau de adoração da Terceira Pessoa da Trindade nessa definição católica, como alegam os ortodoxos; isto porque, quando a doutrina católica afirma ser o Espírito-Santo também originário do Deus Filho, ela obedece aos dizeres do próprio evangelho, quando o evangelista João 1 diz que ” No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”
Se o Verbo “é” Deus – uma processão intelectiva e volitiva de Deus – o Espírito Santo necessáriamente deve provir Dele. Além disso, a Santíssima -Trindade foi uma verdade teológica revelada pelo Deus-Filho, pelo Cristo.
Antes da vinda do Cristo, não se cultuava a Deus na forma trinitária, portanto foi com Nosso Senhor Jesus Cristo que a Trindade nos foi revelada. São Paulo observa na Epístola aos Romanos:
“a revelação do mistério que foi ocultado durante muitas gerações, mas está agora revelado e, por meio dos escritos proféticos, tornou-se conhecido a todas as nações” (Romanos 16:25-26).
A complexa idéia do Deus triúno é objeto de muita controvérsia, e motivo para o surgimento de várias heresias. A compatibilização de distinções na unidade divina, parece ser o centro das dificuldades geradas na doutrina cristã.
O que diferencia as três Pessoas da Santíssima Trindade são apenas as relações estabelecidas entre elas, como afirma o catecismo católico. O que distingue as três Pessoas da Santíssima Trindade é, portanto, o relacionamento existente entre elas jamais a substância. As três Pessoas compartilham eternamente a mesma substância divina. Nenhuma das Pessoas é maior em poder, glória e eternidade.
Exemplos neotestamentários desse relacionamento entre as Pessoas da Santíssima Trindade, encontramos em algumas passagens como em João :
” NÃO se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. 2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. 3 E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. 4 Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho. 5 Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? 6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. 7 Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. 8 Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. 9 Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? 10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. 11 Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. 12 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. 13 E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. 14 Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. 15 Se me amais, guardai os meus mandamentos. 16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; 17 O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. 18 Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. 19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. 20 Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. 21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. ” Jo(14; 2 — 21):
A segunda Pessoa da Trindade, o Deus-Filho, foi definida pelo I Concílio de Nicéia(325 d.C.) como possuidor de duas naturezas e duas vontades, unidas; mas imiscíveis.
O Filho de Deus é, plenamente, homem, e plenamente Deus; consubstancial ao Pai. (“homousia”);participe, portanto, da mesma substância do pai.
Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo as definições do Concílio de Nicéia – em resposta à heresia de Ário – é definido como “Deus de Deus”,”Luz da Luz”,”Deus verdadeiro do Deus verdadeiro”.
O Cristo é as primícias dos que dormem; ele é – assim – a imagem do homem futuro.
O Jesus Cristo é, portanto, verdadeiramente, homem e verdadeiramente Deus; gerado porém jamais criado. O Deus Filho é um engendramento de Deus. Ele é o Verbo, incriado, através do qual tudo foi feito. O Cristo é o Único Filho de um único Deus que de uma única vez redime toda a humanidade.
Diz o Novo Testamento:”O qual, sendo de condição divina, não reteve avidamente o fato de ser igual a Deus, mas se despojou de si mesmo, tomando a condição de servo, fazendo-se semelhante aos homens e aparecendo em seu porte como homem…” (Fil 2,6-7). Diz também São João, evangelista logo ao iniciar seu evangelho “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós…” (Jo 1,14).
Cada uma das três pessoas da Santíssima Trindade deve ser cultuada igualmente, objeto da mesma adoração.
Todas as três pessoas possuem igual divindade. Não há hierarquia na Santíssima Trindade. O próprio Cristo afirmou inquestionavelmente: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30); além de ordenar aos apóstolos que levassem seus ensinamentos bem como a ministração do batismo em nome das três pessoas (Mt 28, 19).
A doutrina católica da Santíssima Trindade pode assim ser entendida:
“A fé católica é esta: que veneremos o único Deus na Trindade, e a Trindade na unidade, não confundindo as pessoas, nem separando a substância: pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas uma só é a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, co-eterna a majestade” (ver-Catecismo da Igreja Católica, no 266).
O III Concílio de Constantinopla (680-681), dirimiu as dúvidas existentes sobre as duas vontades do Cristo questão relacionada a duas proposições heréticas – o monofisismo de Eutiques e, posteriormente, monotelismo de Sérgio, patriarca de Constantinopla – “Proclamamos igualmente, conforme os ensinamentos dos Santos Padres, que não existem também duas vontades físicas e duas operações físicas de modo indivisível, de modo que não seja conversível, de modo inseparável e de modo não confuso. E estas duas vontades físicas não se opõe uma a outra como afirmam os ímpios hereges…” (Dz. 291 e Dz. 263-288).
Quando Deus atua, são sempre as Três Pessoas que atuam; contudo, cada uma realiza uma obra específica conforme suas propriedades. O Cristo salva e julga, o Espírito Santo anima a vida e conduz a Igreja transmitindo as graças de Deus nos sacramentos e as demais graças solicitadas pelos fieis. Diz assim o catecismo da Igreja Católica: “Pois da mesma forma que a Trindade não tem senão uma única e mesma natureza, assim também não tem senão uma única e mesma operação (…) Contudo, cada pessoa divina opera a obra comum segundo a sua propriedade pessoal” (ver Catecismo da Igreja Católica, no 258).
O Deus Pai é o criador do mundo; o Deus Filho é a salvação ofertada por Deus aos homens, através da segunda Pessoa da Trindade que há de vir no Fim dos Tempos para julgar os vivos e os mortos. O Cristo é a Nova e eterna aliança de Deus para com os homens celebrada nele mesmo. O Filho de Deus é o modo como Deus revela-Se aos homens na plenitude dos tempos.
O Espírito Santo anima a vida, conduz a Igreja, e unge seus filhos com Seus dons de cura, sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade, e temor de Deus.
A Santíssima Trindade é uma verdade de fé, um mistério – objeto de crença e não de entendimento pleno. Mais importante que destrinchar o mistério da Santíssima Trindade é praticar a caridade e o amor ao próximo. Assim diz oficialmente a Igreja de Roma.
Fernando Vanini de Maria