FILIOQUE: PARTEII

 


UM, NÃO, DOIS PRINCÍPIOS DO ESPÍRITO SANTO

Fócio pensava que o filioque significava que o Espírito Santo procede de dois princípios, mas, uma vez que o Pai e o Filho são um em tudo em que não se distinguem por oposição de relação e não são relativamente opostos em serem o princípio do Espírito Santo, Eles são o único princípio a partir do qual o Espírito Santo procede, como São Tomás de Aquino, o príncipe dos teólogos, demonstra. O termo princípio do Espírito Santo é um nome substantivo (nome substantivo é uma forma com coexistente suppositum), porém com isso não dizemos que há dois princípios porque, ainda que o Pai e o Filho sejam duas fontes supposita de infusão, Eles são uma única forma – Deus. Usamos “princípio” em um sentido indeterminado quando confessamos que o Pai e o Filho são um e único princípio do Espírito Santo.

 SE, DEVIDO AO FILIOQUE, A IGUALDADE DO ESPÍRITO SANTO EXIGE QUE ELE CAUSE O FILHO.

O mesmo patriarca de Constantinopla pensava que, se ambos Pai e Filho infundem o Espírito Santo, então o Espírito Santo, a fim de que tenha igualdade e unicidade com o Pai tal como o Filho as tem, deveria, com o Pai, originar o Filho (Mystagogy, §4, p. 102). Predicamos, ao contrário, similitude entre as Pessoas divinas na unicidade da essência, não nas “propriedades relativas”.

 CONFUNDE-SE O FILIOQUE COM AS PROPRIEDADE PESSOAIS ÚNICAS DO PAI E DO FILHO?

Fócio ecoa o ensinamento dos Padres capadócios de que cada ιδιος real divino é comum a todas três pessoas ou próprio a uma pessoa (Mystagogy, §19). Mas ele se equivocou ao pensar que o filioque atribui ao Filho propriedade distinta da do Pai e que, portanto, confunde as propriedades hipostáticas do Pai e do Filho, destruindo a μοναρχία do Pai (Mystagogy, §10). Há três propriedades pessoais, considerando propriedades no sentido estrito de uma relação de origem que constitui uma pessoa divina: a propriedade do Pai – paternidade – é a γέννησις (geração); a propriedade do Filho é a filiação; e a propriedade do Espírito Santo é a processão, ou seja, a infusão passiva. Essas são propriedades pessoais distintas porque são instâncias de oposição relativa: o Pai para o Filho, o Filho para o Pai, e o Espírito Santo para o Pai e o Filho – pois, se o Espírito Santo tivesse uma relação de oposição apenas com o Pai, então Ele não se distinguiria do Filho, criando-se um monstro semissabeliano. A infusão ativa é uma relação, não uma propriedade. Não é uma propriedade pessoal do Pai, consoante Fócio, porque ela não se opõe relativamente à paternidade ou à filiação; a infusão ativa, portanto, é comum a Pai e Filho. O filioque, assim, não é lesivo à monarquia do Pai.

 A PROCESSÃO PERFEITA A PARTIR DO PAI TORNA O FILIOQUE SUPÉRFLUO?

O que dizer da objeção fociana de que o Espírito Santo procede perfeitamente do Pai, tornando Sua processão do Filho supérflua? (Mystagogy, §7). Acabamos de ver que, longe de ser supérfluo, o filioque é necessário, já que o poder do Pai e do Filho é numericamente uno e o que quer que seja do Pai tem também de ser do Filho, a menos que se oponha à filiação, razão pela qual o Filho não procede Dele próprio, mas, ao contrário, do Pai.

 ELE HÁ DE RECEBER DO QUE É MEU

Fócio disse que (“Ele há de receber do que é meu”) não significa que o Espírito Santo recebe a divina substância do Filho (Mystagogy, §29), mas que o Espírito Santo recebe a divina substância do Pai somente (Dele que é Meu, Mystagogy, §22). Como bem veremos abaixo, contudo, isso contraria a exegese de ilustres hierarcas, como Santo Hilário de Poitiers (Doutor), Santo Atanásio de Alexandria (Doutor), São Basílio o Grande (Doutor), Santo Epifânio de Salamina (Doutor) e Santo Agostinho de Hipona (Doutor da Graça), que interpretaram João 16:14 no sentido de que o Espírito Santo recebe a divina oυσία do Filho. Voltemo-nos agora para o que os próprios divinos Pais escreveram.

Fernando Vanini de Maria



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