O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA OU RECONCILIAÇÃO.


 Para aqueles que professam a sua fé em Deus, dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, o Sacramento da Penitência não é algo totalmente desconhecido. Sabemos que esse Sacramento também pode ser chamado de Sacramento do Perdão, da Reconciliação, da Confissão, da Conversão.

Quem se aproxima dele, obtém da misericórdia de Deus o perdão das ofensas feitas a Ele. Ao mesmo tempo em que acontece a reconciliação com Deus, acontece a reconciliação com a Igreja. Se, muitos conhecem a sua finalidade, um número não tão significativo desconhece a sua origem e desenvolvimento histórico. Por isso, neste artigo, não vamos nos aprofundar na questão catequética, senão na questão histórica.

E, para bem compreendermos como se originou o Sacramento da Penitência, precisamos voltar para os primeiros séculos da Igreja. Naquele tempo, havia duas formas de ação com relação aos cristãos pecadores: a primeira era a forma preventiva; e, a segunda, a forma curativa.

Forma preventiva e forma curativa

A primeira estava sustentada na firme aspiração, por parte dos fieis e dos seus líderes, de permanecerem íntegros e irrepreensíveis, afastando do seio da comunidade qualquer motivo que pudesse levar ao pecado. Assim, os membros da comunidade aconselhavam e exortavam uns aos outros. Além disso, rezavam continuamente em intenção da comunidade. Os que estavam mais firmes na fé animavam aqueles que estavam arrefecidos. Até hoje podemos notar esse lindo costume no nosso meio cristão.

A segunda forma, a curativa, por assim dizer, era mais penosa. O pecador era obrigado a se retirar do meio da comunidade. Tal atitude intentava cortar o mal pela raiz, evitando que ele se alastrasse pela comunidade e contaminasse os outros membros. Essa prática mais pesada se encaixaria muito bem no ditado popular que comumente escutamos nos dias de hoje: “uma fruta podre precisa ser retirada do cesto, caso contrário, poderia estragar as frutas saudáveis”.

Como eram aplicadas as penitências nos primeiros séculos da Igreja?

Em geral, até o sexto século, vigorava a seguinte norma: todos os pecadores graves deveriam, por princípio, ser submetidos à penitência canônica, ou seja, àquelas normas disciplinadoras da Igreja. Já, os pecados leves, eram perdoados por meio da oração, pelo jejum, pela esmola, pelas boas obras. Essas, também, são formas de penitência, porém, não canônicas. Cabia ao bispo decidir se a culpa devia ser submetida à penitência canônica (mais rigorosas) ou não. Além disso, cabia ao bispo estabelecer o modo e a duração da mesma.

Acontece que, havia nessa época, certa dificuldade de distinção entre o que poderia ser considerado pecado grave e o que poderia ser considerado um pecado mais leve. O fato é que, esse ato de pedir perdão e de aceitar a penitência estabelecida pelo bispo era, normalmente, um ato litúrgico. Cabe ressaltar que, esse ato muitas vezes vexatório, não visava humilhar o penitente, e sim tornar essa separação entre o pecador e a comunidade visível para todos. Esse procedimento tinha o intuito de fazer com que toda a comunidade ajudasse o irmão pecador no seu processo de conversão e de retorno.


O rigor das primeiras penitências.

Não raras vezes as penitências eram duras. Os penitentes eram submetidos a rigorosos jejuns, vestir cilícios, dormir no chão, fazer prolongadas orações, fazer peregrinações penitenciais aos túmulos dos mártires, abster-se de comer carnes, transportar e sepultar os defuntos. Às vezes, o penitente era obrigado a permanecer na porta da igreja, sem poder entrar, suplicando a oração dos irmãos. Era permitido que eles ouvissem a Palavra de Deus na porta da Igreja, porém, deviam retirar-se no momento da celebração eucarística.

A duração dessas penitências poderia variar conforme os tempos e os lugares. Alguns bispos defendiam a duração de três anos, outros sete, outros ainda, vinte anos. Em alguns casos, a penitência poderia ser imposta por toda a vida, cessando com a morte do penitente. Ao final do período penitencial, na maioria dos casos o cristão pecador arrependido era reconciliado mediante um rito litúrgico solene o qual contava com a presença de toda a comunidade. Esse rito significava a reconciliação do pecador com a Santa Igreja.

Podemos perceber, então, que houve uma evolução bastante significativa na prática do Sacramento da Penitência. No próximo artigo, continuaremos apresentando esse processo de evolução até chegar ao modo como ele é realizado nos dias de hoje.

A partir do sexto século, uma nova modalidade de penitência encontrou grande fluidez na sua difusão dentro da comunidade cristã: a chamada penitência tarifada. Embora, no início, essa modalidade tenha sofrido certa resistência por parte de alguns bispos, os quais levaram o tema para ser discutido nos concílios da época, com o passar do tempo ela passou a ser praticada pela Igreja. Tal modalidade permitia uma aproximação menos traumática do cristão pecador com a prática penitencial. Essa forma mais ponderada de se viver o sacramento, fez com que fosse bem aceita pelos fiéis, e, por isso, sua prática se alastrou com bastante naturalidade. 

O rito penitencial tornou-se mais privado uma vez que o pecador se apresentava diante do sacerdote somente e, acusando-se dos seus pecados, recebia a penitência conforme o pecado praticado. Pode-se dizer que essa modalidade da penitência tarifada possuía grande semelhança com o que se tem nos dias de hoje. A diferença se deve ao fato de que, depois de confessar os seus pecados, o pecador recebia a sua penitência, e, após cumprir a penitência imposta, ele retornava para receber a absolvição dos pecados.

Outra diferença refere-se ao modo como a penitência era aplicada. Para cada tipo de pecado, havia uma determinada penitência segundo as tarifas previamente estabelecidas. Havia, portanto, uma lista de tarifas registradas nos chamados “livros penitenciais”. Tratava-se de manuais para uso dos confessores que continha o elenco dos pecados e das “tarifas” correspondentes. Esses manuais, a propósito, se multiplicavam naquela época. É por isso que essa modalidade recebera o nome de penitência tarifada. Além do mais, o cristão absolvido que recaísse em pecado grave poderia novamente apresentar-se ao sacerdote para receber a penitência e a absolvição. Convém ressaltar que as penitências, ainda sim, eram bem duras.

A passagem da penitência tarifada para a forma atual

Como fora mencionado anteriormente, no início da prática da penitência tarifada, o processo se dava da seguinte maneira: o penitente se acusava dos pecados, o sacerdote impunha a penitência e, após algum tempo, o penitente retornava e recebia a absolvição. Quando esse retorno não era possível para o penitente, o sacerdote dava a absolvição logo após a confissão. O penitente, então, assumia a responsabilidade de cumprir a penitência imposta posteriormente à absolvição. Essa modalidade, que era praticada em casos especiais, tornou-se prática habitual. Dessa forma, chegamos ao que se tem nos dias de hoje.

Antes de concluir, gostaria de apresentar três convicções fundamentais a respeito do Sacramento da Penitência. Elas podem ser lidas com mais detalhes na Exortação Apostólica Reonciliatio et Paenitentia, escrita por São João Paulo II. Essa Exortação Apostólica pode ser encontrada em português no site do Vaticano.

A primeira convicção dá conta de que o Sacramento da Penitência é a via ordinária para cristão obter o perdão de seus pecados graves cometidos depois do batismo.


A segunda convicção está ligada à função do sacramento. Segundo uma antiga concepção, trata-se de um ato judicial que decorre junto de um tribunal, o tribunal da misericórdia. Além do caráter judicial, este sacramento se configura como uma espécie de terapia, possuindo, assim, um caráter medicinal. Deus quer nos curar, não nos acusar. Por isso, o Sacramento da Reconciliação é um sacramento de cura.

A terceira e última convicção envolve a necessidade de atos do penitente. O pecador deve estar sempre em busca de uma retidão e uma limpidez da consciência. Ele precisa perceber que o pecado contrasta com a norma que Deus inscreveu no íntimo de casa homem. Por isso, ele deve ser capaz de reconhecer: “o pecado existe”, “eu pequei”.

Caso você reconheça que pecou, busque um sacerdote o quanto antes e acuse-se de seus pecados. Somente ele pode absolver você de todos os seus pecados.

Fernando Vanini de Maria

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