O TRATADO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA POSSUÍ APROVAÇÃO DA SANTA SÉ ?

 


Mas será a Santa Escravidão uma doutrina certa, segura, aprovada pela Igreja? É necessário responder a esta pergunta, pois o segredo parece, à primeira vista, em oposição com a doutrina da Igreja, que é sempre clara, precisa, ao alcance de todos. Sim, tal doutrina é plenamente aprovada pela Igreja. E a sua prática é plenamente conforme ao espírito do Evangelho. O Evangelho, como diz o Apóstolo, é um escândalo para os judeus e uma loucura para os gentios; como a sabedoria deste mundo – diz o mesmo Apóstolo – é loucura perante Deus. Basta averiguar que o fim desta devoção é a humildade, a renúncia de nós mesmos e o espírito de sacrifício, para se dizer que é uma doutrina bem evangélica. Deve-se desconfiar da doutrina que leva ao comodismo e afasta de Maria Santíssima; mas podemos absolutamente confiar no ensino que estimula a penitência e aproxima as almas da Santíssima Virgem. Penitência e amor de Maria – estes são dois caracteres da doutrina cristã, duas asas da alma fervorosa, dois luzeiros da verdadeira fé. Podemos ajuntar a este argumento mais um outro de grande valor: esta devoção é um meio de amor mais ardente à Mãe de Jesus, amor que a Igreja procura sempre incutir nos fiéis com grande insistência. Ora, assim sendo, já se vê que, praticando-a, estamos plenamente conformes ao ensino da Igreja.  Vamos agora citar os Sumos Pontífices, passando em silêncio numerosas aprovações de bispos e teólogos afamados, para só indicar documentos autênticos da Santa Sé.

1. Clemente VIII  (1592-1605) – Confere grande indulgência a Confraria dos escravos, Confraria dos escravos, estabelecida nos Conventos Religiosos do Hospital de Caridade, no bairro de São Germano em Paris, assim como aos que trazem consigo, e recitam a Coroinha de Nossa Senhora.

2. Gregório XV (1621-1623) – Confere igualmente indulgências aos Escravos de Nossa Senhora.

3. Urbano VIII (1623-1644) – Este Soberano Pontífice, consultado sobre as práticas de nossa devoção, especialmente aprovou tão louvável fervor e deu a 20 de julho de 1631 a bula “Cum sicut accepimus”, na qual concede grande número de indulgências aos escravos de Maria Santíssima.

4. Alexandre VII Alexandre VII (1655-1667) – Expediu uma bula, a 28 de julho de 1658, na qual, por motivo da organização da “Sociedade da Escravidão” em Marselha, no Convento dos PP. Agostinianos de Provença, acrescenta muitas outras às indulgências concedidas pelo Papa Urbano VIII aos escravos da Santíssima Virgem.

5. Pio IX(1846-1878) – É sob o seu pontificado que, a 12 de maio de 1853, se promulga em Roma o decreto que declara que os escritos do Santo eram isentos de todo erro que pudesse obstar-lhe a beatificação. 

III. Os últimos Papas

6. Pio X tinha uma singular estima à perfeita devoção, e especialmente ao Tratado da Verdadeira Devoção. Quando pensou em compor a encíclica comemorativa do Jubileu da Imaculada Conceição, este Pontífice, que muito conhecia o livro de São Luís Maria Grignion de Montfort, quis relê-lo, como confessou depois. Releu-o tantas vezes que chegou a reproduzir os pensamentos e, não raro, as mesmas expressões do santo missionário. O Procurador Geral da Companhia de Maria, numa audiência, disse ao Papa: “Vossa Santidade deseja, sem dúvida, como nós, que a Verdadeira Devoção, ensinada pelo Beato de Montfort, se espalhe cada vez mais... E há de desculpar-me se venho pedir-lhe bênçãos e especial estímulo”. Mal acabara de falar, e o Santo Padre, estendendo a mão, com um sorriso afirmativo, tomou a “súplica” escrita pelo Procurador, leu-a, e, apenas finda a leitura, tomou da pena, e escreveu em baixo estas linhas:

“Acedendo a vosso pedido, recomendamos vivamente o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, tão admiravelmente escrito pelo Beato de Montfort; e a quantos lerem este Tratado concedemos, de todo o coração, a bênção apostólica”. 27 de dezembro de 1908

Pio P.  X

Uma recomendação tão solícita e vinda de tão alto deve, necessariamente, produzir uma forte impressão nos corações católicos. Ao receber o documento supra, o Procurador disse: “Esse livrinho já fez um grande bem; recomendado agora por Vossa Santidade, ele há de fazer muito mais no futuro”. “Ele é verdadeiramente belo!”. Respondeu o Santo Padre, com convicção. Sob o pontificado de Sua Santidade Pio X foi a Santa Escravidão definitivamente organizada em associação, tanto para os sacerdotes, como para os simples fiéis. A Arquiconfraria de Nossa Senhora, cujo fim é a prática da Santa Escravidão foi ereta ,canonicamente pelo Papa Pio X a 28 de abril de 1913.

Quanto à Associação dos Padres de Maria, já existia praticamente, mas foi canonicamente organizada no Congresso Mariano de Einsideln – Suíça – 1906 – tendo como protetores os Cardeais Vannutelli e Vivès.  Pio X foi o primeiro a inscrever-se nela. Figura, pois o seu nome no cabeçalho da lista dos sacerdotes consagrados a Maria Santíssima. 

7. Bento XV. Não foi menos devoto da Santa Escravidão. A 28 de abril de 1910, por ocasião do segundo centenário do Beato de Montfort, enviou a ele uma carta autógrafa ao Superior da Congregação de Maria, na qual disse: “O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem” é um livro pequeno em tamanho, mas de uma grande autoridade, e de grande unção. Possa  ele espalhar-se mais e mais, e avivar o espírito cristão num grande número de almas! – O autor não prossegue a lista dos papas que aprovaram esta santa doutrina, porque o livro foi escrito ainda sob o pontificado de Bento XV. Não seria difícil ver a aprovação desta devoção nos papas seguintes, e sobretudo em Pio XII, que canonizou Montfort. – Nota dos Editores.

Em face dessas declarações, é forçoso concluir que a Santa Escravidão não é uma novidade, uma doutrina sem aprovação da Igreja. Ao contrário, deve dimanar, como o provamos, dos mais sagrados dogmas de nossa religião, qual conclusão lógica de premissas certas. Uma vida tão santa, os muitos milagres, e sobretudo a beatificação e a canonização de seu propagador seriam já uma prova suficiente de que a Santa Escravidão é conforme ao ensino da Igreja. É, entretanto, bom e reconfortante ouvir a suprema autoridade repetir a aprovação dada e incitar os cristãos a uma tão bela prática.

IV. O Cardeal Van Rossum

Juntemos a estes testemunhos de Pontífices as palavras do Cardeal Van Rossum, Presidente da Propagação da Fé, que, além de ser uma autoridade, é testemunho dos mais recentes e muito expressivo. “O Tratado da Verdadeira Devoção – escreve o grande purpurado – não precisa de recomendações. Entretanto, para vossa consolação, quero repetir o que tantos outros já atestaram. Ei-lo: Deste livro sai uma força misteriosa, que impele a gente à santidade. Uma leitura superficial faz descobrir esta força; mas, repetindo a leitura, acompanhando-a de séria meditação, sentimos no interior um santo e maravilhoso impulso, que nos arranca das coisas terrestres e nos une a Deus. E nada para admirar; a santidade do autor, as numerosas graças que a Virgem Santíssima concede àqueles que lêem e põem em prática a Verdadeira Devoção podem ser consideradas razões suficientes dessa mudança interior. Doutra parte, a natureza e a essência da Verdadeira Devoção devem igualmente ser consideradas como causa desta sublime transformação. De fato, outra coisa não é a Verdadeira Devoção que a perfeita renúncia de nós mesmos, o sacrifício completo das coisas terrestres, e a união íntima com Deus quanto a nosso ser e operar, união que se alcança pelo caminho mais curto: Jesus e Maria. Aquele, pois, que, constante e fielmente, puser em prática a Verdadeira Devoção descrita por Montfort em seu livro, há de chegar, com toda a certeza, ao cume da perfeição cristã, isto é, a mais íntima união com Deus”.

V. Autoridade do exemplo

As autoridades citadas são decisivas e sem réplica. A esta autoridade da doutrina, de aprovação, juntemos a autoridade do exemplo, mostrando que a Santa Escravidão foi praticada por um grande número de santos, e foi para muitos o caminho e meio de santificação. O assunto é vasto. Vamos consagrar-lhe esta quarta parte, em que veremos a prática da Verdadeira Devoção na vida de vários santos. Deixaremos no silêncio ainda um grande número, cujos exemplos não nos chegaram bastante pormenorizados; e só nos limitaremos aos publicamente conhecidos como escravos de Maria Santíssima.

Temos, por exemplo: Santo Odilon – 1040, Abade de Cluny;

São Luís Marinho – 1076; a venerável Catarina de Cortona; Santa Margarida Maria; e muitos outros, que praticaram publicamente a Santa Escravidão, mas cujos pormenores nos são imperfeitamente conhecidos. Reservando para capítulos a parte os de que temos informações completas, e omitindo os parcialmente desconhecidos, terminaremos este capítulo com uns breves traços de Santo Odilon e Santa Margarida Maria, dos quais possuímos só exígua documentação.

VI. Santo Odilon

Santo Odilon, abade do célebre mosteiro de Cluny – 1040, é um precursor de São Luís Maria Grignion de Montfort. Praticou explícita e publicamente a Santa Escravidão, antes mesmo que fosse regularmente ensinada por este último. Recebeu sobre os joelhos de sua piedosa mãe terna devoção à Santíssima Virgem que mostrava em toda parte e que procurava incutir em seus amiguinhos e companheiros de escola. Em conseqüência de uma moléstia, ficou, quando menino, paralítico, podendo só com dificuldade movimentar os pés e as mãos, sem conseguir andar, ou segurar os objetos. Aconteceu, entretanto, que seus pais mudaram de residência, para ir morar noutro castelo. O pequeno enfermo os acompanhou, confiado aos desvelos da ama e de uns empregados.

Fizeram alta numa aldeia onde havia um santuário de Maria Santíssima. Por uma providência divina, os empregados depositaram a liteira em frente ao santuário, enquanto foram comprar víveres para a viagem. O menino sentiu em si uma inspiração divina. Com mil dificuldades embora, experimentou abrir a porta da carruagem, para arrastar-se até à igreja. Depois de ter-se como esgotado por completo, e em vão, invocou a Virgem Santíssima, e tentou um último esforço, que foi coroado de sucesso. A porta abriu-se e ele deixou-se cair no chão, e foi-se arrastando, como pôde, até ao pé do altar da Virgem Santíssima. Ali, segurando-se com ambas as mãos na toalha do altar, fez um esforço sobre-humano para erguer-se e invocou em alta voz o auxílio da Mãe de Jesus. Seus membros, paralisados, recusaram a começo todo serviço. O pobrezinho estava impossibilitado de corpo, mas a sua alma estava repleta de confiança. Insistiu com uma obstinação tocante, agarrado às toalhas do altar. E eis que, de repente, como do manto do divino Mestre, parecia sair das toalhas sagradas uma virtude divina. O menino ficou de pé... firmou-se e começou a andar. Estava radicalmente curado. Prostrou-se então diante da imagem de Maria Santíssima, e, em altas vozes proclamou-lhe a bondade, e expandiu sua alma em agradecimento pelo milagre obtido. Quando os servos e a ama voltaram, viram o pequeno Odilon correr-lhes ao encontro, a cantar louvores da Santíssima Virgem. O favorecido da Mãe de Jesus cresceu e viveu penetrado dos mais belos sentimentos de ternura para com a sua incomparável benfeitora. O amor apaixonado da Mãe de Jesus, manifestado pelos mais tocantes exemplos, é o traço característico de toda a sua vida. Conta-se que, mais tarde, o piedoso jovem voltou àquele mesmo santuário e ali se consagrou publicamente a Maria Santíssima, como escravo, passando ao pescoço uma corrente de escravidão e recitando a seguinte fórmula por Ele composta: “Ó benigníssima Virgem e Mãe de meu Salvador, desde este dia até à minha morte, tomai conta de mim como de vosso escravo. Socorrei-me, ó Medianeira misericordiosa, em todas as minhas necessidades! Depois de Deus, coloco-vos acima de tudo em meu coração, e de livre vontade me consagro a vós, para sempre, como servo e escravo”.

VII. Santa Margarida Maria

Terminemos este capítulo pelo exemplo de uma santa cuja a autoridade está fora de toda a dúvida: Santa Margarida Maria, a feliz confidente dos segredos do Coração de Jesus – 1647-1690. Desde a infância, proclamava-se Margarida Maria a escrava de Jesus. Um dia, Nosso Senhor lhe disse: “Coloquei-te sob a proteção de minha Santa Mãe, para que ela te forme segundo os meus desígnios”. De fato, confessa Margarida Maria: “A santíssima Virgem teve sempre muito cuidado comigo. Eu sempre recorri a Ela em todas as minhas necessidades. Consagrei-me a Ela como escrava, pedindo-lhe não me recusasse esta dignidade”.

“Falei-lhe sempre com simplicidade, como a criança a sua querida Mãe, e tive sempre para com Ela um amor realmente terno”. Certa vez, aparecendo-lhe a Santíssima Virgem, pôs-lhe nos braços o Menino Jesus, e lhe disse: – “Eu quero que fiques completamente submissa ao meu poder, seja que eu te acariciei, ou te atormente... Não quero que tenhas outros movimentos, senão os que eu te inspirar...”. Instruída por Jesus Cristo, que lhe manifestou o seu divino Coração como escola do puro amor e como o livro da vida em que ela devia ler a ciência do amor, Margarida chamou-se muitas vezes: “a mísera escrava de Jesus em Maria”. O próprio Coração de Jesus, querendo tornar o coração de sua querida serva mais generoso e amante do coração de sua terna Mãe, dignou-se, um dia, mostrar-lhe o coração dela mesma entre o seu divino Coração e o coração santíssimo da Mãe Imaculada. Eis como a santa narra esta visão: “No dia da festa do Coração de Maria, após a santa comunhão, Nosso Senhor mostrou-me três corações. O que estava no meio era quase imperceptível; os dois outros eram luminosos e resplandecentes, e um deles superava o outro de um modo incomparável. Ao mesmo tempo, ouvi estas palavras: É deste modo que o meu puro amor reúne para sempre estes três corações. Os três fundiram-se num só. Esta visão demorou-se bastante, e imprimiu em mim sentimentos de amor e gratidão que não sei exprimir”. Notemos ainda como o próprio Nosso Senhor faz a Santa entrar nas disposições do coração de Maria Santíssima para lhe ser mais agradável: “Uma outra vez Nosso Senhor me ensinou as disposições que deviam animar os meus três exercícios mais importantes. O primeiro é a Santa Missa, a que eu Santa Missa, devo assistir com as disposições da Santíssima Virgem ao pé da cruz. Ela queria alcançar-nos a participação dos méritos do sacrifício da paixão e morte de seu divino Filho, como escrava. Eu devo pedir-lhe as mesmas graças ao pé do crucifixo. O segundo é a Sagrada Comunhão. Para esta, Jesus me fez . pedir as disposições de Maria Santíssima no momento da Encarnação e entrar nelas pela intercessão da mesma Virgem, bem como pedi-las por suas próprias palavras: – Eis aqui a escrava do Senhor! O terceiro é a Oração. Para esta, Nosso Senhor me ensinou . as disposições de Maria quando foi apresentada no templo”. No princípio do livro de orações ao Sagrado Coração, por ela mesma composto, a Santa incluiu uma Consagração à Santíssima Virgem, destinada, segundo parece, ao uso das Noviças. Nesta oração, reivindica altamente o seu título de escrava de Maria.

FONTE:  O SEGREDO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO PARA COM A

SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA CO-EDIÇÃO: EDIÇÕES SANTO TOMÁS FRATERNIDADE ARCA DE MARIA SERVIÇO DE ANIMAÇÃO EUCARÍSTICA MARIANA 

Segundo São Luís Maria Grignion de Montfort Pelo Pe. Júlio Maria de Lombaerde, S. D. N.

Fernando Vanini de Maria

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