Ao pensarmos em Deus, por mais
que isso facilite falar d’Ele, é necessário afastar a linguagem
antropomórfica. Deus não é homem: não
pensa, nem age como homem. A visão tomista de Deus pode, assim, lembrar a
algumas pessoas um ser impessoal, posto que Deus é imutável, impassível, um
Deus que não interage com o mundo, nem escuta nossas orações (embora conheça
maximamente nossas orações, e lhes determine a causa e o efeito, contudo quando
dizemos que Deus escuta nossas orações, estamos usando uma linguagem
“antropomórfica”). Podemos, no entanto, provar que Deus é uma pessoa, ou
melhor, que ele não é menos do que um ser pessoal, ou que transcende o pessoal.
Se Deus fosse menos do que um ser pessoal, não poderia ser a Causa da
existência de seres pessoais, pois seus efeitos seriam, em ação e dignidade,
superiores a Ele. Isso não significa, contudo, que Deus seja pessoa e racional na mesma medida em que o homem é
pessoa e ser racional. Significa que Ele não é menos do que isso. A inteligência
e a vontade de Deus são infinitas, e, comparados com Ele, nada somos. Dessa
maneira, dizer que Deus é um Ser pessoal significa que tal noção a Ele se
aplica por analogia, não univocamente. A perfeição que consiste num ser pessoal
Ele a possui de modo eminente.
Deus apenas pode ser realmente pessoal
porque a trindade das pessoas permite a cada uma delas de existir para os
outros e de ser reconhecida pelos outros. Então como nos diz o autor de nossa
apostila :
Nós somos pessoas, porque nós os
somos primeiro em relação a Deus. O olhar criador de Deus é personalizante.
É óbvio que o termo pessoa como
toda palavra da nossa linguagem, aplicada a Deus e ao homem, é analógico; este
termo contém ao mesmo tempo uma semelhança e uma diferença. Se o termo pessoa
vale para Deus e para o homem, é que há um caráter comum entre os dois, como
exprime a afirmação bíblica segundo a qual o homem foi criado “à imagem e
semelhança de Deus” (Gn 1,26). Mas existe também uma diferença radical: Deus
não é pessoa no sentido exato no qual somos seres pessoais. A transcendência
absoluta de Deus em relação a nós não nos permite ter uma representação exata
da pessoa divina.