A IMPORTÂNCIA DAS FONTES PARA O ESTUDO DA HISTÓRIA DA IGREJA


As fontes sempre foram assunto válido para a Igreja Católica, de fato muitas vezes a Igreja se afastou do caminho  das  origens,  porém  pela  ação  do  Espírito Santo  sempre  vai  retomando  o caminho  correto após muitas reflexões sobre seu passado, presente e tomando   iniciativas   para   o   futuro.   Mas   como identificar  uma  fonte  válida?  O  que  é  uma  fonte afinal?   A ciência história   é   fundamental   para podermos    identificar    uma    fonte    verdadeira    e confiável,  desta   maneira,  a Igreja  incentiva  aos exegetas  aterem  domínio  bem  aprofundado  sobre todos  os  melhores  métodos  e  abordagens  possíveis para identificarmos com segurança no que podemos ou  não  confiar.  A  Igreja  não  teme  a  ciência,  mas teme  opiniões  pré-concebidas  que  fazem  a  ciência sair  de  seu  domínio.  A  Igreja  precisa  investigar  a fundo e buscar sempre recorrer às fontes para evitar ao máximo se perder do caminho da evangelização.
O presente artigo pretende demonstrar a necessária relação entre fonte, história e Igreja. Para tanto  fará  uma  breve  definição  de fonte,  na  qual  observaremos  a  importância  da  dúvida metódica  para  identificar fontes  confiáveis  e  não  confiáveis e fontes   verdadeiras ou falsas. Depois  dessa  definição,  pretende-se  realizar  a  definição  de história  no  século  XIX,  seu surgimento e comentários. Após refletirmos acerca da importância da história, como ciência, e das fontes, abordaremos a relação entre elas. Qual  a  importância  das fontes  para  a história  da  Igreja?  Como  pode a  Igreja  se  manter  no caminho  da  evangelização?  Caso  ela desvie desse  caminho,  como  corrigir  seus  passos? Para todas  essas  questões  observaremos  a  importância  de  sempre  recorrermos  às fontes,  isto  é,  às origens, e identificar como os primeiros cristãos viviam e como devemos hoje viver para bem testemunhar o Reino de Deus no mundo.
O QUE É FONTE? 
Muitos são os pensamentos e discussões a respeito do tema “fonte”. Mas afinal? O que é uma fonte? O  melhor  pensamento  para  entendermos  de  fato  o  que  é  uma  fonte  confiável  é  sem dúvida o pensamento de Descartes. Esse filósofo que inaugura o período moderno na filosofia propõe o método da dúvida. É através desse método que podemos chegar à verdade. Vejamos nas Meditações Metafísicas, o que ele nos tem a dizer:
1 –Nunca  aceitar  coisa  alguma  como  verdadeira  sem  que  não  a  conhecesse evidentemente   como   tal,   ou   seja,   evitar   cuidadosamente   a   precipitação   e   a prevenção,  e  não  aceitar  em  seus  juízos  nada  além  daquilo  que  se  apresentasse  tão clara  e  distintamente  a  seu espírito  que  não  houvesse  nenhuma  ocasião  para  pô-lo em dúvida.
2 –Dividir cada um dos problemas que examinaria em tantas partes quantas fossem necessárias para melhor resolvê-los.
3 –Conduzir por ordem seus pensamentos, partindo dos objetos mais simples, para ascender   pouco   a   pouco,   como   por   degraus,   até   ao   conhecimento   dos   mais compostos.  Supor  até  ordem  entre  aqueles  que  não  se  precedem  naturalmente  uns aos outros. 
4 –Fazer  toda  parte  de  enumerações  tão  completas  e  revisões  tão  gerais  que estivesse certo de nada omitir1.Na primeira parte do Discurso do Método, Descartes coloca o problema da dúvida metódica: O  que  é  realmente  existente?  Já  que  aceitou  desde  seus  primeiros  anos  de  vida,  uma verdadeira  quantidade  de  falsos  conceitos,  e  que  construiu  seu  conhecimento  através  de princípios  tão  inseguros  que  precisa  recomeçar  a  partir  dos  alicerces,  na  tentativa  de  intuir algo  de  sólido  e  permanente.  Para  resolver  esse  problema,  usa  o  ceticismo  como  método. Jamais  confiar  nas  verdades  ditas  anteriormente, não  confiar  nos  sentidos.  Parece  ser  uma brincadeira o que Descartes faz, pois suas reflexões chegam  a ser  engraçadas, mas levadas  a sério, são questões fundamentais para chegarmos a uma verdade. Já  há  algum  tempo  me  dei  conta  de  que,  desde  os  meus  primeiros  anos  de  vida, aceitei como verdadeira uma quantidade de falsos conceitos, e o que construí depois sobre princípios tão inseguros só poderia ser muito duvidoso e incerto; de modo que se  fazia  necessário  que  eu  decidisse  seriamente  me  desfazer  de  todas as  opiniões recebidas  até  então  e  recomeçar  a  partir  dos  alicerces,  se  quisesse  instituir  algo  de sólido e permanente nas ciências. Tudo quanto tenho tomado até agora como o mais verdadeiro  e  seguro  conhecimento  aprendi  por  meio  dos  sentidos;  ora,  algumas vezes  descobri  que  esses  sentidos  eram  ilusórios,  sendo  prudente  jamais  confiar inteiramente naqueles que já nos enganaram uma vez. Nessa  meditação,  Descartes  relata  a  incerteza  que  os  sentidos  nos  proporcionam,  e  por  isso, temos  tantos  falsos  conceitos sobre  as  coisas,  dessa  maneira  é  necessário  derrubar  todo  o edifício  do  conhecimento  para  reconstruí-lo.  Interessante  que  esta  expressão  de  recomeçar  a partir dos alicerces, relembra outra comparação empregada por Descartes. Suponhamos  que  um  homem  tenha um  cesto  cheio  de  maçãs,  que  ele  tema  que algumas  dessas  maçãs  estejam  podres  e  queira  retirá-las  para  que  não  façam  as outras apodrecerem também,  como ele  faria  isso? Primeiro ele  não retiraria  todas e esvaziaria   seu   cesto?   Em   seguida,   examinando-as   uma   por   uma,   ele   pegaria novamente as que julgassem intactas para recolocar no cesto, deixando as outras de lado? Do mesmo modo, as pessoas que  nunca filosofaram adequadamente possuem o  espírito  cheio  de  opiniões,  acumuladas  desde  sua  infância,  e  como  elas  temem, com razão, que algumas sejam falsas, esforçam-se por separá-las das outras para que não  façam  todas  se  tornarem  incertas  ao  se  misturarem  a  elas.  E  não  há  melhor maneira de fazer isso do que rejeitando todas de vez, por serem incertas ou falsas e, depois de examiná-las ordenadamente uma por uma, pegando de novo apenas as que forem reconhecidas como indubitavelmente verdadeiras. Essa comparação da maçã é fundamental, pois é exatamente o que ele faz com as coisas que tinha  como  verdades  desde  a  infância, rejeitando  tudo  até  que  se  tenha  alcançado  a  verdade clara e distinta que ele almejava. O uso de certos costumes amenizou suas imperfeições, e não poderíamos  prover  tão  bem  as  coisas  pela  prudência  como  o  fazemos  pelo  costume.  O caminho do costume é cômodo, muito melhor de ser seguido. Aqui Descartes faz uma alusão à Montaigne: Parece-me  haver  compreendido  a  força  do  costume  quem  primeiro  inventou  essa história de uma mulher que, tendo-se habituado a acariciar e carregar nos braços um bezerro, desde o nascimento, e o fazendo diariamente, chegou pela força do hábito a carrega-lo  ainda  quando  já  tinha  tornado  um  boi.  Porque  o costume  é  efetivamente um pérfido e tirânico professor. Podemos observar no trecho procedente, que Descartes é realmente radical com tudo o que há em volta dele, duvida de absolutamente tudo sem deixar escapar nada. Logo suporei que existe  não um verdadeiro Deus, que é fonte soberana de verdade, mas  um  gênio  mau,  não  menos  astuto  e  enganador  que  poderoso,  que  tenha empregado todo o seu engenho em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos não sejam mais que ilusões  e  enganos  de  que  ele  se  serve  para  surpreender  a  minha  credulidade. Permanecerei obstinadamente preso a esse pensamento; e se por tal meio não estiver em  meu  poder  alcançar  o  conhecimento  de  qualquer  verdade,  ao  menos  estará  em meu poder suspender o meu juízo. Eis porque procurarei cuidadosamente não aceitar nenhuma  falsidade,  e  prepararei  tão  bem  o  meu espírito  contra  as  astúcias  desse grande enganador que, por mais poderoso e astuto que seja, jamais poderá me impor coisa alguma. Para  chegarmos  às  fontes  seguras  temos  que  usar  exatamente  esse  método  cartesiano,  o método da dúvida. Quantas vezes enquanto crianças nos ensinavam coisas que na idade adulta começamos  a  perceber  não  serem  exatamente  verdades?  Exemplos  não  faltam,  como  o descobrimento  do  Brasil,  a  proclamação  da  independência  etc. Apresentam-nos nas  aulas  de história  atos  heroicos  que  depois quando  vamos  investigar  de  maneira  nem  tão  profunda assim, percebemos que não foram atos tão heroicos e bravos como nos foi ensinado.
Ir  às  fontes  significa  ir  às  origens,  buscar  documentos  que  possam  ser  dignos  de  confiança para podermos entender o passado e descobrirmos porque o mundo está dessa maneira , e não de outra atualmente. “O que chamamos documento ou fonte histórica não é necessariamente produzido pelos indivíduos com o objetivo de deixar testemunhos para aqueles que viverão no futuro.  São  os  pesquisadores,  ao  estudarem  determinado  documento  ou  fonte  histórica,  que atribuem um sentido a esses documentos” . Existem  diferentes  tipos  de  documentos  históricos:  escritos,  orais,  sonoros,  visuais  e os  que compõem a  chamada  cultura  material.  Sendo  assim, podem  ser  encontrados  em  forma  de documentos   oficiais   (leis,   contratos,   registros   contábeis...)   ou   documentos   particulares, publicações  científicas,  livros,  anotações,  inscrições  em  monumentos,  dados  estatísticos, pinturas, esculturas, construções. Todos os  vestígios  deixados  pelas  gerações  passadas  são  fontes  históricas  que  podem  ser analisadas  pelos  historiadores  para  produzir  conhecimento  histórico.  Esses  vestígios  podem ser escritos, monumentos, vestimentas. Os  primeiros  historiadores  foram,  antes  de  tudo,  filólogos  e isso  porque  buscavam conhecer “aquilo  que  realmente  aconteceu”, wie  es  eigentlich  gewesen,  na  famosa frase do historiador alemão Leopold von Ranke (1795-1886), de 1823, e, para isso, precisavam conhecer as fontes, os documentos escritos, em sua língua original. Essa foi  uma  verdadeira  revolução  epistemológica:  a  ideia  de  que  a  história  se  faz  com documentos   e   que   os   devemos   conhecer   muito   bem.   Precisamos   diferenciar documentos  falsos  de  verdadeiros, e  isso  só  é  possível  com  um  conhecimento aprofundado da língua utilizada. Fonte  é  uma  metáfora,  pois,  o  sentido  primeiro  da  palavra  designa  uma  bica  d'água, significado esse que é o mesmo nas línguas que originaram esse conceito, no francês, source , e no alemão, Quelle. Todos se inspiraram no uso figurado do termo fons (fonte) em latim, da expressão “fonte de alguma coisa” no  sentido  de  origem,  mas  com  um  significado  novo. Assim  como  das  fontes  d'água,  das  documentais  jorrariam  informações  a serem  usadas  pelo historiador .Para  usarmos  bem  as fontes  é  em  primeiro  lugar,  necessário  buscar  as  melhores  formas  de interpretar  a  fonte  disponibilizada; sem  os  modelos  interpretativos  adequados,  corremos graves risco  de  pensar  que  estamos,  “diretamente  e  sem  mediação,  ‘descobrindo’ o  que aconteceu, o mundo tal como ele é, a coisa em si”.

A  Igreja  Católica  propõe  que  utilizemos  a  ciência  para  buscar  informações  corretas  e verdadeiras, porém nos indica que para isso é necessário ter amplo domínio sobre os melhores métodos para utilizá-los com eficiência e nos mantermos livres de engano. “A Igreja não tem medo da crítica científica. Ela só teme as opiniões preconcebidas, que têm a presunção de se fundar  na  ciência,  mas  que,  na  realidade,  fazem  sair  sub-repticiamente  a  ciência  de  seu domínio”. Podemos perceber então, a importância dos melhores instrumentos interpretativos para poder de fato saber se tal documento é verdadeiro ou não, em outras palavras, se é confiável ou não. Um pensamento do historiador britânico A. Munslow citado no livro de Barcellar nos lembra: “a  evidência  não  constitui  conhecimento  histórico  disponível  e  pronto,  que  pode  ser simplesmente  engolido  e  digerido  pelo  historiador.  As  fontes  tornam-se  úteis  como  fatos históricos   apenas   quando   o   historiador   as   submeter   a   uma   série   de   conhecimentos contextualizados que ele já possui”. Quanto  a  essa  necessidade  de  obter  os  melhores  métodos  interpretativos  temos  o  documento “A Interpretação da Bíblia na Igreja”, o qual faz uma breve descrição dos diversos métodos e abordagens,  indicando  suas  possibilidades  e  seus  limites,  examinando algumas  questões  de hermenêutica,  e  propondo uma  reflexão  sobre  a  problemática  da  interpretação  dos  textos bíblicos e a necessidade da utilização de todos os métodos possíveis de maneira sinérgica para melhor compreendermos esses textos. Voltamos, então, a Descartes, é necessário duvidar para assim chegarmos a  uma verdade clara e distinta, livre de engano. Para duvidar, no entanto, é necessário termos os melhores métodos disponíveis  para  nos  ajudar.  De  acordo  com  o  professor Leva: “É preciso ter critérios para assegurar que as fontes encontradas sejam seguras e verdadeiras”.

 FONTE E HISTÓRIA
Os pais da história foram os gregos, que a conceberam por volta do século V a.C História  quer  dizer  “conhecimento  por  meio  de  uma  indagação”.O  termo  deriva  do substantivo istor “conhecedor, testemunha” e do verbo istorein “informar-se”.

O  historiador  francês  Marc  Bloch  definiu  a  história  como  a  ciência  dos  homens  no transcurso  do  tempo;  o  francês  Lucien  Febvre  destacou  que  a  história  é  o  processo de  mudança  contínua  da  sociedade  humana.  Segundo  o  brasileiro  Aurélio  Buarque de Holanda, história é a narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos,  em  particular,  e  na  vida  da  humanidade,  em  geral.  Já  para  o  historiador  e sociólogo  Sérgio  Buarque  de  Holanda,  a  história  é  o  estudo  do  que  os  homens  do passado fizeram, da maneira pela qual viviam, das ideias que tinham.

Podemos perceber que história é o estudo do passado para explicar como era a vida em outros tempos. “História é a disciplina que estuda a vida dos homens em sociedade ao longo do tempo.  Seu  objetivo  é  compreender  ações,  desejos,  pensamentos,  sentimentos  e  criações culturais dos homens em diversas sociedades e variadas épocas”16.De acordo com Alves, o verbo istorein,“  informar-se”, foi o sentido usado por Heródoto (sec. V a.C.) que produziu um relato verdadeiro dos fatos, separando o que era mito, fábula, lenda do  que  era  real. A  história  surgiu,  com  esse  nome,  entre  os  gregos  antigos,  que  designaram com esse termo a “pesquisa” sobre as origens dos conflitos e contradições de sua época. É assim  que  se  iniciam  as Histórias  de  Heródoto  (484-424  a.C.),  no  século  V a.C.: Estas  são  as  histórias  de  Heródoto  de  Halicarnasso  tornadas  públicas  na  esperança de  poder  preservar,  dessa  maneira,  a  lembrança  do  que  fizeram  os  homens  e  de impedir que as grandes e maravilhosas ações de gregos e bárbaros deixem de receber o devido reconhecimento e, assim, registrar quais as causas de suas lutas18.No  artigo  Nos  Fatos da  História:  o  evento  salvífico –XV  séculos  de  Igreja,  Leva  nos apresenta o seguinte pensamento fazendo referência à Vavy Pacheco Borges: É  na  Alemanha  que  surge a  preocupação  de  transformar  a  história  em  uma  ciência [...].  Os  historiadores  alemães  querem  que  a história  se  torne  uma  ciência  o  mais segura possível, como as ciências exatas. Pretendem um grau de exatidão científica semelhante a elaboração de método de trabalho análogo e efetivo, que estabelecesse leis e verdades de alcance universal19.A história se desenvolve no século XIX e é apresentada como ciência, mas é no séc. XX que o conhecimento histórico é reconhecido e passa a ser colocado nos currículos das universidades: “Novas áreas de pesquisa, novos métodos e abordagens surgiram, modificando as  relações entre o presente, passado e futuro transformando o modo como o conhecimento histórico era produzido”.

Com  a  cientificidade  da história  é  possível  identificar  e  distinguir  fontes  confiáveis  das  não confiáveis. O que antes era praticamente impossível. No séc. XX a concepção de fonte histórica se ampliou consideravelmente. Vestígios arqueológicos,  imagens,  mitos,  lendas,  relatos  orais,  literatura,  em  fim,  todas  as produções  humanas  passaram  a  ser  consideradas  fontes  para  o  conhecimento  do passado.  Essa  transformação  é  um  dos  fatores  que  possibilitaram  a  ampliação  do território do historiador e a abertura de novos campos de pesquisa21.A  Igreja  sempre  se  fez  presente  no  decorrer  da  história  tendo  reações  sempre  significativas, não se limitando a uma resposta puramente defensiva: A Providentissimus  Deus convida   insistentemente   os   exegetas   católicos   a adquirirem  uma  verdadeira  competência  científica,  de  modo  a  superarem  os  seus adversários   no   terreno   dos   mesmos   [...]   Na Divino Afflante Spirituhá   uma reivindicação   para   a   estreita   união   das   duas   iniciativas   [exegese   científica   e interpretação  espiritual],  por  um  lado  salientando  o  alcance  teológico  do  sentido literal,  metodologicamente  definido,  por  outro  lado,  afirmando  que,  para  poder  ser reconhecido  como  sentido  de  um  texto  bíblico,  o  sentido  espiritual  deve  apresentar garantias de autenticidade. Uma simples inspiração subjetiva não é suficiente. Deve-se  poder  mostrar  que  se  trata  de  um  sentido “querido  por  Deus  mesmo”,  de  um significado  espiritual “dado  por  Deus” ao  texto  inspirado.  A  determinação  do sentido espiritual é da competência e domínio da ciência exegética22.É importante então percebermos que embora muitas pessoas pelo senso comum digam que a Igreja está sempre fora da história, o contrário é o mais correto. Como apresentado por Leva, a Igreja atua na história e a história na Igreja. De acordo com os fatos que vão acontecendo a Igreja emite respostas e essas respostas modificam os fatos futuros. A  história  nos  faz  pesquisar  o  passado  para  nos  posicionar  no  presente  como  algo dinâmico e salutar. A ciência histórica maturou ao longo dos séculos sua episteme e nos  legou  ver  os  acontecimentos  de  forma  criteriosa  e  sem  julgamento.  Cabe  ao historiador elencar os fatos e apresentá-los de maneira ordenada e concatenada. [...] Através da história e outros saberes [...] a igreja conheceu seus passos fincados nos séculos [...].Mediante  os  documentos  apercebemos  e  analisamos  que  tanto  mais  a Igreja  se  fazia  presente  nas comunidades ,tanto  mais dinamizava  o entusiasmo para com O Ressuscitado. [...] No período Antigo tivemos muitos santos e mártires, tanto quanto   hereges;   o   período   Medieval   foi   permeado   tanto   de   nepotismo   e   de simoníacos  quanto  de  santidade  e  o  cultivo  do  saber,  como  o  surgimento  das universidades, instrumento de cultura e fé da civilização ocidental23.Novas  ordens  religiosas  nasceram  na  modernidade . Quando  a  Europa  se  lançou  nas  grandes navegações, a  Igreja  também  estava  presente  e  muitos  missionários  foram  capazes  de denunciar  a  violência  cometida  nos  novos  povos  como  podemos  ler  em  uma  das  cartas  do padre Anchieta: “Porque a maior parte, os índios, naturais do Brasil, está consumida, e alguns poucos, que se hão conservado com a diligência e trabalhos da Companhia, são tão oprimidos, que em pouco tempo se gastarão”24.Na  época  contemporânea, a  Igreja  foi  duramente  abalada  pelas  revoluções e  guerras,  mas  se fez sempre presente repensando sua maneira de ser, seus valores e sua missão. “A maturação acerca da colegialidade assegura averiguar  as  posições  pessoais  e  buscar  os acertos  viáveis  para  a  reta  evangelização.  Concorrendo  para  o  bem  comum,  e  eliminando  os privilégios, seremos capazes de anunciar Jesus Cristo e a proposta do Reino de Deus contida no seu Evangelho”.25O  importante  é  termos  a  certeza  de  que  a  associação  entre  a  história como ciência e a teologia tem sido um trabalho muito importante e eficiente para que o campo das pesquisas avance.
 
A IMPORTÂNCIA DAS FONTES PARA A IGREJA

Muitos  com  suas  opiniões  pessoais  duvidam  sobrea  verdadeira  origem  da  Igreja  Católica, alguns  dizem  que foi  a  Igreja  que  surgiu  com  o  Edito  de  Milão  de  Constantino  em  313,e Tessalônica de Teodósio em 380. De fato nessa época o cristianismo se torna religião oficial do império e muitos se desviam do caminho do  evangelho. Como apropriadamente pergunta Leva: “Como  religião  do  Estado, todos  que  se  faziam  batizar,  de  fato,  eram  cristãos conscientes. Essa  pergunta  que  aparentemente  tem  uma  resposta  certeira pode  ser  trabalhada  em  vários pontos de vista. Não é tão simples de ser respondida. Dom Fernando, bispo de Santo Amaro, afirma  que: “A Igreja Católica  tem  suas  raízes  em  Cristo,  cujos  ensinamentos  nos  foram   transmitidos  pelos  escritos  do  Novo  Testamento.  Sua  autenticidade,  graças  aos  Padres  da Igreja, é reconhecida justamente pela Tradição”. A mensagem de Cristo foi recebida pelos apóstolos e os mesmos incumbiram seus sucessores a conservar a mesma mensagem íntegra para transmiti-la para as próximas gerações:  Deus dispôs amorosamente que permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações  tudo  quanto  tinha revelado  para  a  salvação  de  todos  os  povos.  Por  isso, Cristo  Senhor,  em  quem  toda  a  revelação  de  Deus  onipotente  se  consuma,  mandou que os apóstolos pregassem a todos, comunicando-lhes os dons divinos, como fonte de toda a verdade salutar e de toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes  pelos  profetas  e  por  ele  cumprido  e  promulgado  pessoalmente.  Este  mandato foi  realizado  com  fidelidade,  quer  pelos  apóstolos  que,  na  sua  pregação  oral,  com exemplos  e  instituições,  transmitiram  aquilo  que  ou  tinham  recebido dos  lábios,  da conversação  e  das  obras  de  Cristo  ou  tinham  aprendido  por  inspiração  do  Espírito Santo,  quer  por  aqueles  apóstolos  e  varões  apostólicos  que,  sob  a  inspiração do mesmo  Espírito  Santo,  escreveram  a  mensagem  da  salvação.  Porém,  para  que  o Evangelho  fosse  perenemente  conservado  íntegro  e  vivo  na  Igreja,  os  apóstolos deixaram os bispos como seus sucessores. Seguindo  Dom  Fernando, podemos  observar  que  nos  primeiros anos  não  se  sentia  a necessidade  de  escrever  ou  elaborar  uma  literatura  cristã.  A  literatura  não  é  essencial  à  fé. Essa fé nasceu de ensinamentos dados à viva vós. Mas como diz um velho ditado na área de criação  em  agências  de  publicidade: “O  que  não  está escrito,  não  existe  ou  não  foi  dito”. Então  para  que  a  mensagem  de  Jesus  Cristo  não  fosse  esquecida  com  a  morte  dos  Doze,  e para apoiar a proclamação do Evangelho foram surgindo escritos. Dom Fernando afirma: Três ocasiões propiciam o surgimento de tais escritos:
 1 –A necessidade de comunicação entre as Igrejas.
2 –A Necessidade de testemunhar, diante das autoridades pagãs, sua fé em Cristo. São as atas dos mártires com vigorosos e belíssimos testemunhos dos primeiros cristãos.
3 –A  Necessidade  de  responder  às  acusações  das  autoridades  e  dos  intelectuais  pagãos  e rebater as teses dos escritores gnósticos . Essa  nova  literatura, que  surge, tem  um  valor  fundamental  para  a  reflexão  teológica,  ela  nos possibilita  ter  um  contato  com  as  primeiras  comunidades, como  se  organizavam,  seus problemas, as soluções encontradas etc. De tal modo que para uma reflexão teológica concreta .“ não  se  pode  desconhecer,  jamais,  a  experiência  fundamental  vivida   pelos   primeiros cristãos” .Muita gente confunde a ideia de ir às fontes com voltar no tempo. É muito importante termos consciência de que não podemos negar a evolução do pensamento teológico, ir às fontes não é um  mero  processo  cronológico,  pois  aquelas  comunidades  tinham  suas  realidades  próprias, hoje temos novos desafio se novas possibilidades. Tradição não é voltar a usar vestes de 200 anos atrás. Pano não é tradição. Tradição é quando temos  uma  herança  recebida, depositum fidei (deposito  da  fé)  e depositum vital(deposito  da vida) e nós transmitimos às novas gerações, a experiência que foi vivenciada e experimentada. Tradição é eternizar a própria experiência. “Ir às fontes significa deixar-se invadir pela força inspiradora  desse  período  da  vida  cristã  e  que  continua  ainda  hoje,  presente em  nós, conduzindo-nos a viver e a testemunhar o Evangelho”31.Os documentos elaborados no princípio do cristianismo são as orientações que a  Igreja tenta seguir  ao  longo  dos  séculos.  Muitas  vezes  se  afasta  desse  caminho  e  depois  por  força  do Espírito  Santo  retorna.  O  Concílio  Vaticano  II foi  uma  grande  demonstração  da  ação  do Espírito na Igreja, que nada mais fez do que voltar às origens. Muitas são as dúvidas evocadas durante os  séculos  sobre  a  Igreja,  uma  dessas  dúvidas  que  é  muito  frequente  ainda  hoje  é sobre o primado do bispo de Roma. Carlos Hastings Collete nos indaga a esse respeito em seu livro  intitulado “Inovações  no  Romanismo”: “Desafiamos a que se nos prove que houvesse sido dado algum dos títulos: príncipe dos sacerdotes, sumo sacerdote, vigário de Cristo, bispo universal etc. exclusivamente ao bispo de Roma, desde o primeiro papa até Gregório I”32.A  questão  apresentada  sempre  é  colocada  em  pauta pelos  protestantes  quando  da  morte  ou nomeação  de  um  novo  papa.  Quando  João  Paulo  II  morreu,  por  exemplo, começaram-se novamente as manifestações de questionamento sobre o primado romano. Quando Bento XVI renunciou  a  mesma  situação  ocorreu.  Daí  a  necessidade  de  voltarmos  às  origens  para observarmos como era a organização da hierarquia. Na  carta  de  Clemente  Romano  aos  Coríntios, podemos ler  que  o  mesmo  fora  chamado  a intervir nos problemas da comunidade e o faz na qualidade de grande chefe. Nessa carta que data do primeiro século: “tida por autêntica, significativa e admirável. Ele a redigiu, da parte da Igreja de Roma para a Igreja de Corinto, em consequência de uma divisão que sucedera em Corinto.  Sabemos  que  em  grande  número  de  Igrejas  lia-se  outrora  esta  carta,  e  ainda  hoje  é lida”. Clemente  Romano  nos  informa  que  São  Pedro  não  só  esteve  em  Roma,  mas  lá  igualmente morreu ao lado de São Paulo. Demonstra que a hierarquia da Igreja já estava organizada: Os apóstolos receberam a boa-nova em nosso favor da parte do Senhor Jesus Cristo. Jesus  Cristo  foi  enviado  por  Deus.  Cristo,  portanto  vem  de  Deus  e  os apóstolos  de Cristo. Esta dupla missão realizou-se, pois, em perfeita ordem por vontade de Deus. Munidos  assim  de  instruções  e  plenamente  assegurados  pela  ressurreição  de  Nosso Senhor  Jesus  Cristo,  confiados  na  palavra  de  Deus,  saíram  a  evangelizar  na plenitude do Espírito Santo a próxima vinda do Reino de Deus. Assim proclamando a  Palavra  no  interior  e  nas  cidades,  estabeleciam  suas  primícias,  como  bispos  e diáconos, dos futuros fieis, depois de prová-los pelo espírito. E não era inovação: há séculos  já  a  Escritura  falava  de bispos  e  diáconos  [...].Por  tal  motivo  e  como tivessem  perfeito  conhecimento  do  porvir,  estabeleceram  os  acima  mencionados  e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a morte deles, outros homens comprovados  lhes  sucedessem  em  seu  ministério[...].Vós  que  destes  origem  à revolta submetei-vos aos presbíteros e deixai-vos corrigir até a conversão, dobrando os joelhos de vossos corações [...].Se porém alguns de vós não obedecerem ao que por nós foi dito saibam que se envolverão em pecado e perigo não pequeno. A Didaqué, o livro da Doutrina dos Doze Apóstolos, foi amplamente utilizada nos primeiros séculos,  ela  constitui  o  testemunho  da  organização  e  da  vida  de  uma  comunidade  cristã  nos primeiros  anos  do  cristianismo,  possui  uma  catequese  moral que  vai  dos  capítulos  I  a  VI, instrução  litúrgica  do  cap.  VII  ao  X, prescrição  disciplinar  do  cap.  XI  ao  XV, e  um  epílogo que orienta a comunidade para a segunda vinda do Senhor no cap. XVI.A   catequese   moral reduz os deveres dos cristãos a duas vias: A da vida e a da morte. Há dois caminhos: um da vida e outro da morte. A diferença entre ambos é grande. O caminho da vida é, pois, o seguinte: primeiro amarás a Deus que te fez; depois a teu  próximo  como  a  ti  mesmo.  E  tudo  o  que  não  querer  que  seja  feito  a  ti,  não  o faças a  outro[...]. O  caminho  da  morte  é  o  seguinte:  Em  primeiro  lugar  é  mau  e cheio  de  maldições,  mortes,  adultérios,  paixões,  fornicações,  roubos,  idolatrias, práticas    mágicas,    bruxarias,    rapinagens,    falsos    testemunhos,    hipocrisias, ambiguidades,  fraude,  orgulho,  maldade,  arrogância,  cobiça,  má  conversa,  ciúme, insolência, extravagância, jactância, vaidade e ausência de temor de Deus. Sobre a instrução litúrgica contida nos capítulos VII ao X, o capítulo VII contém a descrição do  batismo,  o  capítulo  VIII  contém  a  descrição  do  jejum,  narra  a  prece  do  Senhor  e  no capítulo  X  há  a  descrição  da  Eucaristia.  No  capítulo  XI  há  a  regulação  da  comunidade,  nos 
capítulo  XII  ao  XIII  os  deveres  da  caridade  e  nos  capítulos  XIV  e  XV  o  governo  interno  da comunidade:  “Escolhei-vos,  pois,  bispos  e  diáconos  dignos  do  Senhor,  homens  dóceis, desprendidos (altruístas), verazes e  firmes [...] Não os desprezeis, porque  eles são da mesma dignidade entre vós como os profetas e doutores”. No capítulo XVI temos a orientação para o retorno do Senhor: “Vigiai sobre vossa vida. Não deixeis apagar vossas lâmpadas nem solteis o  cinto  de  vossos  rins,  mas  estai  preparados,  pois  não  sabeis  a  hora  na  qual  Nosso  Senhor vem”. Santo  Inácio,  bispo  de  Antioquia,  foi  conduzido  da  Síria  a  Roma,  na  época do  imperador Trajano e condenado às feras: “sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me  como  pão  puro de  Cristo”. Santo  Inácio  é  o  primeiro  a  usar  a  expressão “cristianismo” para  opor-se  aos  judaizantes.  A  hierarquia  é  apresentada  em  três  níveis,  na carta  aos  Esmirnenses  apresenta a necessária unidade para com o bispo: “Onde quer que se apresente  o  bispo,  ali  também  esteja  a  comunidade,  assim  como  a  presença  de  Jesus  Cristo também  nos  assegura a presença da Igreja Católica”. Segundo Dom Fernando: “O termo catholica, não só designa a realidade da Igreja presente por toda parte, mas, principalmente, o fato  de  ela  ser  sinal  de unidade e da verdade de Deus”. A  Igreja  é  santa  e  pecadora,  mas mediante  a  comunhão  com  o  ministério  do  bispo,  mestre,  guia  e  centro  da  unidade  da comunidade  cristã,  juntamente  com  o  ministério  dos  presbíteros  e  diáconos  torna-se  uma realidade  divina  e  espiritual.  O  bispo  é  para  Santo  Inácio  sinal  de  unidade  e  comunhão  na caridade. Na carta aos Magnésios nos apresenta um paralelo entre o bispo e Deus Pai: Não  vos  assentaria  bem  valer-vos  da  pouca  idade  do  bispo,  dispensai-lhe  sim, quanto  Deus  Pai  concede,  toda  prova  de  respeito.  Como  soube,  também  os  santos presbíteros não menosprezam a condição de jovem que nele salta aos olhos, mas se lhe submetem como gente sensata em Deus. Aliás, não é a ele que se submetem, mas ao Pai de Jesus Cristo, bispo de todos. Por respeito Àquele que nos elegeu, convém obedecermos  sem  nenhuma  hipocrisia,  uma  vez  que  ninguém  engana a  tal  ou  tal bispo visível, mas abusa do bispo invisível39.Perante   Deus,   a   responsabilidade   do   pastoreio   cabe   em   primeiro   lugar   ao   bispo.   Os presbíteros, seus colaboradores, condividem a solicitude da Igreja local enquanto exercem seu ministério em comunhão com ele40.A Igreja é caracterizada por santo Inácio como unidade e amor: “Pois, se em tão curto lapso de tempo tive tal intimidade com vosso bispo, não em revele te o sentido humano mas espiritual, quanto mais devo felicitar-vos por estardes tão profundamente ligados a ele como a Igreja a Jesus Cristo e como Jesus Cristo ao Pai, para que todas as coisas estejam em sintonia na unidade”41.É o bispo, o sinal de instrumento da unidade, todos devem estar em comunhão fraterna com o bispo: “E quanto mais alguém percebe que o bispo se silencia, mais respeite”42.Essa citação de  Dom  Fernando  está  mais  próxima  do  contexto  original  do  que  a  tradução  de  Dom  Paulo Evaristo Arns. Dom Paulo traduz o termo “se silencia” por “se cala”. “E quanto mais alguém percebe  que  o bispo  se  cala, mais o respeite”43.O  silêncio,  Dom  Fernando  vai  explicar,  é  o mistério  mesmo  de  Deus.  Ainda  na  carta  aos  Efésios  no  cap.  15, podemos  observar  a explicação: “Quem de fato possui a Palavra de Jesus pode ouvir-lhe  o  silêncio;  para  ser perfeito,  para  agir  pelo  que  fala  e  ser  reconhecido  pelo  que  se  silencia”. Novamente  a tradução de Dom Paulo traduz por “cala”. “Quem de fato possui a Palavra de Jesus pode até ouvir-lhe  o  silêncio;  para  ser  perfeito,  para  agir  pelo  que  fala  e ser  reconhecido  pelo  que cala”. Dom Fernando explica que a tradução de  Dom Paulo não está errada e seria de uma infelicidade  tamanha  a  pessoa  que  afirmasse  isso.  Mas  adverte  que  silenciar-se  transmite  a ideia  de  meditação,  de  assimilação  do  mistério  de  Deus,  a  palavra  calar  por  outro  lado,  não transmite essa ideia logo de inicio, por isso em sua tradução, optou por usar o termo silenciar. Vários são os testemunhos da importância não só do bispo local, mas do bispo de Roma. De fato em toda a patrística muitos autores irão recorrer à Igreja de Roma fundada por São Pedro e  São  Paulo  para  resolver  determinados  conflitos. Por  exemplo, São  Cipriano  que  pergunta: “Quem pode confiar que está na Igreja caso se separe da cátedra de Pedro sobre a qual a Igreja foi fundada?”. Não é assunto do presente trabalho, demonstrar o primado da Igreja de Roma,  mas  foi  utilizado  esse  exemplo  para  demonstrar  a  importância  de  recorrer  às  fontes para esclarecer equívocos, corrigir caminhos e buscar a fé original em Cristo Jesus. Para terminar podemos observar a carta a Diogneto , que segundo Dom Fernando é um breve documentário  da  antiguidade  cristã  dedicado  à  Diogneto,  um  personagem  pagão.  A  ideia  é exprimir a inserção do cristão na sociedade, o cristão é a alma no mundo: Para  simplificar, o que  é  a  alma  no corpo, são no mundo os cristãos. Encontra-se  a alma em todos os membros do corpo, e os cristãos dispersam-se por todas as cidades do  mundo.  A  alma,  é  verdade,  habita  no  corpo,  mas  dele  não  provém.  Os  cristãos ......residem  no  mundo,  mas  não  são  do  mundo.  Invisível,  a alma  é  cercada  pelo  corpo visível.  Igualmente  os  cristãos,  embora  se  saiba  que  estão  no  mundo,  o  seu  culto  a Deus  permanece  invisível.  A  carne  odeia  a  alma  e  a  combate  sem  haver  sofrido injustiça,  porque  a  impede  de  gozar  dos  prazeres;  também  o  mundo  odeia  os cristãos, sem ter sofrido ofensa, por se oporem aos prazeres. A alma ama a carne que a odeia e os membros; assim os cristãos amam os que os detestam47.A  carta  a  Diogneto  nos  demonstra  como  deve  ser  a  vida  de  um  cristão,  sem  apego  aos  bens materiais e ter uma vida voltada à oração e ao testemunho. Devemos estar em unidade com os irmãos e irmãs, respeitando as diferenças sendo a unidade na diversidade nos dizeres de santo Inácio.  Os  cristãos  não  devem  se  distinguir  dos  demais,  devem  estar  junto  de  todos,  mas, sempre  com  uma  ideia  bem  clara  na  mente:  “Estar  na  carne, mas  não  viver  segunda  a carne”.48Isto é, anunciar o Reino de Deus a toda criatura como o próprio Senhor Jesus Cristo ordenou  aos  Doze.  Todos  nós  hoje,  somos  convidados  a  dar  continuidade  ao  chamado  do Senhor e sermos como a carta a Diogneto exorta: ser a presença de Deus no mundo.

CONCLUSÃO

O presente trabalho tentou analisar a relação entre fonte, história e Igreja. Observamos, então, que as fontes só podem ser reconhecidas como verdadeira se confiáveis com a cientificidade da história. De fato, a história contribuiu muito para chegarmos a textos pouco conhecidos  e codificá-los. A história  que  nos  dá  as  ferramentas  necessárias  para  interpretar qualquer documento. Sem essas ferramentas podemos cair no subjetivismo e correr grave risco de nos perder.  As fontes  devem  ser  interpretadas  com  o  auxílio  das  melhores  ferramentas  possíveis para que seu conteúdo seja corretamente degustado e entendido. A Igreja desde muito cedo foi favorável à utilização de métodos e abordagens para interpretar tanto  a  Sagrada  Escritura  quanto  os Santos Padres.  As fontes  são  de  suma  importância  para que  a  Igreja  não  se  perca  no  decorrer  dos  séculos  do  caminho  orientado  por  Nosso  Senhor. Sempre  que  surgem  dúvidas  e  erro sao  longo  dos  anos,  volta-se  à  leitura  dos  primeiros cristãos, para que haja renovação a nos identificar e nos configurar com o  caminho proposto pelo Cristo.

A credibilidade da fé passa por um processo de configuração a Cristo. Damos testemunho da testemunha. É o próprio Deus que dá testemunho de si mesmo. Uma das grandes questões da atualidade  é o testemunho.  Ou  nós  encontramos o caminho  como  critério  efetivo  de  uma prática  de fé ou caímos no  descrédito.  A Igreja fala e trabalha  com a ideia  do  sagrado,  mas quando não vive o que fala, gera escândalo. O papa Francisco tem chamado a atenção para esse assunto, quando do questionamento feito na Jornada Mundial da Juventude: Porque o padre tem que andar de ferrari? Porque os bispos tem  que  ficar  em  aeroportos? No encontro de novos bispos ele afirma: “É necessário que os bispos  deixem  de  serem bispos  de  aeroporto se sejam bispos do povo”49.Porque  um  bispo precisa de uma mesa de 60 metros? Há questões que são escandalosas. A Igreja é chamada a seguir  de  fato  os  passos  de Jesus  Cristo,  que  se  fez  pobre (LG 8).É necessário  que  sempre voltemos  aos  primórdios da  Igreja e  corrijamos  o  caminho  que  estamos  trilhando  para  nos configurar Àquele que nos chamou.

FONTES : 
ALVES,  Alexandre.  OLIVEIRA,  Letícia  Fagundes  de. Conexões  com  a  história.  1ª  Ed.  São Paulo:Moderna, 2010.ANCHIETA,  José  de. Cartas–Correspondência  Ativa  e  Passiva.  2ª  Ed.  São  Paulo:  Loyola, 1984.BACELLAR, Carlos et al. Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005.BÍBLICA,  Pontifícia  Comissão. A  Interpretação  da  Bíblia  na  Igreja.  9ª  Ed.  São  Paulo: Paulinas, 2013.BORGES, Vavy Pacheco. O que é História. 2ªEd. São Paulo: Brasiliense, 1993.BRAICK,  Patrícia  Ramos. História:das  cavernas  ao  terceiro  milênio.  2ª  Ed.  São  Paulo: Moderna, 2010.CARTA  A  DIOGNETO.  Tradução:  Abadia  de  Santa  Maria.  Introdução  e  Notas:  Dom Fernando Antônio Figueiredo. 2ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.CARTA  DE  SÃO  CLEMENTE  ROMANO  AOS  CORÍNTIOS.  Primórdios  Cristãos  e Estrutura. Tradução: Dom Paulo Evaristo Arns, OFM. Petrópolis: Vozes, 1970.CARTAS  DE  SANTO  INÁCIO  DE  ANTIOQUIA.  Comunidades  Eclesiais  em  Formação. Tradução: Dom Paulo Evaristo Arns, OFM. Petrópolis: Vozes, 1970.CESAREIA, Eusébio de. História Eclesiástica. Tradução: monjas beneditinas do mosteiro de Maria Mãe de Cristo. Ed. Patrística n.15. São Paulo: Paulus, 2000.COLLETE, Carlos Hastings. Inovações no Romanismo. Ourinhos: Edições Cristãs, 2001.CONCÍLIO  VATICANO  II. Constituição Dogmática  DEI  VERBUM.  São  Paulo:  Paulinas, 2013. DESCARTES, Rene. Discurso do Método -Comentários de Étienne Gilson.Tradução:Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão.São Paulo: Martins Fontes, 2011.DESCARTES,  Rene. Discurso  do  Método –Notas  de  Gérard  Lebrun.Tradução:Jacob Guinsburg e Bento Prado Jr. -São Paulo: Difel –Difusão Europeia do Livro, 1962.DESCARTES, René [1596-1650]. Meditações metafísicas[1641].DIDAQUÉ. Catecismo dos primeiros cristãos. 9ªEd. São Paulo: Vozes, 2009.FIGUEIREDO, Dom Fernando Antônio. O Amanhecer da Igreja. São Paulo: Larousse, 2012.LEVA, José Ulisses. O Esplendor da Igreja e a Fé em Jesus Cristo. Revista Eletrônica Espaço Teológico. Vol. 7 –N.12. São Paulo, 2013.LEVA, José Ulisses. Nos Fatos da História: o evento salvífico –XV séculos de Igreja. Revista de Cultura Teológica. Ano XX -N. 80. São Paulo, 2012.MONTAIGNE,  Michel  de.  Ensaios;  tradução  Sérgio  Milliet –Porto  Alegre:  Abril  Cultural, 1972.

Fernando Vanini de Maria










Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem

"A leitura abre as janelas do entendimento e desperta do sono a sabedoria"