FESTA JUNINA, UMA AUTENTICA FESTA CATÓLICA.


 Embora não haja um consenso absoluto sobre a origem da festa junina, existem algumas possibilidades históricas que contribuem para sua associação com o calendário religioso.

Em primeiro lugar, uma dessas possibilidades está relacionada à coincidência temporal entre as festividades pagãs realizadas no solstício de verão, que ocorria na segunda metade de junho no hemisfério norte, e as festas dos santos católicos. O solstício de verão era um momento de grande significado para os povos antigos, pois marcava o fim do inverno e o início da época de colheita. Era um momento de expressar gratidão pelas dádivas recebidas e celebrar a abundância que a terra proporcionava.

No entanto, a proximidade entre essa celebração pagã e as festas dos santos da tradição católica trouxe uma nova dimensão para a festa junina. Por coincidência temporal, as festividades cristãs em honra a Santo Antônio, São João e São Pedro ocorrem no mesmo período. Dentre esses santos, destaca-se São João, cujo dia é comemorado em 24 de junho, pois a festa junina passou a ser conhecida também como “Festa Joanina”, em referência ao santo. 

Essa conexão com a figura de São João trouxe um sentido cristão à celebração, que ganhou um novo significado. A Festa Joanina tornou-se uma oportunidade de unir a fé católica com a alegria das danças, comidas típicas e tradições populares que permeiam essa festividade.

Além disso, nas comemorações juninas, podemos encontrar uma mistura de símbolos e tradições. Desde as fogueiras que iluminam a noite, lembram-nos do fogo purificador e favorecem o acolhimento comunitário, até a dança da quadrilha, que simboliza a harmonia e a união. Também as comidas típicas, como o milho, o quentão e o pé-de-moleque, lembram a fartura das colheitas e são compartilhadas com alegria entre amigos e familiares.

A fogueira de São João na festa junina

A fogueira de São João é, sem dúvida, um elemento tradicional de toda festa junina. A sua origem conta com diferentes narrativas e interpretações. Alguns relatos sugerem que os pastores acendiam fogueiras para iluminar e aquecer os cordeiros durante a noite, enquanto outros afirmam que Santa Isabel acendeu uma fogueira para anunciar o nascimento de João Batista.

Diante dessas diferentes versões, é prudente referirmo-nos à fogueira de São João como um “luzeiro de anúncio”, em consonância com a própria figura de São João Batista  aquele que veio para anunciar a chegada do Messias, a luz do mundo. “Houve um homem, enviado por Deus, que se chamava João. Este veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.” 

Assim, a fogueira de São João torna-se um símbolo representativo desse chamado, uma luz que brilha na escuridão, indicando a presença divina. Ela carrega consigo o espírito de São João Batista, que nos convida a preparar o caminho para Jesus e a acolher a luz da salvação.

Dessa forma, ao contemplarmos a chama da fogueira de São João, somos convidados a refletir sobre nossa própria missão como cristãos, de sermos portadores da luz e do amor de Cristo em um mundo marcado pela escuridão e pelo pecado. São Paulo nos recorda tal chamado na sua carta aos Filipenses: […] “filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo, a ostentar a palavra da vida.” 

Os santos das festas juninas

Santo Antônio

Santo Antônio, também conhecido como Santo Antônio de Pádua, nasceu em Lisboa, Portugal, por volta do ano 1195. Embora seja amplamente reconhecido como o “santo casamenteiro”, seu legado vai muito além dessa fama. 

Após entrar para a Ordem Franciscana, Santo Antônio dedicou-se à pregação e à defesa da fé católica. De tal forma que se tornou conhecido como o “martelo dos hereges”, combatendo vigorosamente as heresias e buscando preservar a integridade da doutrina cristã.

Sua profunda devoção a Deus, sua sabedoria e seus dons de pregação cativaram o coração das pessoas, tornando-o um pregador influente e amado. Santo Antônio viajou extensivamente, levando a mensagem do Evangelho a diversas regiões e atraindo inúmeras almas para Cristo.

Em relação à festividade junina, Santo Antônio é lembrado e reverenciado como um dos santos patronos das celebrações. Nesta época, muitos se lembram do santo apenas com o intuito de pedir a sua intercessão para encontrar um amor. No entanto, celebrar Santo Antônio, a 13 de junho, é uma oportunidade para refletir sobre a sua vida e santidade e, assim, deixar que o seu exemplo nos inspire também a combater os erros contra a fé e a promover a verdade do Evangelho em nosso meio.

O seu testemunho de vida nos recorda a importância de estarmos sempre dispostos a defender a verdade e a amar a Deus e ao próximo, em quaisquer circunstâncias.

São João

São João Batista, o principal santo da festa junina

Antes de tudo, São João Batista é conhecido como “O Precursor”, sendo o último dos profetas do Antigo Testamento e o primeiro a apontar para a chegada de Jesus como o Salvador. Sua missão era preparar o coração das pessoas para a vinda do Messias.

Por isso, São João Batista é uma figura central no cristianismo. Inclusive, de acordo com a tradição católica, geralmente se celebra o dia de um santo na data de sua morte, havendo apenas duas exceções notáveis: a Virgem Maria e São João Batista. Essa particularidade ressalta a importância única desses santos na história da salvação e na vida da Igreja.

João Batista nasceu em uma família sacerdotal judaica, com seu pai sendo o sacerdote Zacarias, e sua mãe, Isabel. Desde a infância, ele demonstrou uma vida de retidão e dedicação à vontade de Deus; viveu no deserto, onde se dedicava à oração, à penitência e à pregação do arrependimento e do batismo como um sinal de purificação espiritual.

Ele também foi quem batizou Jesus nas águas do rio Jordão — um momento significativo que marcou o início do ministério público de Jesus. Além disso, João Batista reconheceu Jesus como o Messias e testemunhou a vinda do Espírito Santo sobre Ele. “João recusava-se: “Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!”. Mas Jesus lhe respondeu: “Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa”. Então, João cedeu. Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus.” 

Durante as festividades juninas, São João Batista é reverenciado como um dos santos populares, juntamente com São Pedro e Santo Antônio.

São Pedro

Também conhecido como São Pedro Apóstolo, é uma figura central no cristianismo. Nascido com o nome de Simão, ele era um pescador de profissão e foi chamado por Jesus para se tornar um de seus discípulos. “Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão (chamado Pedro) e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes: “Vinde após mim e vos farei pescadores de homens”. Na mesma hora, abandonaram suas redes e o seguiram.” 

Depois, Jesus deu a Simão o nome de Pedro, que significa “pedra” ou “rocha”, que remete à confiança e à liderança que ele teria na comunidade cristã. São Pedro se tornou um dos doze apóstolos escolhidos por Jesus e desempenhou um papel fundamental na propagação do cristianismo. Ele foi testemunha ocular dos ensinamentos de Jesus, de seus milagres, de sua crucificação e de sua ressurreição.

Após a morte e ressurreição de Jesus, São Pedro emergiu como uma figura chave na igreja primitiva. Ele se tornou o líder dos apóstolos e foi reconhecido como o primeiro papa, estabelecendo a autoridade papal e a sucessão apostólica. Este santo— que antes negou Cristo por fraqueza  é hoje conhecido por sua coragem, zelo e fé inabalável.

Depois de Pentecostes, ele pregou o evangelho em diversos lugares, enfrentando perseguições e desafios. Segundo a tradição, ele foi martirizado em Roma, crucificado de cabeça para baixo a seu próprio pedido, por considerar-se indigno de morrer da mesma forma que Jesus.

O santo está associado à festa junina em virtude da tradição popular que o relaciona com as festividades dos santos populares que ocorrem nesse período. A festa de São Pedro, comemorada em 29 de junho, é uma parte significativa das festividades juninas em muitas regiões.

A festa junina é um exemplo vivo de como a fé pode permear a cultura popular de maneira significativa. Essa festividade tradicional é profundamente influenciada pela fé católica, tornando-se um ponto de encontro entre a religião e a cultura.

Ao longo dos anos, a festa junina tem desempenhado um papel importante na preservação e na transmissão dos valores e ensinamentos da fé católica. Ela oferece uma oportunidade para que a mensagem de Cristo seja compartilhada e vivenciada de forma mais ampla, alcançando pessoas de diferentes origens e tradições.

A festa junina reúne elementos como a dança, a música, a comida típica e as vestimentas coloridas, que refletem a alegria e a exuberância da fé católica. Por meio dessas manifestações culturais, a festa junina proporciona um ambiente acolhedor e festivo, onde a fé pode ser celebrada de maneira autêntica e envolvente.

Além disso, a festa junina fortalece os laços comunitários e promove um senso de pertencimento à grande família da Igreja. As celebrações em conjunto, as orações e os momentos de devoção compartilhados durante a festa junina reforçam a unidade dos fiéis e a importância de viver a fé também de maneira coletiva.

Ao reconhecer a importância de a fé permear a cultura popular, como na festa junina, abrimos portas para que as pessoas possam experimentar a presença de Deus em sua vida cotidiana, encontrando na cultura elementos que ressoam com suas crenças e valores. Assim como São João Paulo II bem nos recorda que “A Igreja abre as suas portas e torna-se a casa onde todos podem entrar e sentir-se à vontade, conservando as próprias tradições e cultura, desde que não estejam em contraste com o Evangelho.”

Que a vida de Santo Antônio, São João e São Pedro nos encoraje na vivência diária de nossa fé. E que, a partir de hoje, ao olhar para a fogueira de São João, recordemo-nos de nosso chamado: “Assim, brilhe vossa luz dian­te dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus.” 


Referências

Jo 1, 6-8

Fl 2, 15-16

Mt 3, 14-16

Mt 4, 18-20

São João Paulo II, Carta Encíclica, Redemptoris Missio

Mt 5, 16

Fernando Vanini de Maria

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