O QUE É O LIMBO.

 



Antes da vinda de Cristo ao mundo, todos estavam ainda em estado de pecado. O pecado original, que contaminou a humanidade desde a queda de Adão e Eva, não poderia ser remetida, uma vez que a graça de Deus ainda não foi conquistada e merecida por Jesus em Seu sacrifício vicário na Cruz. Sem a morte de Cristo, não havia perdão dos pecados. Mesmo os bons, os justos, não puderam, após a morte, desfrutar da visão beatífica, não puderam ir para o céu, uma vez que estavam “sujos” em seus pecados.

Entretanto, ainda que pecadores, alguns ansiavam pela vinda do Messias, esperavam um Salvador, e, desta maneira, comportavam-se de modo piedoso, procurando agradar a Deus. O Antigo Testamento está cheio desses homens e mulheres piedosos: Noé, Melquisedeque, Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Samuel, Davi, Aarão, Sara, Rute, Jó, Judite, Josué, Sansão, Gideão, Jonas, Isaías, Elias, Eliseu, Jeremias etc. Não poderiam ir para o céu por causa da mancha do pecado original do qual não tinham sido perdoados, visto ainda ter acontecido a morte sacrifical de Cristo. Por outro lado, por sua piedade (movida pela fé e, sobretudo, pela virtude teologal da esperança), não estavam sujeitos à pena de sentidos no inferno.

A condenação ao inferno, lembremos, acarreta duas penas: a pena dos sentidos (o fogo, a dor), e a pena de dano (a separação eterna de Deus, nosso Sumo Bem). Os pecadores, aos serem condenados ao inferno, sofrem as duas: a de sentidos e a de dano. A pena de dano é conseqüência da presença do pecado original. A de sentidos é conseqüência de pecados pessoais.

Já os homens justos do Antigo Testamento (e, neste conceito, estão todos os bons que viveram antes de Cristo), por não poderem ir para o céu – pois estavam em pecado -, mas, tampouco, ser correto lhes aplicar a pena de sentido – visto que não tinham pecados pessoais, ou dele terem se arrependido -, ao serem condenados ao inferno, recebiam somente a pena de dano, i.e., a ausência de Deus. O lugar do inferno em que se aplica somente a pena de dano, sem a pena de sentidos, chama-se “círculo exterior do inferno”, ou, propriamente, limbo.

O limbo é um lugar onde não se sofre a pena de fogo ou as dores a que estamos acostumados a ver retratadas em obras de arte, porém somente a pena da ausência de Deus. Os homens justos antes de Cristo não poderiam sofrer o fogo do inferno, mas também não poderiam ir para o céu. Daí irem para o limbo – onde sofreriam a pena de dano, pelo pecado original.

Quando rezamos no Credo Apostólico “desceu à mansão dos mortos”, ou, noutra tradução, “desceu aos infernos”, estamos falando que cremos que, depois de Sua morte, Jesus foi ao limbo dos patriarcas, esse lugar onde estavam os homens do Antigo Testamento, e Se lhes mostrou vencedor do pecado. Aquele que eles esperavam, e por cuja esperança foram salvos da pena de sentidos, agora, por Sua morte, poderia lhes aplicar a remissão dos pecados, possibilitando que fossem para o céu. A Tradição diz que Jesus pregou aos mortos do limbo, e levou todos, de Adão até o último homem justo para o céu. Esse limbo era temporário, até que Cristo conquistasse a graça necessária, na cruz, para lhes salvar plenamente.

A existência desse limbo dos patriarcas é artigo de fé, é dogma, está no Credo.

Já outro limbo existe. O dos infantes, das crianças.

Sabemos que todos nascemos com o pecado original, exceto Nosso Senhor e a Santíssima Virgem – em atenção aos méritos de Jesus. Pois bem, em pecado ninguém pode ver a Deus. Todos os que morrem em estado de pecado não podem ver a Deus. Assim, quando morremos com pecados pessoais mortais vamos para o inferno. E quando morremos com pecados pessoais veniais, ou em estado de graça mas sem satisfazer completamente pelos pecados já perdoados, vamos para o céu passando antes pelo purgatório. Isso em relação aos pecados pessoais.

Sabemos também que o pecado original – e os pessoais dos adultos – são apagados pelo Batismo. E o pecado pessoal é apagado pela confissão sacramental.

Ora, se uma criança é batizada e morre antes da idade da razão, não tem mais o pecado original – apagado pelo Batismo -, nem teve tempo de cometer pecado pessoal algum (pois o pecado precisa ser consentido): logo, irá diretamente para o céu. Alguém que foi batizado adulto, igualmente, e morre antes de cometer outro pecado pessoal depois do Batismo, tem o mesmo destino. Ou o que morre depois de confessar-se, antes de outro pecado, vai para o céu, passando ou não pelo purgatório, dependendo de haver nele pena temporal a cumprir, a satisfazer pelo pecado já perdoado.

Mas, e se uma criança, que não tem o uso da razão, morre sem ser batizada? Nela há pecado original – pela ausência do Batismo -, porém não um pecado pessoal – pois não há o uso da razão. O mesmo caso é de um doente mental, completamente privado das faculdades racionais, que não seja batizado. Não cometeram – a criança ou o doente do exemplo – pecado pessoal algum. Todavia, resta neles o pecado original.

Pelo pecado original, não podem ver a Deus. É artigo de fé que todas as almas que partem deste mundo em estado de pecado não podem ter a visão beatífica, e que o estado de pecado original não permite nem mesmo a purificação no purgatório.

Por outro lado, não tendo cometido pecado pessoal, não podem, no outro mundo, receber a pena de sentidos.

Assim, não podendo ver a Deus por causa do pecado original não apagado – recebendo pena de dano -, mas não podendo receber pena de sentidos – pela ausência de pecado pessoal -, sofrem os não-batizados desprovidos da razão o destino dos patriarcas: o limbo. Como o limbo dos patriarcas, trata-se do círculo exterior do inferno, onde eles NÃO sofrem o fogo, NÃO sofrem da mesma maneira que os condenados.

Alguns acham injusto que crianças não-batizadas possam ir para o limbo, porque dele fazem uma idéia semelhante ao inferno ou ao purgatório. De modo algum! O limbo é um estado de felicidade natural, dado que os não-batizados que não tem uso da razão sequer entenderam a existência de Deus, de maneira que o fato de não poderem vê-Lo não constitui pena tão dura. É como alguém que nunca ouviu falar de lasanha sofrer por não poder comê-la: ele nunca ouviu falar, logo não pode sofrer tanto pelo fato de não degustá-la.

No limbo dos infantes, as crianças não-batizadas não vêem a Deus, mas também não sofrem como os condenados do inferno (que ouviram falar de Deus, por isso a pena de dano é mais dura; e que sofrem, ainda mais, a pena de sentido). E quando Cristo voltar em Sua segunda vinda, Lhes dará a revelar o Pai, extinguindo o limbo. Os que lá estão, portanto, conosco irão para o céu. Como o limbo dos patriarcas, o dos infantes também é temporário.

A existência do limbo dos patriarcas é artigo de fé. A do limbo dos infantes não. A Igreja nunca afirmou solenemente sua existência. Todavia, nunca a negou, e TODOS OS DOUTORES DA IGREJA, ESPECIALMENTE SANTO TOMÁS DE AQUINO e a maioria dos teólogos sérios e dos grandes santos DISSERAM QUE ELE EXISTE. Assim, embora não seja verdade de fé, dogma, a existência do limbo dos infantes é, digamos, uma doutrina que tem mais “chance de ser verdadeira do que falsa”. Assim, no limbo dos patriarcas,  como católicos, somos obrigado a crer; e no limbo dos infantes, não somos  obrigados a crer, mas seria RECOMENDÁVEL que cressemos (por causa das autoridades que dizem que ele existe).

É mais provável que o limbo dos infantes exista. Enquanto a Igreja não se pronunciar, sem embargo, somos livres para crer ou não. Mas é melhor que creiamos, salvo se houver PODEROSAS razões para dele duvidar. Como não somoss teólogo e, não dominamos a ciência sagrada, é mais inteligente, sábio e humilde de nossa parte crer até a palavra final da Igreja.


Fernando vanini de maria

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