UM POUCO MAIS SOBRE O SANTO SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO.


 Porque devemos nos confessar.

Deus, no seu amor paternal, deseja que todos os pecadores voltem para junto dele. Ele quer que nos afastemos dos nossos pecados, que nos convertamos a ele, nosso supremo Senhor e fim eterno. Jesus Cristo nos diz no Evangelho: ?Fazei penitência, pois o Reino dos Céus está perto.? (Mat. IV,17).

Mas para nos ajudar a fazer a penitência, Deus nos dá uma virtude especial para que tenhamos forças para nos arrependermos de nossos pecados. Essa força especial é a Virtude de Penitência.

Pela virtude de Penitência, que Deus coloca no nosso coração, Ele nos leva a reconhecer toda Sua bondade, toda Sua santidade e como nós O ofendemos e O deixamos triste quando cometemos nossos pecados. Só mesmo conhecendo a Santidade, a Justiça e o Amor de Deus é que podemos reconhecer como nossos pecados ofendem a Deus.

Deus quer que tenhamos grande arrependimento por nossos pecados.

O que quer dizer “se arrepender”? 

Arrepender-se quer dizer não querer de maneira nenhuma continuar com a alma manchada pelo pecado, sentir uma dor profunda por ter traído a bondade de Deus, ter ofendido e entristecido a Deus, que nos ama tanto.

Na nossa família nós temos um bom exemplo do que é o arrependimento, quando deixamos nossos pais tristes e ofendidos. Logo vem aquela dor, aquela vergonha e, ao mesmo tempo, a certeza de que eles vão nos perdoar, se pedirmos desculpas, porque sabemos que eles nos amam muito. Com Deus também acontece assim. Com essa diferença: o arrependimento dos nossos pecados nos abre novamente as portas do Paraíso, nos devolve a amizade com nosso Deus, que morreu na Cruz para nos salvar.

Mas se não tivermos o arrependimento, será que Deus nos perdoará dos nossos pecados? É fácil perceber que sem um sincero arrependimento, Deus não pode nos perdoar.

Há vários tipos de arrependimento pelo pecado:

– Arrependimento humano: estamos arrependidos porque temos medo do castigo que receberemos de nossos pais. Esse arrependimento humano nada adianta para o perdão dos pecados.

– Arrependimento imperfeito: chama-se também contrição imperfeita ou atrição ? estamos arrependidos porque temos medo do castigo de Deus.

– Arrependimento perfeito: chama-se também contrição perfeita ? estamos arrependidos não mais por causa do castigo dos pais ou de Deus, mas porque ofendemos a Deus, traímos o amor de Deus, nosso Pai tão bom e amoroso, nosso Redentor e Salvador. Esta dor é chamada perfeita porque vem do amor que sentimos por Deus. É essa contrição perfeita que nós manifestamos quando rezamos o Ato de Contrição. Devemos saber de cor o Ato de Contrição para rezá-lo no confessionário e também em todos os momentos de tentação e perigo de nossa vida.

"Meu Deus, eu tenho muita pena de ter pecado, pois ofendi a Vós, meu sumo Bem, e mereci os castigos de Vossa justiça. Perdoai-me, Senhor, não quero mais pecar”.

Existe um Ato de Contrição mais bonito e mais completo:

«Senhor meu Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro, criador e redentor meu, por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas, e porque Vos amo e estimo, pesa-me Senhor, de todo o meu coração de Vos ter ofendido; pesa-me também de ter perdido o céu e merecido o inferno; e proponho firmemente, ajudado com o auxílio da Vossa divina graça, emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender. Espero alcançar o perdão das minhas culpas pela Vossa infinita misericórdia. Amém.»

Porém, só o arrependimento não basta! É preciso que ele seja acompanhado pelo bom propósito. O que é o propósito?

É a vontade firme e sincera de não mais cometer aquele pecado.

Se tivermos a contrição perfeita e o firme propósito de não mais pecar, devemos esperar com toda confiança o perdão de Deus. Ele é infinitamente misericordioso, chegando até a enviar seu Filho, o Verbo Encarnado, Jesus Cristo, para morrer pagando nossos pecados.

Essa virtude de Penitência não serve apenas para que nasça em nosso coração o arrependimento e a dor por ter pecado. Ela nos ajuda ainda a realizar certos atos exteriores, as obras de penitência, que servem para diminuir a pena do Purgatório, que teremos de pagar antes de irmos para o Céu; serve para dominar nossas más inclinações, nossos defeitos dominantes; e, também, para nos fortificar no bem.

São obras de penitência: rezar, jejuar, dar esmolas, suportar com paciência os sofrimentos e contrariedades, aceitar os incômodos da vida. A melhor obra de penitência é receber o Sacramento da Penitência, que é a Confissão.

A Tentação, o Pecado e o Sacramento da Confissão

Deus quer que a nossa vida aqui na Terra seja um tempo de provação, para podermos alcançar a glória do Paraíso, não somente como um presente mas também como prêmio pela vitória. Por isso Ele permite que sejamos tentados e mesmo que, por nossa fraqueza, façamos pecados, pondo assim em risco a nossa Salvação Eterna.

A Tentação

Quando Jesus foi tentado no deserto, levou-o o demônio a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória e disse-lhe: ” Tudo isso lhe darei se, prostrado em terra, me adorares. Respondeu-lhe Jesus: Afasta-te Satanás! Pois está escrito: adorarás ao Senhor teu Deus e só a Ele servirás. Então o demônio o deixou e eis que vieram os anjos e O serviram.” (S. Mateus, IV, 8-11).

Enquanto vivermos na Terra estaremos sujeitos à tentação. O demônio emprega toda sua astúcia e maldade para fazer com que pequemos e nos condenemos para sempre.

Deus permite a tentação. Ele quer nossa vitória, mas ao mesmo tempo Ele quer que nós saibamos reconhecer nossa fraqueza ficando humildes: a luta deve também nos fortificar para que nossa recompensa seja, um dia, ainda maior.

Deus nos ajuda na tentação. Ele é fiel: se Ele permite que sejamos tentados, Ele também nos dá as graças para vencer a tentação. Deus está sempre do nosso lado.

Como fazer quando somos tentados?

Devemos resistir imediatamente à tentação e invocar o auxílio de Deus. Às vezes bastará uma oração jaculatória ou o Sinal da Cruz. Muitas vezes o melhor é não fazer caso da tentação, ocupar-se com alguma outra coisa e acabar esquecendo o pecado. Devemos evitar as más companhias que podem nos conduzir à ocasiões de pecado.

Sentir uma tentação é pecar?

Não. Só haverá pecado se nós consentirmos na tentação, ou seja, se nós aceitarmos o pecado que a tentação propõe. Mas já é pecado se nos expormos à tentação ou não a combatermos com fervor.

Para a minha vida: Na tentação direi: Nunca, Jamais! e rezarei: Senhor, ajudai-me!

A tristeza e o abatimento são os maiores aliados da fraqueza e do mal. Por isso sejam sempre alegres.

Os Santos nos ensinam:

“Quem não é tentado não é provado: quem não é provado não progride” (Sto. Agostinho).

“Quanto mais se luta, mais se demonstra o amor a Deus” (Sta. Tereza D?Ávila).

“Se nos deixarmos levar pela mão de Deus, venceremos o demônio: se combatermos sozinhos, seremos vencidos” (Sto. Agostinho).

O Pecado

Muitas vezes não damos ouvidos aos conselhos de Deus, mas consentimos na tentação. Pecamos contra Deus, Sua vontade e Sua ordem. Desobedecemos à Lei de Deus com consciência, querendo fazer o pecado.

O pecado pode ser mortal ou venial.

O Pecado Mortal ? O pecado mortal é um pecado sobre matéria grave, onde desobedecemos os mandamentos de Deus ou da Igreja. Para ser mortal, deve haver matéria grave e vontade firme de pecar.

O que quer dizer matéria grave? Vamos dar um exemplo. Todos sabem que roubar é pecado. Se você rouba uma bala de um amigo da escola, a matéria do pecado é leve, é muito pouca coisa. Se você rouba um saco de balas ou a carteira de dinheiro, a matéria do pecado é grave.

O que quer dizer vontade firme? Dizemos também: ter pleno consentimento do pecado. Ou seja, você sabe perfeitamente que aquilo é pecado, você poderia recusar, mas você faz assim mesmo. Todas as vezes que fazemos algo contra os dez mandamentos da Lei de Deus e contra os cinco mandamentos da Igreja, em que há matéria grave e pleno consentimento, cometemos pecado mortal.

O pecado mortal é uma grave injúria que se faz a Deus. Com o pecado mortal o homem se rebela contra seu Criador e Senhor. Deste modo, ofende a Deus, Santidade infinita, e retribui com a mais vergonhosa ingratidão ao amor de seu bondoso Pai e de seu Redentor crucificado.

O pecado mortal é, ao mesmo tempo, uma terrível desgraça para o homem: rouba-lhe a vida da graça e a amizade de Deus: ele perde todos os méritos que já tinha ganho; passa a merecer a condenação eterna do inferno e os castigos temporais. Enquanto o pecador não se arrepender, estará morto para o Céu.

“É impossível que venha a cometer um pecado mortal o homem que reza com verdadeiro fervor e continuamente invoca a Deus” (S. João Crisóstomo).

O Pecado Venial – É o pecado que não nos afasta inteiramente de Deus, mostra certa negligência do nosso amor e serviço de Deus, mas não chega a ser uma grave traição. Esses pecados podem ser perdoados sem a Confissão, bastando rezar um Ato de Contrição, pedir sinceramente perdão a Deus e não querer fazer mais aquilo. Deus perdoa assim o pecado venial. Eles não acarretam a morte eterna e o inferno, mas não deixa de ferir nossas almas e aumentar o tempo do Purgatório.

Comete-se pecado venial quando se peca em matéria menos grave, como por exemplo o que vimos do roubo de bala. Podemos cometer pecado venial também por falta de vontade firme de não pecar.

Por isso, a grande importância da Confissão freqüente. Mesmo que estejamos arrependidos de ter feito algo que consideramos errado, o melhor que temos a fazer é  nos confessarmos. Na Confissão, o Padre poderá esclarecer todas as nossas dúvidas, e certamente ficaremos mais tranqüilos e felizes por recebermos a Santa Comunhão e vivermos em constante estado de graça.

Mas não é porque o pecado venial seja leve que podemos viver pecando assim. Todo pecado, mesmo venial, é uma ingratidão para com nosso Pai Celeste. Devemos nos esforçar para evitar também os pecados veniais. Além disso eles nos prejudicam, principalmente quando os cometemos deliberadamente. Perdemos por causa deles muitas graças e diminui em nós o amor de Deus e o gosto pelo Bem. E, depois, com a alma enfraquecida com muitos pecados veniais, logo virão pecados mortais. Como todo pecado, o pecado venial nos traz penas temporais que teremos de pagar ou com nossos sofrimentos aqui na Terra ou com muito sofrimento no Purgatório.

Para minha vida: Quando, na tentação, me vier um pensamento assim: … afinal, isso não passa de um pecado venial, responderei a mim mesmo: o Divino Salvador na Cruz teve de sofrer também pelos pecados veniais.

O Sacramento da Confissão

1) A Instituição do Sacramento da Penitência

Na tarde do dia da Ressurreição, apareceu Jesus aos Apóstolos e lhes disse: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim envio-vos eu. Depois destas palavras soprou sobre eles e disse: Recebei o Espírito Santo. A quem perdoares os pecados, lhes serão perdoados, e a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Evangelho de São João, Cap. XX, 19-23).

Jesus Cristo, no seu amor, vem em auxílio do pecador por meio de um Sacramento especial. Durante sua vida terrena, perdoou aos pecadores arrependidos, e na Cruz expiou a culpa de toda a humanidade. No dia da sua Ressurreição, deu aos Apóstolos e aos seus sucessores no sacerdócio, o poder de perdoar os pecados em seu nome. Instituiu assim o Sacramento da Confissão ou Penitência e o confiou à sua Igreja.

2) Quando devemos nos Confessar

Devem receber o Sacramento da Penitência todos aqueles que cometeram algum pecado mortal depois do Batismo. Não há obrigação de confessar os pecados veniais, pois estes podem ser perdoados também de outros modos, como fazendo um Ato de Contrição perfeito, rezando devotamente um Confiteor, fazendo uma boa ação por amor a Deus. Mas é muito útil confessarmos também deles, pois na Confissão Jesus Cristo vem em nosso auxílio por meio de abundantes graças próprias deste Sacramento, por exemplo, forças especiais para não pecar novamente. É, pois, muito útil confessar regularmente, mesmo os pecados veniais.

Além de confessar os pecados mortais e os pecados veniais, a Confissão também serve para expor uma dúvida que esteja nos afligindo, para pedir um conselho ao Padre, para pedir uma explicação. Essas coisas podem ser ditas em outra hora, mas o confessionário ajuda a conversar sobre a vida espiritual e moral.

3) A Forma e a Matéria da Confissão

Jesus Cristo ordenou que no Sacramento da Confissão, os pecados fossem perdoados ou retidos, ou seja, não perdoados ou deixados para uma próxima Confissão. Cabe ao Padre julgar, como juiz que ele é, se há verdadeiro arrependimento. Como o Padre não pode adivinhar os nossos pecados, nós devemos confessá-los, ou seja, declará-los, dizê-los claramente, sem esconder nenhum deles. Os nossos pecados assim ditos diante do Padre constitui a matéria do Sacramento da Confissão.

Depois que confessamos, arrependidos, os nossos pecados, o Padre nos absolve com as palavras da forma do Sacramento: Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Vemos assim que é preciso três coisas principais neste Sacramento: a matéria (os pecados confessados), a forma (absolvição pelo Padre) e o arrependimento.

4) Os efeitos da Confissão

Quando o Sacerdote nos absolve, Jesus Cristo, nosso Redentor, nos perdoa todos nos nossos pecados. Nós, que estávamos afastados de Deus pelo pecado, somos reconciliados com o Pai Celeste, pelo perdão do pecado e da pena eterna. A Confissão nos restitui, nos devolve a graça santificante, a amizade de Deus, bem como os méritos que perdemos por causa do pecado. A Confissão nos traz muitas forças para não mais pecar.

A pena eterna nos é perdoada. O que isso quer dizer?

Quando cometemos um pecado mortal, ficamos sujeitos a dois tipos de castigo:

– a pena eterna, que é a condenação ao inferno, onde nunca se vê a Deus e onde se sente ódio de Deus, de si mesmo e de todos;

- a pena temporal, que é o sofrimento do fogo que queima as almas do inferno.

Quando nos arrependemos do pecado e recebemos a absolvição, somos imediatamente perdoados da pena eterna, ou seja, não vamos mais para o inferno. Mas continuamos sujeitos à pena temporal, ao fogo. Para pagar esta pena temporal e poder entrar no Céu perfeitamente puras, as almas passam pelo Purgatório. Lá elas sofrem muito, sofrem também no fogo, mas este sofrimento tem a consolação de se saber que em breve estarão no Céu, na Felicidade Eterna, vendo a Deus face a face e podendo amá-lo e adorá-lo eternamente. Mas as almas do Purgatório sofrem muito. Por isso devemos rezar muito por elas, pedindo a Deus, à Nossa Senhora, à São Miguel Arcanjo, que levem estas almas sofredoras para o Céu.

Mas Deus nos ajuda também para diminuir o tempo que devemos passar no Purgatório. Como?

Ele permite que nós tenhamos muitos sofrimentos aqui na Terra. Quando somos católicos e conhecemos todas estas coisas que estamos estudando, aprendemos a oferecer estes sofrimentos a Jesus, em vez de ficarmos reclamando e praguejando contra Deus.

Nossas orações também servem para diminuir nossa pena temporal. Por isso, na Confissão, o Padre nos dá a penitência. Esta oração, ou a obra que o Padre nos manda fazer (jejum, esmola, sacrifício) serve para diminuir nossa pena temporal. Por isso, em vez de desejarmos penitências pequenas e rápidas, devemos nos alegrar quando o Padre nos pede algo que devemos fazer com algum esforço, pois estaremos diminuindo mais a nossa pena temporal.

5) Como devemos nos Confessar

Exame de consciência. Devemos rezar ao Divino Espírito Santo para que Ele nos ilumine sobre nossos próprios pecados. Refletimos, procuramos nos lembrar de todos os pecados que cometemos desde a última Confissão. Podemos ter ofendido a Deus por pensamentos, por atos pecaminosos, por omissões no nosso dever.

Devemos nos lembrar do pecado, mas também do número de vezes que o cometemos e de alguma coisa que possa ter agravado ou diminuído a gravidade do pecado. Tudo isso devemos dizer ao Padre.

Quando já sabemos mais ou menos o que vamos dizer ao Padre, nos aproximamos do confessionário com respeito e recolhimento. Muitas crianças não entendem bem que a Confissão é uma cerimônia religiosa, um rito, e não uma conversa com o Padre. Estamos ali diante de Deus.

Pedimos a benção ao Padre, dizemos quando foi nossa última Confissão, e dizemos todos os pecados, uma após o outro, com o número e algum detalhe importante, sem alongar muito os detalhes que nos levaram a cometer o pecado. Se for necessário algum detalhe a mais, o Padre perguntará. Não podemos esconder nenhum pecado grave, pois isso tornaria a Confissão inválida e estaríamos abusando da bondade de Deus. Muitas pessoas, por vergonha, escondem algum pecado. O Padre, que não pode adivinhar, dá a absolvição, mas Deus não perdoa uma alma mentirosa. Depois aquela pessoa vai para a Missa e ainda comunga, cometendo o pecado de sacrilégio. Tenhamos sempre sinceridade nas nossas confissões.

Quando terminamos de confessar, ouvimos os conselhos do Padre. Sempre aprendemos alguma coisa boa para nossa alma nesta hora. Prestemos muita atenção! E procuremos agir segundo estes conselhos, principalmente quando se trata de reparar algum mal causado aos outros, como pedir desculpas a alguém, devolver algo roubado, etc. O Padre, nesta hora, nos dará a penitência, que rezaremos assim que possível, de preferência logo após a Confissão, em união à Paixão de Nosso Senhor. Depois, ele nos manda rezar o Ato de Contrição. Enquanto rezamos, ele nos dá a absolvição, que termina com esta bela oração:

«Que a paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, os méritos da bem-aventurada Virgem Maria e de todos os Santos, e tudo o que tiverdes feito de bom e suportado de mal, vos seja aplicado para a remissão dos pecados, aumento das graças e para a recompensa da vida eterna. Amém.»

Que Deus não permita que nos afastemos algum dia da prática da Confissão regular, meio seguro de alcançar a salvação eterna!

Sobre o Jejum, que é outro modo de Penitência, expomos um artigo que irá complementar os dados e fatos já expostos com agudeza luminosa:

SOBRE O JEJUM

I. ? Pratica-se o jejum por três motivos:

1. Primeiro, para reprimir as concupiscências da carne. Donde o dizer o Apóstolo (2 Cor 6, 5): «Nos jejuns, na necessidade», porque o jejum conserva a castidade. Pois, como diz Jerônimo, «sem Ceres e Baco Vênus esfria», i. é, pela abstinência da comida e da bebida a luxúria se amortece.

2. Segundo, praticamos o jejum para mais livremente se nos elevar a alma na contemplação das sublimes verdades. Por isso, refere a Escritura que Daniel (Dn 10), depois de ter jejuado três semanas, recebeu de Deus a revelação.

3. Terceiro, para satisfazer pelos nossos pecados. Por isso, diz a Escritura (Jl 2, 12): «Convertei-vos a mim de todo o vosso coração em jejum e em lágrimas e em gemido». E é o que ensina Agostinho num sermão: «O jejum purifica a alma, eleva os sentidos, sujeita a carne ao espírito, faz-nos contrito e humilhado o coração, dissipa o nevoeiro da concupiscência, extingue os odores da sensualidade, acende a verdadeira luz da castidade».

II. ? O jejum é objeto de preceito. Pois o jejum é útil para delir e coibir as nossas culpas e elevar-nos a mente para as coisas espirituais. Ora, cada um está obrigado, pela razão natural, a jejuar tanto quanto lhe for necessário para conseguir tal fim. Por onde, o jejum, em geral, constitui um preceito da lei natural. Mas, a determinação do tempo e do modo de jejuar, conforme à conveniência e à utilidade do povo Cristão, constitui um preceito de direito positivo, instituído pelos superiores eclesiásticos. E tal é o jejum da Igreja, diferente do jejum natural.

III. ? Os tempos de jejum estão convenientemente determinados pela Igreja. O jejum é ordenado por dois motivos: para delir a culpa e para nos elevar a mente às coisas espirituais. Por isso, os jejuns foram ordenados especialmente naqueles tempos em que, sobretudo, devemos os fiéis nos purificar dos pecados e elevar a mente a Deus pela devoção. O que sobretudo se dá antes da solenidade Pascal, quando as culpas são delidas pelo batismo, celebrado solenemente na vigília da Páscoa, em memória da sepultura do Senhor; pois, pelo batismo, somos sepultados com Cristo para «morrer ao pecado», na frase do Apóstolo (Rm 6, 4). E também na festa Pascal devemos, sobretudo, pela devoção, elevar a mente à glória da eternidade, a que Cristo deu começo pela sua ressurreição. Por isso, imediatamente antes da solenidade Pascal, a Igreja nos manda jejuar; e pela mesma razão, nas vigílias das principais festividades, quando devemos nos preparar devotamente para celebrar as festas que se vão celebrar.

Ia IIae, q. CXLVII, a. 1, 3, 5.

(P. D. Mézard, O. P., Meditationes ex Operibus S. Thomae.)


Fernando vanini de maria

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