A experiência do amor do Pai, em Cristo, só é possível pela ação do Espírito Santo

 


 Podemos afirmar que , Deus se mostra como Aquele que, por excelência, gera, dá a vida. Em Sl 2,7 temos a seguinte declaração posta nos “lábios” de Deus: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei”. Paulo, em sua pregação  aos judeus, mostra que o “hoje” do cumprimento pleno dessa passagem é a ressurreição de Jesus, razão pela qual se utiliza do trecho do salmo na construção de seu discurso (cf. At 13,33). Deus, dessa forma, é nos apresentado como Aquele que revela a sua paternidade ao gerar seu Unigênito e, através d‟Ele, tudo o que foi chamado à existência (cf. Cl 1,15-16; Ef 1,3-4). É ele o “primogênito de Deus” e o primeiro a receber a unção do Espírito, já ao ser gerado antes do tempo. A obra de gerar   eternamente o Seu unigênito é uma missão realizada com uma grande alegria e um supremo prazer por parte do Pai, pode-se dizer que é esta a obra que mais compraz e deleita o Eterno Criador. no tempo previamente determinado, o Filho de Deus “nasce de uma mulher” (cf. Gl 4,4). Ele nasce como um homem que foi concebido na carne pela virtude do Espírito Santo ou na sua “sombra” e seu “poder” (cf. Mt 1,20; Lc 1,35). O mistério dessa concepção virginal pode ser visto como uma nova e radical criação, cujo protagonista é o mesmo Espírito que outrora fecundou e tornou possível a primeira criação. “Maria diz “sim” e o Espírito se manifesta, Espírito que une o Verbo ao sim, a energia divina e a energia humana, o dom e o acolhimento. Dessa aliança, finalmente consumada, entre o Verbo e a carne, o Espírito do Pai é o artífice.  Aquele que vai nascer da Filha de Sião não é concebido por um querer humano nem por um determinismo de causas, mas pelo poder do Espírito Santo.  É interessante  ressaltar aqui o perfil pneumatológico do mistério da encarnação e da união hipostática. O agente operante desse mistério é o Espírito que, como Pessoa-Amor e Dom incriado, consubstancial ao Pai e ao Filho, é, ao mesmo tempo, o sujeito da autocomunicação de Deus, fonte primeira de todos os dons e do próprio Dom incriado . Na encarnação do Filho, o Espírito se encontra hipostaticamente unido a Ele, como o é desde toda a eternidade, sobre Ele permanece e repousa,  n‟Ele realizando o desígnio de Deus. No seio da Trindade, o Espírito Santo é o vínculo de amor eterno entre o Pai e o Filho, na encarnação torna-se vínculo de união entre o Verbo e a humanidade (cf. Jo 1,14). A partir do testemunho dos evangelhos sinóticos, em particular de Lucas, podemos verificar que as pessoas e as circunstâncias que  envolvem a encarnação e o nascimento de Jesus gravitam em torno da ação do Espírito: O precursor será “repleto do Espírito desde o seio de sua mãe” (Lc 1,15), Zacarias, “repleto do Espírito Santo”, profetiza que aquela criança será chamada profeta do Altíssimo (Lc 1,67), José é informado de que “o que nela se gerou é obra do Espírito Santo” (Mt 1,20), Isabel, ao saudar Maria e o que nela havia sido concebido, “ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1,42), a Simeão é revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte antes de ter visto o Cristo Senhor (Lc 2,26). O Espírito Santo é prometido a Maria como a “força do Altíssimo” que a cobre com “sua sombra” (Lc 1,35) e nela realiza o desígnio amoroso do Pai . Concebendo por obra do Espírito Santo, Maria apresenta-se como a nova arca da Aliança inaugurada na plenitude dos tempos, sobre a qual está a glória de Deus na sua potência fecundante, de fato essa glória nos lembra a nuvem luminosa que, no Antigo Testamento, era o sinal da presença de Deus em meio ao seu povo (cf. Ex 13,22; 19,16). Em todo o seu ser, é ela a pneumatófora (portadora do Espírito) por excelência no plano das criaturas e instrumento dócil à intervenção santificadora do Espírito no plano da Salvação. De modo bem característico, Lucas vem nos apresentar  o Espírito como o grande protagonista do evento da encarnação do Verbo, a tal ponto de podermos falar em uma unção fundamental e constitutivada pessoa de Cristo. Como protagonista da encarnação, não se pode deixar de sublinhar a ligação do feminino com o Espírito Santo no mistério da encarnação. Tal como no relato de Gn 1,2, o Espírito, como poder fecundante, desce sobre Maria e, com sua ação materna e epiclética, nela gera o Cristo. Observo então que , torna-se importante em nossos dias redescobrir a vertente maternal do Espírito Santo, tão negligenciada, sobretudo pela teologia ocidental. Sabemos que já no Antigo Testamento Iahweh se mostra como um Pai que possui entranhas maternas (cf. Os 11,8; Jr 4,19; 31,9b.15-20; Is 66,13.15). Considerando o agir trinitário-econômico de Deus ao longo da revelação bíblica, não podemos negligenciar a pessoa do Espírito como “amor materno incriado”, que procede do Pai pelo Filho. Sua atuação, em geral, estará relacionada aos elementos indicadores da maternidade, gerar, fecundar, renovar, confortar, consolar. Nascido por obra do Espírito Santo, Jesus é, desde

o princípio, um “tabernáculo” do Espírito, um pneumático no sentido pleno do que esse termo pode significar.Posso concluir então que  assim como na Trindade o Espírito Santo é o elo de amor eterno entre o Pai e o Filho,

na Encarnação torna-se o vínculo de união entre o Verbo e a humanidade. Acredito que esta passagem das

Sagradas Escrituras já seria o suficiente para comentar esta atividade:  “Deus amou tanto o mundo,

que entregou o seu Filho único” (Jo 3,16). São Paulo continua: “Ele não poupou seu próprio Filho,

mas o entregou por todos nós” (Rm 8,32). E este Filho, falando de si, disse:

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).

Fernando Vanini de Maria

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