RESUMO
O presente artigo intenta perquerir a temática da Espiritualidade
Cristã que encontra na Lex orandi sua fonte mais genuína. A questão
central é esta: a liturgia é a espiritualidade da Igreja, como assevera
Neunheuser, assim, nosso estudo gravita em torno da Liturgia como locus privilegiado
da Espiritualidade Eclesial. Para isso, serão perqueridos aspectos lexicais,
históricos e teológicos do binômio espiritualidade-liturgia.
Introdução
Da
Liturgia, portanto, mas da Eucaristia principalmente, como de uma fonte, provém
a graça para nós e com maior eficácia é obtida a santificação dos homens em
Cristo e a glorificação de Deus, para a qual, como a seu fim, tendem todas as
demais obras da Igreja.1
Karl
Rahner afirmou que o cristão do século XXI ou será místico ou não será cristão,
acrescentando que não se entenda por mística os fenômenos parapsicológicos
raros, mas uma experiência de Deus autêntica, que brota do interior da
existência2 assegurando
o específico da mística cristã que é experiência do Deus Trinitário, revelado
na pessoa de Jesus de Nazaré e pela epíclise do Espírito.
Nosso
trabalho intenta, pois, perquerir a temática da espiritualidade, delimitando-a
à experiência litúrgica. Como assevera Neunheuser, a liturgia é a
espiritualidade da Igreja. Assim, nosso estudo gravita em torno da Liturgia
como locus privilegiado da Espiritualidade Eclesial.
1 Pressupostos ao tema:
espiritualidade
Para
melhor adentrar-se na temática da Espiritualidade Litúrgica, poder-se-ia mesmo
apresentar alguns pressupostos que podem clarear a mesma. Esta prefação tende a
ser uma ponderação teológica para o tema e uma busca da definição de mística.
1.2 Pressupostos teológicos
– primazia de Deus
Hodiernamente,
há uma degradação semântica do termo mística, associando-a a eventos
absolutamente alheios a qualquer referência religiosa. A mística cristã pode
cair em dois perigos, a saber, o racionalismo e o fideísmo. Quanto ao
racionalismo, a Espiritualidade foi silenciada por pertencer à categoria dos
sentimentos, do subjetivo, do metafísico. Foi silenciada, ainda, por uma
experiência fideísta, em que, centrada no individualismo e pietismo, pode
degenerar-se em fundamentalismo. A correta categorização mística escapa a ambos
os extremos, a saber,
1 SC 10.
2 Como assevera o teólogo
alemão Sudbrack, a assertiva de Rahner assinala que o termo “mística” não
remete primordialmente a uma experiência rara ou a algum fenômeno
extraordinário, mas ao lado existencial denso e inetenso da fé, ou seja, à
experiência autêntica de Deus que brota do interior da existência. SUDBRACK, J.
Mística: a busca do sentido e a experiência do absoluto. São
Paulo: Loyola, 2007.
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Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
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fideísta e racionalista;
assim, a mística é, antes, ação primaz de Deus em querer comunicar-se em uma
experiência ‘pessoal’ com místico.
A
mística cristã não é um movimento que brota de nossos desejos, de nossa busca
de Deus, do esforço meramente humano de querer encontrar-se com um Deus à nossa
disposição, pois, assim, cair-se-á no pelagianismo ou no sempelagianismo.
Entretanto, o movimento é catabático, ou seja, a primazia é de Deus, Ele que dá
o primeiro passo em direção ao homem, conforme nos ensina São João da Cruz –
“Deus nos amou primeiro”. No mesmo sentido, Santo Agostinho de Hipona assevera
que – só O buscamos porque já O encontramos.
Dado
que Deus foi o primeiro a amar-nos,3 Ele sempre detém a primazia da
ação em direção ao homem. O cume desta primazia está na teologia da encarnação
onde Jesus se fez carne e arnou sua tenda no meio de nós. Assim, assegura-se a
primazia de Deus, bem como evita a tendência antropocêntrica. A mística cristã
não é fruto do esforço e merecimento humano, é graça.
Com
esta ponderação da primazia da graça, não se afirma uma passividade humana, ou
a não colaboração humana na obra divina, nem se olvide dos aspectos históricos,
religiosos, sociais e culturais que influem na experiência mística. O místico é
alguém situado no tempo e no espaço. Nossa visão prescinde do essencialismo.4 Assim, o estudo e a
exegese dos escritos e experiências místicas devem considerar o contexto
histórico-social, religioso e psíquico da pessoa do místico.
Em
suma, a teologia da graça ilunina a compreensão da experiência mística,
balizando a centralidade de Deus. O primeiro passo é sempre de Deus, contudo,
não se olvide da colaboração humana nesta experiência. O que a teologia da
graça assegura é a ação salvífica de Deus que cria salvando e salva recriando o
homem na Páscoa de Jesus.
1.3 Pressuposto
terminológico-lexical
É
relevante neste exórdio a definição de mística.5 Contudo, esta tarefa definitória
esbarra na dificuldade de elaborar um conceito
3 Cf. 1 Jo 4, 10.
4 A visão essencialista
interpreta os textos de forma literal, afirma que a experiência mística é
imediata e realizada por Deus, prescindindo do influxo psíquico, social,
religioso e de categorias mentais. Esta visão não leva em conta que toda
experiência é uma síntese de presença e interpretação, segundo Paul Ricouer.
Portanto, em nosso trabalho, adotar-se-á a interpretação fenomenológica e da
teologia espiritual.
5 Acerca deste léxico,
afirma Pádua: “A definição etimológia desses termos vem dos termos gregos
derivados de myein, que significa a ação de fechar (os lábios ou os
olhos), silenciarTeocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 357 Lex orandi
– fonte da espiritualidade
cristã
unívoco,
quando o léxico definido é equívoco. Assim, encontram-se muitas definições.
Nesta
busca definitória, coloca-se a questão: Será que a mística deve ser entendida
partindo da ‘êxtase’, da superação da consciência ou simplesmente a partir da
experiência ‘ordinária’ com Deus? Para Poulain6 a mística situa-se no
‘extraordinário’, em oposição à concepção de Garrigou-Lagrange, segundo o qual,
a mística seria uma intensificação da fé e comum a todos os cristãos.
Corroboram a tese de Garrigou-Lagrange, Karl Rahner, Hans Urs von Balthasar.
Nós
assumiremos neste trabalho a definição de Velasco e Pádua, segundo os quais, a
experiência mística pode ser entendida como uma experiência interior, fruitiva
e imediata de união do fundo do sujeito com o todo – o universo, o absoluto,
Deus ou o Espírito.7 Segundo
Pádua, a experiência mística “[...] é realizada de maneira consciente, mesmo
que transborde os esquemas da consciência que reagem à experiência ordinária, e
provoca na pessoa alterações”.8
Outro
aspecto importante na teologia mística é a tríade lexical – mistério, mística e
mistico. Esta possui grande relevo, pois a tradição ocidental busca abarcar o
fenômeno místico sob estes aspectos que devem ser compreendidos conjuntamente,
ou ainda, aspectos que se tocam e interpenetram-se. Os léxicos da tríade querem
expressar: o mistério é a origem fontal da experiência, o místico é o sujeito
da experiência, por fim, a mística é a reflexão de ambas sob a sistematizaçãoda
ratio.9
Por
fim, outro termo que julgamos importante ponderar é mystérion. O termo mystérion
é empregado no Novo Testamento, e deve ser visto sobre o fundo de seu
emprego na cultura grega e na apocalíptica judaica. Pespectivamente querem
exprimir uma reação a uma experiência que
e,
metaforicamente, ‘iniciar-se’, perceber o caráter escondido de uma realidade
através de um rito (experiência); donde mystes significa inciciado ou
incorporado ao segredo do deus próprio de cada um dos cultos gregos; mystikós,
significa o que diz respeito à iniciação; tá mystiká são os ritos de
iniciação; mystikós advérbio que significa ‘secretamente’ e, finalmente,
mystérion, o objeto de iniciação [...]”. PÁDUA. L. P. Mística, mística
cristã e experiência de Deus. In: Atualidade Teológica 15 (2003)
344-373.
6 POULAIN, A. Des
grâces d´oraison: traité de théologie mystique. Paris: Beauchesne, 1931.
7 VELASCO, M. El
fenómeno místico. Estudio comparado. Madrid: Editorial. Trotta, 2003, p.
23.
8 PÁDUA. L. P. Mística,
mística cristã e experiência de Deus. In: Atualidade Teológica 15 (2003)
344-373.
9 PÁDUA. L. P. Mística,
mística cristã e experiência de Deus. In: Atualidade Teológica 15 (2003)
344-373.Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 358 SILVA, V. de
S.
foge
do pensamento discursivo, que não se pode formular com palavras, enquanto, na
apocalíptica, fala-se em uma variedade de ‘mistérios’ – que são a origem da
realidade oculta, transcendente a tudo que é e acontece especialmente daquilo
que será revelado no ‘fim dos tempos’. O que caracteriza seu emprego
neotestamentário é a concentração no evento crístico. Esta virada lexical e
semântica dá-se em Paulo em sua carta aos Colossenses, onde diz: “[...] o
mistério divino, que é Cristo” (Cl 2,2).
2 Breve percurso histórico da
Espiritualidade
Após a
apresentação dos pressupostos teológicos e lexicais, poder-se-ia, neste item,
trabalhar um lacônico percurso pela história da espiritualidade nas mais
variadas épocas eclesias.
Para
tanto, percorrer-se-á o período patrístico e o medieval, perpassando à época
tridentina até o século XIX, com o Movimento Litúrgico, que pode certamente ser
denominado também de renovação litúrgico-espiritual, por fim, chegando ao
Concílio Ecumênico Vaticano II. Não se busca neste item dar conta de todos os
aspectos históricos apenas um resumido percurso na história da espiritualidade.
3 Período patrístico10 e
Medievo11
No
período patrístico, são típicas as catequeses mistagógicas dos santos padres.
Estas catequeses mistagógicas12 partiam dos sacramentos da Iniciação Cristã – Barismo, Crisma e
Eucaristia, para introduzir os neófitos nos “santos mistérios”. Recorde-se do De
mysteriis de Ambrósio
10 Para um
melhor aprofundamento: BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja – o Ano
Litúrgico. São paulo: Paulinas, 1994; MARTÌN, J. P. A Liturgia da Igreja. Teologia,
história, espiritualidade e pastoral. São Paulo: Paulinas, 2006.
11 VAUCHEZ,
A. A Espiritualidade na Idade Média Ocidental – Séculos VIII a XIII. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.
12 A
Catequese Mistagógica é o processo de experiência e aprofundamento com a pessoa
de Jesus Cristo. “O itinerário era estruturado segundo uma evolução cronológica,
orientado para um processo de amadurecimento e de crescimento através de vários
graus: o pré-catecumenato, um catecumenato mais intenso na última quaresma, a
celebração dos sacramentos, a catequese mistagógica. [...] com vários outros
elementos: ritos de inscrição, escrutínios, exorcismos, traditiones,
celebrações sacramentais, etc.[...] Todo o caminho de iniciação tinha caráter
tipicamente eclesial-comunitário, não só porque se realiza de modo público e
institucionalizado, ou porque se enquadra no ano litúrgico [...] A catequese
dos Padres é catequese estreitamente ligada à liturgia [...]”. Cf. também
MAZZA, E. La Mistagogia. Una teologia dela litugia in época patrística. Roma:
Edizioni Liturgiche, 1988.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 359 Lex orandi – fonte da espiritualidade cristã
de
Milão e as Catequeses Mistagógicas de Cirilo de Jerusalém, as catequeses
batismais de João Crisóstomo e Teodoro de Mopsuéstia, os sermões de Agostinho
de Hipona e as homilias dos Papas Leão Magno e Gregório Magno.
Os
séculos II–III conhecem o catecumenato, a celebração anual da Páscoa; o começo
do culto dos mártires; desenvolve-se o Ano Litúrgico, com primazia do Domingo;
constitui-se a Liturgia das Horas e as Vigílias noturnas; a Anáfora Eucarística
possui uma forma própria – Anáfora de Hipólito de Roma.
A vida
espiritual no período patrístico poder-se-ia caracterizar como mistagógica,
vinculada à celebração dos Sacramentos, portanto, litúrgica. Era também eivada
do Mistério Pascal. Não se olvide queneste período a Páscoa era a festa
primordial dos cristãos, que a celebravam semanalmente na “Páscoa semanal” – o
Domingo (dies dominicus – Kuriaké). O centro gravitacional da
espiritualidade nos primeiros séculos girava em torno do Mistério Pascal13 e, do
desenrolar-se deste no Ano Litúrgico, a comunidade era introduzida
mistagogica-mente no Mistério de Cristo.14
O
período denominado de medieval é visto como ‘tempo de trevas’ intelectual, político
e religioso; contudo, os estudos recentes dos especialistas do medievo
asseveram que esta tendência de julgar negativamento toda obra medieval é um
erro.15
Delaruelle
sintetiza como foi a espiritualidade no Medievo. Segundo o mesmo, esta foi uma
“civilização da liturgia”.16
Esta era rica
13 Afirma
a Sacrosanctum Concilium no n. 6: “Nunca, depois do dia de Pentecostes,
no qual apareceu ao mundo, a Igreja deixou de se reunir para celebrar o
mistério pascal”.
14 Transcreveremos
alguns testemunhos patrísticos desde período: Justino na Apologia I – “No dia
chamado do Sol, reunimo-nos em um mesmo lugar [...] e fazemos a leitura das
memórias dos apóstolos e dos escritos proféticos [...]. Portanto, todos nós nos
reunimos no dia do Sol, porque é o primeiro dia em que Deus [...] plasmou o
mundo, e no qual Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos”; outro
testemunho foi o martírio de 49 cristãos da Abissínia, onde encontramos o
presbítero Saturnino afirmando diante do procônsul Anulino: “Nós devemos celebrar
o dia do Senhor (Domingo)” e ainda, Emérito: “Sim, foi em minha casa que
celebramos o dia do Senhor. Não podemos viver sem celebrar o dia do Senhor” e
por fim, a jovem Vitória que afirma diante do tribunal: “Participei da
assembleia porque sou cristã”.
15 Exemplo
destes especialistas – GILSON, E. Études de philosophie médiévale, Université
de Strasbourg, 1921; LUPI, J. E. P. Humanismo medieval (org. com Arno
Dal Ri Júnior). Unijuí, 2005; Charles Homer Haskins – medievalista americano e
o medievalista brasileiro da UFF Dr. Edmar Checon de Freitas e o Prof. Dr.
Ricardo da Costa da UFES.
16 DELARUELLE,
E. La Gaule chrétienne à l’ époque franque. In: Revue d’Histoire de l’Eglise
de France, 38, (1952) p. 64-72.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 360 SILVA, V. de S.
em
beleza estética; a própria arquitetura das catedrais expressavam o pensamento
do homem religioso medieval que desejava representar a grandeza de Deus nas
construções e na liturgia.
Neste
período, a espiritualidade e a liturgia começam a caminhar para um certo
ritualismo e, como assevera Vauchez, um acento é posto no indivíduo que passa a
viver sua espiritualidade devocional e pessoal. Este era o clima espiritual
dessa época. Outro aspecto é o acento na penitência compreendida como um novo
tipo de relação “[...] entre o cristão e um Deus que dispensa as suas graças em
troca de sacrifícios”, como afirma Le Bras.17
A vida
espiritual do Medievo pode ser laconicamente caracterizada como sendo expressa
em orações particulares. As “[...] massas não tinham acesso a textos e se
contentavam com algumas práticas religiosas: [...] abster-se de relações
conjulgais nos tempos previstos, jejuar na quaresma, assistir à Missa dominical
e pagar o dízimo”;18 o
culto doméstico aos santos e anjos; uma expiritualidade com ênfase na
angeologia e busca de proteção contra as incídias do demônio; florescimento da
vida monás-tica – vita angelica,19 a Ordem de Cluny, os
cistercienses, os cartuxos e outros, com acento na Lectio Divina, no
Ofícios Corais rezados sete vezes ao dia, em que se recitavam os 150 Salmos em
uma semana, silêncio e contemplação; as grandes campanhas missionárias que
evangelizaram a Europa20 inclusive
missões dos monges.
Grandes
e importantes escolas de espiritualidade surgiram: os beneditinos,
cistercienses, cartuxos, valombrosanos, olivetanos e outros, com uma
espiritualidade monástica21
com matizes litúrgicas, escriturísticas e de vida escatológica; o
acento na pobreza evangélica
17 LE
BRAS, G. Les pénitentiels irlandais. In: La vie quotidienne dans l’Empire
caroligien. Paris (1973), p. 172-207.
18 VAUCHEZ,
A. A Espiritualidade na Idade Média Ocidental – Séculos VIII a XIII. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995, p. 22.
19 Acerca
do florescimento da vida monática com sua espiritualidade que influirá
profundamente na espiritualidade medieval afirma Vauchez que “A fascinação
exercida pela vida e pela espiritualidade monástica é compreensível em uma
civilização para a qual o ato religioso por excelência era o culto (liturgia)
prestado a Deus”. VAUCHEZ, A. A Espiritualidade na Idade Média Ocidental –
Séculos VIIIa XIII. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995, p. 35-36.
20 Para um
maior apreensão da Evangelização da Europa, KONWLES. D.; OBOLENSKY, D. Nova
história da Igreja. Petrópolis: Vozes, 1974, p. 13-22.
21 Quanto
aos traços da espiritualidade monástica, afirma Augé que “O monaquismo engendra
a vida cristã como assemelhar-se a Cristo nos seus ‘mistérios’ para voltar com
ele à imagem restaurada. O monaquismo atua assim, mantendo o sentido da
atualidade permanente destes mistérios: certamente porque os reatualiza na
prática; mas somenteTeocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 361 Lex orandi
– fonte da espiritualidade
cristã
da
escola franciscana com “os dois momentos privilegiados da vida de Jesus [...]
na humilhação e na pobreza, são o nascimento e a cruz”;22 na dominicana com o apresço
pela ascese e o estudo e outras escolas como a devotio moderna.
Outro
ponto de destaque são as mulheres místicas do século XII. Não só místicas, mas
escritoras e conselheiras espirituais, tais como: Hildegarda de Bigen, Isabel
de Schönau; as místicas de Helfta – Mectilde de Hackeborn, Gertrudes de
Hackeborn e Santa Gertrude a Grande.
Em
suma, no Medievo, a espiritualidade alcançou a máxima expressão na vida pessoal
e social.23 Como
afirma Bloch, “[...] nessa sociedade cristã nenhuma função de interesse
coletivo parecia mais indispensável do que a dos organismos espirituais [...] O
papel caritativo, cultual, econômico dos grandes capítulos, catedrais e dos
mosteiros pode ter sido considerável”.24
4 Do Concílio de Trento ao
século XIX
O
Concílio de Trento celebrado para responder ao movimento reformador protestante
do século XVI, trouxe um novo vigor para a Igreja, na disciplina, na liturgia e
na busca de reforma da vida cristã católica. Neste período a Igreja teve
grandes místicos e escolas de espiritualidade. Como afirma Sánchez, “[...] não
faltaram mestres de vida espiritual que buscaram e encontraram precisamente na
liturgia, isto é, nos sacramentos e no ano litúrgico, estímulos para a formação
da espiritualidade”.25
pode
reatualizar na medida em que eles influem nele com um peso concreto de vivência
que é exatamente a celebração litúrgica (sacramento e palavra). (Para o monge)
imitar Cristo e viver a celebração litúrgica são, portanto na realidade, a
mesma coisa”. AUGÉ, M. Liturgia – história, celebração, teologia e
espiritualidade. São Paulo: Editora Ave Maria, 1996, p. 343.
22 AUGÉ,
M. Liturgia – história, celebração, teologia e espiritualidade. São
Paulo: Editora Ave Maria, 1996, p. 344.
23 Sem
contar o florescimento “[...] da vida de devoção foi acompanhada pela
instituição da ‘Ordem terceira’ para os leigos; forneceram assim os elementos
da vida devota, orações regulares, exercícios simples de penitência, e a
abstinência de certas distrações e prazeres, a homens e mulheres que viviam em
família e administravam os negócios da cidade”, como afirma Knowles. KNOWLES,
M. D. A Idade Média (600-1500). Petrópolis: Vozes, 1974, p. 284. Para
maior aprofundamento da Espiritualidade medieval, cap. XX – “A vida espiritual
(I) e “A religião dos leigos”, p. 272-287.
24 BLOCH,
M. La société féodale. Tomo I, 1939, p. 54.
25 SÁNCHEZ,
V. A Liturgia como fonte da espiritualidade cristã. In: CELAM. Manual de
Liturgia IV: a celebração do Mistério Pascal. São Paulo:Paulus, 2007, p.
423.Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 362 SILVA, V. de
S.
Como exemplos deste florescimento posterior ao Concílio,
poder-se-ai apresentar o século XVI com os grandes, a saber, Santo Inácio de
Loyola, Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz. A escola de espiritualidade
inaciana funda-se sob o seguimento de Cristo, nos Exercíos Espirituais. Inácio
afirma que é “[...] motivo de elogio assistir frequentemente à Missa, como
também aos cânticos, salmos e às prolongadas orações na Igreja [...],26demonstrando, assim, a
ligação entre espiritualidade e liturgia.
Outros
grandes nomes podem ser aventados: L. Thomassim (1619-1695), o beato Cardeal
José Tomasi (1646-1713), Luís Antônio Muratori (1672-1750), J. M. Sailer
(1751-1832), Antônio Rosmini (1797-1855) e o grande Abade beneditino Próspero
Guéranger (1805-1875).
4.1 Pio X e Lambert
Beauduin – Movimento Litúrgico27
Neunheuser
afirma que o tema da “[...] espiritualidade litúrgica só se torna explícito no
quadro recente do movimento litúrgico”.28 Este pode
26 LOYOLA,
I. Gli scritti. Turin: Utet, 1977, p. 181.
27 O
Movimento Litúrgico, teve, desde a sua origem, uma eminente preocupação
espiritual e pastoral da Liturgia. Recorde-se de alguns fatos que corroboem
esta afirmação: a Abadia de Beuron com os irmãos Dom Mauro e Plácido Wolter,
buscando ao lado da Regre Beneditina, que a Liturgia adquirisse o lugar central
na ‘ascese do monge’; Dom Anselm Schott, de Beuron, publica em 1884 o primeiro
Missal latino-alemão; em 1914 o abade Dom Ildefonso Herwegen com um grupo de
jovens celebra no mosteiro a Semana Santa com a Missa dialogada, pela primeira
vez; a Missa celebrada versus populum, com a participação ativa do povo
aconteceu em 1º de agosto de 1926 no mosteiro de Maria Laach; Pius Parch,
Cônego regular agostiniano tem como metas aproximar as classes mais simples do
povo ao culto da Igreja, participação ativa na liturgia e devolver a Bíblia ao
povo; o Congrés National des Oeuvres Catholiques de Malines de 1909.
Este congresso expressou o desejo: 1. De recuperar o Missal como livro de
espiritualidade; 2. A popularização do Missal traduzido e das Vésperas para
serem rezadas aos Domingos nas paróquias; 3. Retiros anuais para cantores das
paróquias num centro de canto litúrgico-pastoral; a criação em 1943 do Centro
de Pastoral Litúrgica e do Congresso internacional Litúrgico-Pastoral de Assis;
no Brasil o Movimento Litúrgico teve seu expoente em Dom Beda Keckeisen OSB,
Dom Polycarpo Amstalden OSB, Frei Henrique G. Trindade OFM, Dom Tomas Keller
OSB e no Abade da Abadia Territorial N. S. do Montserrat do RJ – Dom Martinho
Micheler, OSB. Este foi o primeiro a celebrar a Missa versus Populum no
Brasil, a desenvolver a pastoral litúrgica do Domingo, a levar os leigos a
rezarem a Liturgia das Horas como alimento espiritual, bem como foi D. Martinho
o responsável por formar uma consciência litúrgica no meio laical. Dom Abade
Martinho Micheler é o pioneiro do movimento litúrgico no Brasil; sua pessoa
deve ser recordada sempre que se falar de Movimento Litúrgico no Brasil. Para
uma melhor compreensão da vida e obra de Dom Abade Martinho Micheler – ISNARD,
C. Dom Martinho: vida e obra do grande abade do Mosteiro de S. Bento do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1999 e sobre a história do
Movimento litúrgico no Brasil - SILVA, J. A. O Movimento litúrgico no
Brasil. Estudo histórico. Petrópolis: Vozes, 1983.
28 SARTORE,
D; TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1993,p.
371 (verbete: Espiritualidade Litúrgica).Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 363 Lex orandi – fonte da espiritualidade cristã
ser
compreendido como um movimento de busca de renovação da vida espiritual dos
cristão do mundo moderno, partindo da experiência litúrgica.
Contudo,
já em 1903, o Papa Pio X, em seu moto próprio Tra le sollecitudini,
revelava a preocupação por “[...] uma participação ativa nos sagrados mistérios
e na oração pública e solene da Igreja”. Segundo Augé, esta afirmação do Papa
Pio X estabelece os fundamentos para o início da fase pastoral e espiritual do
Movimento Litúrgico. Assim, Beauduin assume esta afirmação papal como o lema de
seus estudos acerca da relação triádica: liturgia-espiritualidade-pastoral.
Acerca da reforma de Pio X afirma Flores: “Esta reforma piana fez a Igreja sair
de uma situação de imobilismo que durava havia séculos [...]”.29
A
renovação litúrgico-espiritual no século XX foi inaugurada pela obra profética
de Dom Lambert Beauduin,30
OSB e de Dom Odo Casel, OSB, na Abadia beneditina de Maria-Laach e
do Pe. Pius Parsch na Alemanha e na Áustria. Estes contribuíram para a
compreensão da teologia litúrgica e da espiritualidade que brota da fonte
litúrgica, com seus estudos patrísticos e pelo movimento de renovação bíblico e
espiritual.
A Encíclica
de Pio XII, Mediator Dei, de 1947, este documento pontifício foi
decisiva para o movimento de renovação litúrgico-espiritual, já que estabelece
alguns conceitos e reconhece a legitimidade do trabalho dos liturgistas do
Movimento Litúrgico. Pio XII introduziu reformas parciais na liturgia,
principalmente no que tange à Semana Santa. João XXIII leva a renovação até o
Concílio Vaticano II.
Como
nomes que perpetraram esta renovação litúrgico-espiritual na Igreja,
poder-se-ia apresentar: primeiramente o Cardeal Ildefonso Schuster que com a
“[...] sua produção literária, e com o exemplo de sua vida e de sua atividade
pastoral [...] coloca-se nas origens dessa sensibilidade voltada para uma vida
espiritual alimentada na riqueza da liturgia”;31 segundo nome seria Romano
Guardini (1885-1968); por fim, destaca-se o nome do monge O. Casel (1886-1948)
que “[...] ilustrou
29 FLORES,
J. J. Introdução à Teologia Litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006. p.
289.
30 Dom
Lambert Beauduin, OSB (1873-1960), monge na abadia de Mont-César, um dos
pioneiros do Movimento Litúrgico, as suas principais obras litúrgicas: Essai de
manuel fondamental de liturgie (1912-1921) – nesta, Beauduin, realizou um
autêntico tratado teológico sobre a liturgia, sobre o culto da Igreja e a
Trindade como objeto do culto. La piété de l`Église (1914), obra considerada
como uma declaração pública do movimento litúrgico, como observa Rousseau em
seu livro - Histoire du mouvement liturgique. Esquisse historique dépuis
le début du XIX jusq`au pontifical de Pie X. Paris, 1945, Lex Orandi 3,
p. 227.
31 CELAM. Manual
de Liturgia IV: a celebração do mistério Pascal. São Paulo: Paulus, 2007,
p. 423-424. Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 364 SILVA, V. de
S.
exaustivamente
a riqueza teológica da espiritualidade litúrgica”.32 Estes, renovaram a espiritualidade litúrgica. Partindo
do Mistério de Cristo, celebrado nos mistérios da sacramentalidade litúrgica,
chegam a propor uma união entre lex orandi, lex credendi e
desembocando na lex vivendi.
Em
suma, o Papa Pio X e Pio XII levam a Igreja a assumir o Movimento Litúgico como
um movimento espiritual, em que se propõe como fonte e cume da vida espiritual
dos fiéis. O Movimento Litúrgico-Espiritual do século XX desemboca no Concílio
Ecumênico Vaticano II, que levará a cabo as intuições do Movimento, sendo este
um tempo de renovação da vida eclesial.
4.2 Concílio Ecumênico
Vaticano II
Tendo
como fundamento o anterior trabalho do Movimento Litúr-gico, o Concílio
Ecumênico Vaticano II foi celebrado entre 1962-65 em Roma, como fruto desde, no
que concerne à Liturgia, os padres conciliares aprovam a Constituição Dogmática
sobre a Liturgia – Sacrosanctum Concilium.33
A
reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II perpetrou a epifania da
pastoral litúrgico-espiritual. Assim, a SC 10 assevera que todo o trabalho
apostólico está ordenado para que todos, mediante a fé e o batismo, se reúnam
em assembleia, louvem a Deus na Igreja e participem do sacrifício e da mesa
Eucarística do Senhor. Esta seria a forma ordinária de aurir a espiritualidade,
e a liturgia seria como que o locus primordial da espiritualidade -
realização do louvor divino e da santificação do homem, num movimento
ascendente (louvor à Trindade) e descendente (santificação-graça).
A SC 7
afirma que “toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote e de seu
corpo, que é a Igreja, é uma ação consagrada por
32 Idem,
p. 424.
33 A
Constituição Sacrosanctum Concilium foi aprovada na aula conciliar do
dia 14 de dezembro de 1963, sendo o primeiro documento promulgado. A maior
contribuição foi situar a liturgia no contexto da Revelação, como Historia
Salutis, “[...] obra da salvação, continuada pela Igreja, que se realiza na
liturgia (SC 6). Desta forma a liturgia se apresenta como verdadeira
‘tradição’, ou seja, transmissão do mistério salvífico de Cristo através de um
rito, de uma forma sempre nova e adequada à sucessão dos tempos e à diversidade
de lugares”. Cf. Augé, Op. cit. p. 61. Foram cinco os critérios hermenêuticos
que nortearam o esquema conciliar da Liturgia: 1. Máxima fidelidade à tradição
da Igreja; 2. Limitação do texto aos princípios gerais da reforma; 3. Normas
práticas e rubricas, surgidas todas dos princípios doutrinais; 4. Necessidade
da formação litúrgica do clero e 5. A promoção da participação dos fiéis. Cf.
FLORES, t. Introdução à Teologia Litúrgica. São Paulo: Paulinas, 2006,
p. 294.Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 365 Lex orandi
– fonte da espiritualidade
cristã
excelência,
cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da
Igreja”. A instrução Inter Oecumenici para uma exata aplicação da
constituição sobre a sagrada liturgia, recordava que, antes de tudo, era
necessário que todos estivessem convencidos de que a finalidade da SC não foi
tanto modificar ritos e textos litúrgicos, mas antes promover a ação pastoral e
uma espiritualidade que tivesse, como ápice e fonte, a Sagrada Liturgia. Assim,
a espiritualidade deveria se concentrar na vivência do Mistério Pascal.34
O
Concílio Vaticano II afirmou na Lumem Gentium: “Todos os fiéis cristãos
são, pois, convidados e obrigados a procurar a santidade e a perfeição do
próprio estado”.35 Com
essas palavras, a Igreja afirma que a santidade não é, como se pensava antes,
um caminho para poucos eleitos de Deus, privilegiados; mas um caminho para
todos os cristãos. Esse chamado é uma “vocação universal”. Todos os batizados,
portanto, sem exceção, são chamados à santidade. “Eles são justificados no
Senhor Jesus – diz o Concílio – porquanto pelo batismo da fé se tornaram
verdadeiramente filhos de Deus e participantes da natureza divina e, portanto,
realmente santos”.36 O Papa
João Paulo II afirmou que “A Igreja não precisa de reformadores, mas de
santos”. Em outra ocasião, ele declarou aos catequistas: “Numa palavra, sede
santos. A santidade é a força mais poderosa para levar a Cristo os corações dos
homens”.37
A
partir das afirmações conciliares, surgem na Igreja experiências novas como o
surgimento das ‘novas comunidades’ com uma espi-ritualidade própria, geralmente
associações laicas e com ênfase pneumática. Entre elas poder-se-ia destacar:
Focolares, Taizé, Canção Nova, Shalon e outras.
5 Traços de uma
Espiritualidade Litúrgica38
Após a
apresentação de uma lacônica história da Espiritualidade, poder-se-ia, neste
item, trabalhar os traços de uma espiritualidade que brota da liturgia mesma.
34 Cf.
BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja – o Ano Litúrgico. Sã paulo:
Paulinas, 1994, p. 142.
35 LG 41.
36 LG 40.
37 L’OSSERVATORE
ROMANO. n. 24, 14 de agosto de 1992, p 22.
38 No
presente ítem, utilizar-se-á, o cap. 15 intitulado “A espiritualidade
litúrgica” do renomado liturgista Matias Augé, para maior aprofundamento: AUGÉ,
M. Liturgia – história, celebração, teologia e espiritualidade. São
Paulo: Ave Maria, 1996.Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 366 SILVA, V. de
S.
Não se olvide que a espiritualidade pode ser entendida como o
conjunto de experiência que grupos ou indivíduos fizeram e criaram. Dentre as
escolas de espiritualidade destacam-se: a beneditina, a cisterciense, a
cartuxa, a inaciana, a carmelita, a franciscana, a mariana, entre outras. A
Igreja assumui todas estas experiências corroborando-as como caminhos de
experiência de Deus. Ainda mais, a Igreja invita seus filhos no seguimento de
Cristo via uma destas escolas de espiritualidade. Contudo, a Igreja, apesar de
assumir em seu bojo estas escolas de espiritualidade, não faz de nenhuma delas
a experiência eclesial.A Espiritualidade da Igreja é Espiritualidade Litúrgica,
como assevera Iraburu.39
Augé,
apresentando os traços da espiritualidade litúrgica, assevera que, ao falar-se
de liturgia, está referindo-se ao momento celebrativo e mistagógico, portanto,
do mistério. Segundo o autor, a celebração litúrgica é “[...] um ambiente
concreto de experiência espiritual cristã, uma espiritualidade concreta [...]”.40 Assim,
é no ambiente concreto e na forma ordinária da celebração litúrgica que o
cristão aure a espiritualidade, a ressignifica e alimenta.
Por
fim assevera Augé:
[...]
a experiência espiritual cristã não pode considerar a celebração nem como
estrutura facultativa, nem como estrutura intermediária, mas sim como um
momento que alicerça, gerador da própria experiência.41
A
experiência espiritual cristã encontra ordinariamente na Liturgia a referência,
as balizas, a fonte e o cume de sua realização. Esta contudo, não é uma
experiência ritualista, mas uma celebração prenhe do mistério – o próprio Deus.
Esta experiência espiritual litúrgica não se prende na celebração mas
transborda na vida. Cabe muito bem a compreensão antiga da lex orandi, lex
credendi, e da lex vivendi.
Outro
traço da Espiritualidade Litúrgica é a sequela Christi, centro de toda
ação litúrgica, que conduz o orante a uma atitude e a um estilo de vida que se
baseia na assimilação ou identificação com a pessoa de Cristo. Este seguimento
de Cristo, segundo Augé, é produzido:
39 Cf.
IRABURU, J. M. Espiritualidad católica. Madrid: [?], 1982.
40 AUGÉ,
M. Liturgia – história, celebração, teologia e espiritualidade. São
Paulo: Ave Maria, 1996, p. 339.
41 Ibidem.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 367 Lex orandi – fonte da espiritualidade cristã
[...] pelo batismo e pela confirmação e a seguir nutridos pela
plena participação à Eucaristia, aos sacramentos em geral e à oração da Igreja;
tudo isso no âmbito fundamental do Ano Litúrgico [...]42
No
quadro da Liturgia o fiel, pela Iniciação Cristã, é inserido no Mistério
Trinitário pela mistagogia das celebrações dos sacramentos e sacramentais no
contexto do Ano Litúrgico. Na Liturgia o mistério de Cristo é sacramentalmente
celebrado e vivido de forma integral. Em todo Opus Dei celebra-se
fundamentalmente o Mistério Pascal-Pentecostal de Cristo.
Pádua
recolhe de vários teólogos as características da experiência mística e as
sintetiza. Segundo a mesma, é experiência de Algo ou Alguém que sobrepassa a
pessoa e que se revela mais real do que o que se considera a realidade; é
totalizante da presença do Todo; ultrapassa a vida ordinária; provoca uma
profunda alteração na vida da pessoa com apelo ético e existencial; é uma
experiência gratuita, onde não contam os mérios do místico; outro elemento é a
passividade, é “Deus o mistério que invade a existência humana”; é uma
experiência inefável o que decorre da dificuldade do místico expressar com
palavras o inefável e indizível da experiência mística; surge no místico uma
nova consciência, a intuitiva e unitiva; por fim, o místico não absolutiza sua
esperiência e não a desvincula do amor.43
6 A lex orandi como
locus da Espiritualidade Eclesial44
Marsile,
em sua obra I segni del mistero di Cristo,45 assevera que a Liturgia como
“o ponto mais alto para o qual tende toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a
fonte da qual procede toda a sua força”,46 somente dela poderia aurir a
Igreja sua espiritualidade.
42 Ibidem.
43 PÁDUA.
L. P. Mística, mística cristã e experiência de Deus. In: Atualidade
Teológica15 (2003) 344-373.
44 Para um
maior aprofunadmento da temática: MARTÌN, J. P. A Liturgia da Igreja. Teologia,
história, espiritualidade e pastoral. São Paulo: Paulinas, 2006; BRASSO, G. Liturgia
y Espiritualidad. Montserrat: [?], 1956; TRIACCA, A. M. Per una definizione
di ‘spiritualità’ cristiana dall’ambito liturgico. In: Not 272 (1989),
277-288; TENA, P. Liturgia y espiritualidad, Cuestión actual? In: Ph 62
(1971), 157-166; CELAM. Manual de Liturgia IV: a celebração do mistério
Pascal. São Paulo:Paulus, 2007, p. 421-444; TOLDO, R. L`anno litúrgico
come itinerário permanente dela comunità Cristiana.In. Rivista Liturgica,
n. 4, ano 1988, p. 531-553.
45 MARSILI,
S. I segni del mistero di Cristo. Teologia liturgica dei sacramenti. Roma.
Edizioni Liturgiche, 1987, p. 505.
46 SC 10.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 368 SILVA, V. de S.
A Lex orandi torna-se o locus privilegiado da
Espiritualidade Eclesial. A Igreja faz da Liturgia sua espiritualidade.
Contudo, a Espiritualidade Liturgia não pode ser entendida como oposta ou ainda
como concorrência com as demais escolas de espiritualidade, como bem corrobora
Augé:
Observamos
de imediato que esta espiritualidade (a litúrgica) não deve ser interpretada
como oposição ou concorrência com outras espiritualidades, mas sim como o
substrato comum de toda a espiritualidade cristã, da forma como ele é revelado
pela Igreja na sua liturgia.47
O
valor da liturgia na vida eclesial faz com que a mesma seja o ponto de
referência obrigatória de qualquer autêntica experiência espiritual. Sendo a
Liturgia o lugar epifânico do Mistério, que na liturgia é uma Pessoa – Jesus
Cristo, ela é o ponto comum para onde convergem as ‘escolas de
espiritualidade’. Na Liturgia, estas ‘espiritualidades’ encontram as balizas e
discernimento.
A
prórpia vida do orante na Liturgia torna-se um ‘culto espiritual’. A vida
cristã como este culto “no Espírito e na verdade”,48 concretiza-se na liturgia que
é o exercício do múnus sacerdotal de Jesus para santificar os homens e
glorificar à Deus.49
Esta
Espitualidade que brota da Liturgia não é uma forma de vida facultativa, mas o
substrato básico e geral, comum às ‘escolas de espititualidades’, como afirma
Martín, “sem excluir modelos concretos, segundo as diversas escolas históricas
de espiritualidade, a liturgia constitui um fator fundamental de todas elas”.50
7 Características da
Espiritualidade Litúrgica51
A
Liturgia manifesta a Espiritualidade própria da Igreja e como assevera Augé
“[...] pertence de fato ao tesouro comum da
47 AUGÉ,
M. Liturgia – história, celebração, teologia e espiritualidade. São
Paulo: Ave Maria, 1996, p. 339.
48 Jo 4,23; Rm
12,1.
49 SC 7.
50 MARTÍN,
J. L. A Liturgia da Igreja. Teologia, história, espiritualidade e
pastoral. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 482-483.
51 AUGÉ,
M. Liturgia – história, celebração, teologia e espiritualidade. São
Paulo: Ave Maria, 1996 p. 347-352.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 369 Lex orandi – fonte da espiritualidade cristã
vida
espiritual cristã”.52 Para
tanto, examinar-se-ão as características fundantes que tocam os aspectos da
Espiritualidade Litúrgico-Eclesial. A Espiritualidade é bíblica, cristológica,
eclesial e mistagógico-pascal.
7.1 Espiritualidade Bíblica
Agostinho
de Hipona, no Sermão 85,1, afirma que “A boca de Cristo é o Evangelho, Reina no
céu, mas não cessa de falar na terra”.53 Assim a liturgia cristã é
atualização ritual do evento real da salvação, que é Cristo. Ele continua
falando na assembleia reunida. Bergamini assevera que a liturgia, portanto,
“[...] está para a Escritura, assim como a realidade de Cristo está para o seu
anúncio”.54
A
espiritualidade liturgica55
é eminentemente bíblica, e precisamente porque bíblica, é
histórico-profética; é sensível a Revelação de Deus que se realiza na história
humana, tornando-a Historia Salutis. O Mistério de Cristo continua a
atuar no hodie da sacramentalidade da Igreja, pois, receptora do agir
salvífico de Cristo, a Igreja56 é sacramento universal de salvação, principalmente quando na
assembleia litúrgica se faz a anmaneses da morte e Ressurreição de
Cristo na leitura proclamativa das Sagradas Escrituras. Assim, afirma a
Introdução ao Lecionário:
A
Igreja anuncia o único mistério de Cristo cada vez que, na celebração
litúrgica, proclama seja o Antigo seja o Novo Testamento. [...] Cristo é o
centro e a plenitude de toda a Escritura, como de toda a celebração litúrgica:
por isso, é preciso que todos aqueles que procuram a salvação e a vida recorram
às fontes da Escritura. Quanto mais se penetra no vivo da celebração litúrgica,
52 Idem,
p. 347.
53 AGOSTINHO
Sermão 85,1.
54 BERGAMINI,
A. Cristo, festa da Igreja – o Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas,
1994,p. 31.
55 “A
espiritualidade litúrgica é essencialmente bíblica, isto é, baseada na Bíblia
como Palavra de Deus celebrada e atualizada nos sinais litúrgicos. O Lecionário
da Missa, o Ofício Divino e o dos sacramentos e sacramentais oferecem os
conteúdos salvíficos concretos para a santificação dos homens e para o culto a
Deus. Nesse sentido, essa espiritualidade é também histórica e profética,
enquanto leva a penetrar no significado savífico e escatológico dos
acontecimentos da história da salvação cumprida em Cristo e proclamada na
existência dos batizados”. MARTÍN, J. L. A Liturgia da Igreja. Teologia,
história, espiritualidade e pastoral. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 483-484.
56 Bergamini
afirma que “Como Cristo nunca está do seu corpo, que é a Igreja, pois o seu
mistério deve ser participado e interiorizado pelos cristãos, os textos da
Escritura possuem esta terceira profundidade, que pode ser chamada de
profundidade cristã. Esse aspecto é de muita importãncia na relação entre
liturgia e vida espiritual”. BERGAMINI, A. Cristo, festa da Igreja – o
Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994, p. 35.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 370 SILVA, V. de S.
tanto mais se percebe a importância da palavra de Deus; o quese
diz da primeira pode-se afirmar também da segunda, porque ambas evocam o
ministério de Cristo e ambas, a seu modo, o perpetuam.57
Portanto,
a Igreja, no seu Ordo Lectionum Missae, apresenta aos fiéis reunidos em
assembleia para participar da duplice mesa da Palavra58 e da Eucaristia, um tesouro
para a maior frutuosidade espiritual dos fiéis. Durante todo o Ano Lítúrgico, a
Igreja escuta a Palavra do Senhor e busca vivê-la “em atenção às suas
palavras”.
A Sacrosanctum
Concilium no n. 7, afirma que Cristo “[...] está presente na sua palavra,
pois é ele quem fala quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura”, contudo,
Paulo VI, em sua Encíclica Mysterium Fidei, explicita o que o Concílio afirmou,
corroborando que se tratade uma presença não virtual, mas verdadeira e real.
Assim, a Litur-gia da Palavra proclamada é presença real de Cristo, é alimento
es-piritual.59
Em
suma, a Palavra de Deus, proclamada na ação litúrgica, deixa de ser uma palavra
consignada por escrito para tornar-se uma Palavra de anúncio-realização, pois
esta Palavra é sacramentalmente realizada na Liturgia pelo Espírito Santo, no hodie
litúrgico-salvífico. Acerca desta atualização pneumática da Escritura na
ação litúrgica, pondera Augé que o “[...] acontecimento que se lê na Escritura
é o mesmo que se realiza na liturgia. [...] são o anúncio permanente da
salvação presente e atuante no ministério litúrgico”.
57 Introdução
ao Lecionário, n. 5. In: LECIONÁRIO. São Paulo: Paulinas, 1994.
58 O
movimento profético apresenta-nos alguns textos que mostram a necessidade de
comer a Palavra de Deus. O exemplo mais enfático é do profeta Amós: “Eis, virão
dias – diz o Senhor Deus – durante os quais mandarei a fome na terra, não fome
de pão, nem sede de água, mas sede de escutar a palavra do Senhor” (Am 8,11).
59 Afirma
Matias Augé: “As leituras estão em íntima relação com a ação sacramental,
participam da plenitude da realidade (de presença real do mistério), que é
própria do mistério eucarístico. Portanto o hodie da liturgia da palavra
encontra a sua plenitude de conteúdo no mistério de Cristo sacramentalmente
presente na Eucaristia”. Cf. AUGÉ,op. cit., p. 139. Ainda acerca do hodie na
liturgia, afirma a Abadessa Madre Paula Iglésias: “[...] a atualização
sacramental do Mistério celebrado no rito litúrgico, no curso doqual a obra da
Revelação de Deus em Cristo nos é tornada presente para que dela participemos
de forma imediata e viva. É o Hoje da Liturgia que nos insere no Mistério de
Cristo revelado nas Escrituras. É o mesmo Hoje pronunciado outrora por Cristo
na sinagoga de Nazaré que tem a sua repercussão no ‘hoje litúrgico da Igreja’”.
IGLÉSIAS, Paula. Uma Lectio Divina: na Bíblia, na História de Israel, na
Liturgia. Juiz de Fora: Edições Subiaco, 2010. p. 123.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 371 Lex orandi – fonte da espiritualidade cristã
7.2 Espiritualidade
Trinitária60
Dado
que a Liturgia tem como centro gravitacional o Mistério do Deus Uno-Trino onde
giram todas as suas celebrações, que intentam render culto de adoração, a
Espiritualidade demandada dela somente poderia ser Trinitária.
Não
nos olvidemo de que a Liturgia estrutura-se num movimen-to – anabático e
catabático – de subida e descida. Dos homens (louvor, adoração, eucaristia) ao
Pai, pelo Filho, no Espírito – subida. Bem como, num movimento descendente, do
Pai (eleição-graça-salvação), pelo Filho, no Espírito, aos homens.
A
estrutura anabático-catabática da liturgia corrobora-se pelo fato de que a
relação do Deus Uno-Trino, com a humanidade, exerce-se num movimento
ininterrupto de constante kenoses.61 O Pai esvazia-se de si para
gerar eternamente seu amado Filho. Este, por sua vez, torna-se a imagem
encarnada do ‘empobrecimento’, assumindo a condição humana, na carne,
fazendo-se um ‘ser-para’. Grandes implicações esta estrutura trará para a
espiritualidade, ou seja, a mesma é antes de tudo uma relação Trinitária de
diálogo anabático-catabático.
A
teologia redescobriu no movimento litúrgico a estrutura fundamental da oração
litúrgica. Esta, ou é trinitária ou não será verdadeiramente cristã. Também
possibilitou à teologia trinitária perceber-se na lex orandi, visto que,
a lex credendi possui sua fonte
60 MARTÍN,
J. L. A Liturgia da Igreja. Teologia, história, espiritualidade e
pastoral. São Paulo: Paulinas, 2006; VELASCO, M. El fenómeno místico. Estudio
comparado. Madrid, Editorial. Trotta, 2003; AUGÉ, M. Liturgia – história,
celebração, teologia e espiritualidade. São Paulo: Ave Maria, 1996; MARSILI,
S. Mistero di Cristo e liturgia nello Spirito. Cidade do Vaticano:
Libreria Editrice Vaticana, 1986.
61 Em sua
obra intitulada Mysterium Paschale, o grande teólogo alemão, Hans Urs
von Balthasar, busca uma nova imagem do Deus Uno-Trino. Esta é perpassada pela
chave de leitura do conceito grego ‘kenoses’. Para o autor, a relação
intratrinitaria é por essência quenótica, visto que há um esvaziamento eterno
na Trindade. Esta quenose trinitária, para von Balthasar, constitui “[...] a
pessoa do Pai e, ao mesmo tempo, do Filho e a do Espírito Santo” (Mysterium
Paschale, p. 10). A Encarnação de Cristo para Balthasar continua sendo o expoente
deste esvaziamento trinitário, como assevera a teologia neotestamentária. No
entanto, o teólogo alemão transborda a tradicional teologia paulina da carta
aos Filipenses (Fl 2,6-11) às demais Pessoas da Trindade. Na verdade, von
Balthasar, mais do que aplicar à Trindade o conceito de ‘esvaziamento’, faz
deste, a essência e o caminho teológico para adentrar no mistério da Trindade,
contemplando o Mistério do Cristo. BALTHASAR, Hans Urs von. El misterio pascual.
In: Mysterium Salutis. Fundamentos de la dogmátima como historia de
la salvación 3/1. Madrid, 1969.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 372 SILVA, V. de S.
e
ápice no ato celebrativo. Não podemos separar o ‘ato de fé’ do ‘ato
celebrativo’ e o ‘ato de viver’.62
A
imagem esvaziada do Filho na ceia-crucifixão-morte-descida aos infernos,
encontra seu máximo despojamento no sopro de seu hálito pneumático sobre a
Igreja e o mundo. O Espírito Santo doado por Cristo pode ser vislumbrado como o
ícone vivo deste esvaziamento contínuo da Trindade, que não cessa de doar-se ao
homem. O Espírito Santo é catábase, ou seja, é descida, a Igreja na Liturgia
ora pedindo uma epíclese pneumática.63 É por obra do Espírito Santo
que a liturgia é a celebração no tempo e no espaço do opus redemptionis,64 ou
seja, o plano histórico-salvífico realizado pelo Pai em Cristo é atualizado
sacramentalmente em cada ação litúrgica. Como tal, a liturgia é essencialmente
epifania do Espírito de Cristo Ressuscitado.65
Para
uma melhor visualização da estrutura trinitária das orações
litúrgico-eclesiais, observemos alguns textos litúrgico-eucológicos:
Concedei-nos,
ó Deus todo-poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma, para
que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.66
62 Próspero
de Aquitânia, numa célebre fórmula: Legem credenti statuat lex supplicandi,
atribui à liturgia um valor regulador em matéria de fé. A utilização deste
critério é devedor da antiguidade patrística, representada pela Didaqué,
e continuada nos textos que se referem à disciplina e organização das
comunidades protocristãs, como a Traditio Apostolica de Hipólito de
Roma. Os santos padres que se utilizam são: Orígenes, Tertuliano, Cipriano,
Ireneu e Basílio. “Um elemento litúrgico sobre o qual se apoiam fortemente os
Santos Padres, a começar por Orígenes, são as interrogações sobre a fé que
precede o batismo, em vista do mistério da Trindade; isto vale também para
outras fórmulas litúrgicas, como as doxologias e as anáforas eucarísticas”.
PELLEGRINO, Michele. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Petrópolis:
Vozes, 2002. Verbete: Liturgia e Padres, p.835.
63 Na
teologia cristã, Epiclese: do grego antigo: έπίκλησις – epíklesis, fusão das
palavras pí e kaleô: “chamar sobre”, é a oração de invocação que pede a descida
do Espírito Santo nos sacramentos.
64 Buscando
uma explicitação do termo – opus redemptionis, seria indispensável
debruçar-se sobre os textos eucológicos da própria liturgia e nesta,
encontra-se: “quoties huius commemoratio celebratur, opus nostrae
redemptionis exercitur” (toda vez que celebramos este memorial do
sacrifício do Senhor, realiza-se a obra de nossa salvação). Assim, a
liturgia torna-se escola da fé e da práxis, a explicitação da teologia da
Redenção, justificação e sacramentologia. Encontra na liturgia sua lex
celebrandi.
65 “É
igualmente por obra do Espírito Santo que toda ação litúrgica manifesta e
realiza a presença de Cristo e que a ‘memória’ do mistério salvífico não se
limita a ser simplesmente uma piedosa recordação, mas é de fato ‘anamnese’
histórico-salvífico. Impõe-se, assim, a necessidade do estudo da presença e da
ação do Espírito Santo na liturgia”. SARTORE, D.; TRIACCA, A. M. Dicionário
de Liturgia. São Paulo: Paulinas, 1993, p. 359.
66 Oração
de Coleta da Quarta-Feira de Cinzas – início do Tempo Quaresmal. Cf. MR.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 373 Lex orandi – fonte da espiritualidade cristã
Ouvi, ó Pai, as nossas preces para que, ao afirmarmos nossa fé na
ressurreição do seu Filho, se confirme também nossa esperança na ressurreição
de vosso servo N. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.67
Deus Pai de
misericórdia, que pela morte e ressurreição do vosso Filho, enviou o Espírito
Santo para a remissão dos pecados, te conceda pelo ministério da Igreja, o perdão
e a paz. Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo.68
Após,
a observação destas orações litúrgicas, conclui-se que a Liturgia cristã, bem
como a espiritualiade, é patrofinalizada, cristomediatizada e
pneumato-amalgamada. Respectivamente, estas querem expressar o seguinte
conceito teológico: toda a oração se dirige ao Pai, enquanto princípio fontal e
meta de todo o agir humano.É mediada pelo Cristo – Jesus é o sumo e eterno
sacerdote da Nova Aliança e o único mediador.69 Assim, como é pela ação do
Espírito Santo que se ‘forma’ a oração em nós, assim, como afirma Paulo:
“[...] o próprio Espírito ora em nós com gemidos inefáveis”.70 “Tudo
vem do Pai pelo Filho no Espírito; e tudo, no mesmo Espírito, pelo Filho ao
Pai”.71
A
estrutura trinitária da liturgia conduz o orante a uma experiência mística com
a Trindade; contudo, esta só é possível pela ação do Espírito Santo. Aquiles
Triacca afirma:
Se a
celebração litúrgica não for sinal do Espírito, ela nada será. Com efeito, a
verdadeira essência da ação litúrgica consiste em ser-epifania-do-Espírito
Santo. Ora, o Espírito, por meio da Escritura, foi iconógrafo, isto é,
operou no hagiógrafo a revelação do ícone do Pai, que é Jesus Cristo (cf. 2Cor
4,4; Cl 1,15). Em Maria, ele foi iconoplasta, ou seja, é plasmador do
próprio ícone (do Verbo). Na ação litúrgica, ele simultaneamente iconógrafo,
iconoplasta e iconóforo, isto é, portador do ícone do Pai presencializado e
vivificado.72
67 Oração
das Vésperas do Ofício dos fiéis defuntos – Liturgia das Horas. Cf. LH.
68 Fórmula
da absolvição – Rito da Penitência. Cf. MR.
69 Cf. Hb
8, 6.
70 Rm 8, 27.
71 A
estrutura da liturgia e da doxoadoração da práxis cristã: cf. VAGAGGINI,
Cipriano. Il senso teologico della liturgia, 5. ed. Roma, 1968.
72 TRIACCA.
A. Espirito Santo. In: SARTORE, D.; TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia.
São Paulo: Paulinas, 1993, p. 371 (verbete: Espírito Santo).Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 374 SILVA, V. de S.
Portanto, o Espírito Santo plasma, porta e escreve o ícone da
Trindade no orante da prece litúrgica. A ação litúrgica pela epíclese do
Espírito Santo é apofática, no sentido de contemplar o Mistério, sem
racionalizá-lo com o excesso do discurso teológico.
A
estrutura da oração litúrgica nos vários Ordos, sacramentais e livros
litúrgicos, segue sempre a doxologia Trinitária ao Pai, pelo Filho no Espírito.
Esta estrutura Trinitária é normativa e modelo para toda oração cristã. Pode-se
mesmo afirmar que a lex orandi e a lex credendi transbordam na
moral de atitude cristã, pois a vida do cristão é relação com a Trindade - lex
vivendi. Em suma, a Espiritualidade Litúrgica é patrofinalizada,
cristomediatizada e pneumato-amalgamada.
7.3 Espiritualidade
eclesial e sacramental
A
assembleia litúrgica é epifania da Igreja que se concretiza numa comunidade
que, em torno do altar – Christus altare est – celebra os louvores
sacrificais e laudativos ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim, pela
Liturgia, a dimensão eclesial (comunitária) da experiência espiritual se
destaca.
Como
assevera o Concílio Vaticano II, a Igreja é sacramento universal de salvação,
portanto, a Igreja é sacramento de Cristo, que é sacramento do Pai. A
Espiritualidade Litúrgica é eclesial e sacramental. Esta dimensão eclesiológica
da liturgia se torna manifesta nas celebrações dos sacramentos, dos quais a
Igreja é ao memso tempo ministro e sujeito, como corrobora Augé.73
Esta
dimensão eclesiológica incidindo na espiritualidade é perceptível nos místicos.
Exemplo disto é o que afirma São João da Cruz: “[...] não ser minha intenção
apartar-me da sã doutrina e sentido da Santa Madre Igreja Católica. Submeto-me
e resigno-me inteiramente, não só à sua autoridade [...]”.74
Acerca
da sacramentalidade, afirma Augé:
Os
sacramentos da Igreja, que constituem a liturgia, são meios de participação
direta e eficaz aos atos redentores de Cristo, especialmente pela sua morte e
ressurreição. Deles nasce uma assimilação com a pessoa de Cristo, ou ‘imitação’
na própria vida
73 AUGÉ,
M. Liturgia – história, celebração, teologia e espiritualidade. São
Paulo: Ave Maria, 1996, p. 349.
74 SÃO
JOÃO DA CRUZ. Subida do Monte Carmelo. In: Obras completas. Petrópolis:
Vozes, [?], p. 136.Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 375 Lex orandi
– fonte da espiritualidade
cristã
dos mistérios celebrados na liturgia. É um assunto que aperece em
muitas orações: imitar ou testemunhar nas obras o que é celebardo no
sacramento. Assim, por exemplo, a coleta da sexta-feira na Oitava de Páscoa:
‘Concedei-nos testemunhar na vida o mistério que celebramos na fé’. Neste
sentido a espiritualidade litúrgica se transforma num estímulo permanente para
o fiel tornar conformeà sua vida aquilo que está celebrando.75
Os
sacramentos celebrados pela Igreja e para a Igreja conduzem para uma
espiritualidade de imitação de Cristo, sendo seus seguidores e testemunhas da
Ressurreição.
7.4 Espiritualidade
mistagógica
A
Liturgia como opus crístico-pneumático e eclesial realiza as palavras
sálmicas: “Vinde, agora, bendizei ao Senhor Deus, vós todos, servidores do
Senhor, que celebrais a liturgia no seu templo, nos átrios da casa do Senhor”,76 de
forma especial na celebração dos Sacramentos e da Liturgia das Horas.77 Sendo
a Liturgia este opus Dei e também opus hominibus, não há na mesma
espaço para apresentar uma ideia para participação ativa, ou ainda, uma moral,
mas antes, é a Liturgia momento próprio para experimentar o Mistério salvífico
de Deus.
Neste
sentido, poder-se-ia, chamar a Liturgia de mistagógica, pois epifania o
mistério e conduz o orante mistagogicamente ao encontro do Mistério. No
cristianismo o Mistério não é uma experiência, ou ainda,
75 AUGÉ,
M. Liturgia – história, celebração, teologia e espiritualidade. São
Paulo: Ave Maria, 1996, p. 349.
76 Sl
133/134, 1. Bíblia de Jerusalém: antigo e novo testamento. São Paulo:
Paulus, 2002. Todas as citações deste trabalho monográfico serão da referida
tradução de Jerusalém.
77 O Officium
Divinum renovado foi promulgado por Paulo VI, com a Constituição Apostólica
Laudis Canticum de 1º de novembro de 1970. Augé afirma que “[...] a
Liturgia das Horas, sendo oração pública e comunitária do povo de Deus, faz
parte do mistério da Igreja e é uma manifestação e expressão especial: ‘O
louvor da Igreja não é reservado, nem por sua origem, nem por sua natureza, aos
clérigos e aos monges, mas pertence a toda a comunidade cristã’ [...] Somente a
Liturgia das Horas manifesta plenamente toda a Igreja orante como tal e a sua
permanência constante na oração, e somente ela a realiza da forma mais
espontânea [...]. Esta oração é a mesma que a Igreja considera como sua por um
título especial, isto é, como Corpo Místico total de Cristo”. AUGÉ, M. Liturgia
– história, celebração, teologia e espiritualidade. São Paulo:. Ave-Maria,
1996. p. 265. Não se olvide que a celebração da Liturgia das Horas prepara e
prorroga no tempo-kairótico o Mistério Pascal, desta teologia do Opus Dei que
se afirma a íntima ligação entre a Liturgia das Horas e a Celebração Eucarística.
Para uma melhor compreensão da teologia e história da Liturgia das Horas:
BECKHÄUSER, Alberto. O Sentido da Liturgia das Horas. Petrópolis: Vozes,
1996.Teocomunicação, Porto Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380,
set.-dez. 2014 376 SILVA, V. de
S.
uma moral,
até mesmo uma filosofia, mas é uma Pessoa – Jesus Cristo, mistério de Deus
revelado aos homens. Caro ao período patrístico, recuperado no Movimento
Litúrgico e levado a cabo na hodierna teologia litúrgica é a mistagogia, que
segundo Mazza, é:
[...]
um ensinamento destinado a provocar a compreenção do que os sacramentos
significam para a vida, mas que pressupõe a iluminação da fé, que brota dos
próprios sacramentos e o que se aprende vivendo conforme aquilo que os
sacramentos significam para a vida.78
Assim,
nasce da própria mistagogia litúrgica a Espiritualidade da Igreja, que, ao
longo do Ano Litúrgico, permite-nos experimentar sempre mais profundamente o
mistério de Cristo, atualizado sacramentalmente pelas ações litúrgicas nos
sacramentos e sacramentais. Como assevera Augé, precisamente por atualizar o
mistério que é Cristo mesmo, resulta a dimensão ‘mística’ da espiritualidade,
como “[...] atualização do mistério celebrado na vida do cristão”.79 Para o
autor, este mistério que se celebra na ação Litúrgica e “[...] escondido nos
séculos em Deus, que Ele quis manifestar e comunicar aos homens no seu Filho,
morto e ressuscitado, com a efusão do Espírito”.80
8 A liturgia Schola Oratio –
o Espírito Santo mestre de oração
A Liturgia
como Espiritualidade da Igreja é uma Schola Oratio. Esta ‘escola de
oração’ faz progredir a oração pessoal e comunitária, pois a Liturgia é a
‘Igreja em oração’. Martín assim assevera acerca da Liturgia como Schola
Oratio:
Em
todo caso, a liturgia, com seu caráter mistérico e eclesial, é ‘escola de
oração’ para a totalidade dos membros do povo de Deus. Com efeito, trata-se de
educar na oração a partir da celebração litúrgica, para que não existam
comportamentos estanques na
78 MAZZA,
E. La mistagogia. Uma teologia della liturgia in epoca patrística. Roma:
Edizione Liturgiche, 1988. In: AUGÉ, M. Liturgia – história, celebração,
teologia e espiritualidade. São Paulo: Ave Maria, 1996, p. 351-352.
79 AUGÉ,
M. Liturgia – história, celebração, teologia e espiritualidade. São
Paulo: Ave Maria, 1996, p. 352.
80 Ibidem.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 377 Lex orandi – fonte da espiritualidade cristã
espiritualidade, e a oração pessoal e a participação litúrgicafluam
como um mesmo movimento do crente para Deus Pai, por Jesus Cristo, no Espírito.
[...] recorda-se mais uma vez a necessidade da assistência do Espírito santo,
‘mistagogo’ interior da oração cristã [...]81
Martín
toca em um ponto teológico fundamental na compreensão da Espiritualidade
Litúrgica, ou seja, a teologia do auxilio do Espírito Santo, que ora em nós. Em
Rm 8, 26-27, afirma Paulo:
Assim
também o Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como
convém: mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e
aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito, pois é segundo
Deus que ele intercede pelos santos.
Discorrendo
acerca da fraqueza humana, não sabemos orar como convém, por isso, o Espírito
Santo que em nós habita nos auxilia em nossas orações, fazendo-nos pedir o que
convém. A oração eficaz é aquela que tem o Espírito como seu autor. Sem o
auxílio do Espírito jamais oraríamos com discernimento. Esta teologia do
‘auxilio oracional pneumático’ é comum também na teologia protestante. Calvino
(1509-1564), enfatiza: “Não podemos nem sequer abrir a boca diante de Deus sem
grande perigo para nós, a não ser que o Espírito Santo nos guie à forma devida
de orar”.82
O
Espírito ora conosco e por nós, portanto, é nosso mistagogo interior que vai
pedagogicamente conduzindo-nos ao Mistério que é Cristo, como assevera Triacca,
que é “[...] por obra do Espírito Santo que toda ação litúrgica manifesta e
realiza a presença de Cristo e que a ‘memória’ do ‘mistério salvífico’ não se
limita a ser simplesmente uma piedosa recordação [...]”,83mas antes, pela ação
pneumática na Liturgia que esta anamnese é histórico-salvífica.
Em
suma, a Litrugia é Escola de Oração e o Espírito Santo o mestre. Martín afirma
em uma frase lacônica, porém, que bem expressa o que neste item abordamos: “A
Liturgia não somente é lugar por antono-
81 MARTÍN,
J. L. A Liturgia da Igreja. Teologia, história, espiritualidade e
pastoral. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 488.
82 CALVINO,
J. Institución, III.20.34.
83 TRIACCA.
A. Espirito Santo. In: SARTORE, D; TRIACCA, A. M. Dicionário de Liturgia.
São Paulo: Paulinas, 1993, p. 359 (verbete: Espirito Santo).Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 378 SILVA, V. de S.
másia
da oaração cristã, mas também seu modelo e sua referência necessária”84
Considerações finais
A
tarefa posta de discursar sobre o Mistério de Deus à teologia é confrontada
pela hodierna mentalidade. O teólogo encontra-se muito bem representado no
conhecido relato de Söre Kierkegaard sobre o palhaço e a aldeia em chamas,
assertiva esta citada por Josef Ratzinger em sua obra Introdução ao
Cristianismo. O conto kierkegaardiano relata a história de um circo que
pega fogo na Dinamarca. O palhaço já caracterizado para sua apresentação:
peruca, maquiagem, roupas coloridas e hilárias, vai à aldeia vizinha alertar a
população acerca do perigo das chamas se espalharem do circo até a aldeia. Ao
chegar à aldeia, o palhaço, desesperado, grita, corre e pede socorro – o circo
está em chamas!, na esperança dos aldeões auxiliarem na tentativa de apagar o
fogo. Contudo a população ri enlouquecidamente da atuação do palhaço e dizem
estarem quase se convencendo do real incêndio do circo se não fosse sua
excelente representação. Tomando os gritos do palhaço como um formidável truque
de publicidade, a população aplaude e ri. Por mais que o palhaço tentasse
esclarecer, mais hilários ficavam os aldeões, tornando tardia a tentativa de
auxílio. Assim, circo e aldeia depressa ficam destruídos pelas chamas.
Ratzinger retoma o conto de Kierkegaard dizendo que é símile da situação do
teólogo hodierno, em que se vê a figura do teólogo na do palhaço incapaz de
transmitir aos homens a sua mensagem.
Este
cenário kierkegaardiano e ratzngeriano é corrborado pela frase de Karl Rahner
que introduzimos nosso trabalho. Rahner afirma que o cristão do século XXI ou
será místico ou não será cristão. Mais do que nunca urge a tarefa posta aos
cristãos de testemunharem sua experiência com o Mistério que é Jesus Cristo. O
homem pós-moderno necessita de experiência, afetividade e individuação. Só com
discursos teológicos e racionais não levaremos este homem hodireno ao
discipulado de Jesus Cristo, contudo, o testemunho de uma experiência com o Mistério
arrasta. Assim, urge na Igreja uma Espiritualidade mistagógica em que o
Espírito Santo seja nosso mestre e a própria comunidadde eclesial pela Liturgia
seja uma Schola Oratio.
84 MARTÍN,
J. L. A Liturgia da Igreja. Teologia, história, espiritualidade e
pastoral. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 488.Teocomunicação, Porto
Alegre, v. 44, n. 3, p. 354-380, set.-dez. 2014 379 Lex orandi – fonte da espiritualidade cristã
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Palavras-chave: Espiritualidade. Liturgia. Lex orandi. Espiritualidade
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Fernando Vanini de Maria