Sendo assim, para compreender de forma mais ampla o nono mandamento e seu significado na tradição católica, convidamos você a ler este artigo completo. Por fim, abordaremos também a visão de Santo Tomás de Aquino sobre este tema nas suas catequeses.
Não desejar a mulher do próximo nas Escrituras
O mandamento “Não desejar a mulher do próximo” é uma instrução moral fundamental deixada por Deus nas Tábuas da Lei. Por isso, podemos encontrá-la nos livros do Êxodo e do Deuteronômio.
Na versão do Êxodo, lemos “Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo […]” Esta é parte dos Dez Mandamentos dados a Moisés no Monte Sinai.
No Deuteronômio, encontramos uma formulação semelhante: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo […]” Nesta versão, o mandamento é reiterado como parte da reafirmação da Lei, mas agora no contexto que antecede a entrada na Terra Prometida.
Quanto ao Novo Testamento, o ensinamento de Jesus expande a compreensão desse mandamento. No Evangelho de Mateus, Jesus diz: “Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério.’ Mas eu vos digo que qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no seu coração, já cometeu adultério com ela.” Aqui, Jesus enfatiza que o desejo impuro também é uma transgressão do mandamento, mostrando a importância de cuidar não apenas das ações externas, mas também das intenções do coração. Desse modo, Cristo dá sentido pleno à Lei. Ele enfatiza a importância da pureza de coração e do respeito com relacionamentos alheios valores que ecoam ao longo das Escrituras,
O que a Igreja ensina sobre Não desejar a mulher do próximo
A purificação do coração
A Igreja ensina que o mandamento “Não desejar a mulher do próximo” vai além da mera proibição de um ato físico. Ele também exige a purificação do coração e a prática da temperança. O coração é reconhecido como a sede da personalidade moral e é dele que procedem as más intenções e desejos impuros. A sexta bem-aventurança, proclamada por Jesus, afirma que os “puros de coração” serão abençoados por ver a Deus. Ser puro de coração significa alinhar nossa inteligência e vontade com as exigências da santidade de Deus, sobretudo no que diz respeito à caridade, castidade e fé. A pureza do coração está intrinsecamente ligada à castidade ou retidão sexual, bem como à caridade e à conformidade da fé.
Crer nos artigos do Credo é fundamental, pois a fé leva à obediência a Deus, que, por sua vez, conduz a uma vida purificada. A pureza do coração capacita os fiéis a compreenderem mais profundamente aquilo em que creem. Desse modo, percebemos que há uma conexão entre a pureza do coração, do corpo e da fé.
Aos “puros de coração,” é prometido o privilégio de ver a Deus face a face e tornarem-se semelhantes a Ele. 6. A pureza do coração é, portanto, uma condição prévia para essa visão. Além disso, tal pureza nos permite ver os outros como próximos, além aceitar e respeitar o corpo humano como um templo do Espírito Santo e uma manifestação da beleza divina.
O combate pela pureza
A Igreja ensina que o mandamento “Não desejar a mulher do próximo” requer um contínuo combate pela pureza, mesmo após o Batismo, que concede a graça da purificação dos pecados. Este combate inclui a virtude da castidade, que possibilita amar com um coração íntegro e sem divisões. Além disso, exige a pureza de intenção, que nos orienta a buscar a vontade de Deus em todas as coisas.
A pureza do olhar, tanto externa quanto internamente, é fundamental. Ela envolve a disciplina dos sentidos e da imaginação, bem como a rejeição de pensamentos impuros que nos afastariam dos mandamentos divinos. Além disso, a oração desempenha um papel fundamental nessa luta, reconhecendo que a continência depende da graça de Deus.
O pudor também é parte integrante da temperança e preserva a dignidade pessoal, orientando nossos olhares e atitudes. Ele protege o mistério da pessoa e do amor, promovendo a moderação e a paciência nas relações amorosas.
Ademais, a pureza cristã exige uma purificação do ambiente social e uma educação respeitosa da verdade e da dignidade humana, combatendo a permissividade dos costumes. A boa nova de Cristo renova constantemente a moralidade e a cultura, purificando e elevando a humanidade em sua caminhada de fé rumo à eternidade.
Santo Tomás de Aquino sobre o mandamento Não desejar a mulher do próximo
Santo Tomás de Aquino aborda o nono mandamento, “Não desejar a mulher do próximo,” de maneira profunda. Ele diferencia a lei divina da lei mundana, observando que a primeira julga não apenas atos e palavras, mas também pensamentos, pois vem de Deus, que vê não somente o exterior, mas o interior.
Santo Tomás explica que a vontade de Deus é que não apenas evitemos roubar os bens do próximo, mas também não desejemos esses bens. Ele argumenta que a concupiscência é infinita, e o desejo constante por mais bens é inquietante e insaciável.
Além disso, destaca que o desejo desordenado dos bens alheios diminui a tranquilidade, torna as riquezas inúteis, perverte a justiça, mata a caridade e é a causa de muitos males, incluindo homicídios e furtos. Santo Tomás enfatiza, por fim, que a avareza é um pecado mortal quando desejamos os bens do próximo sem razão.
Referências
Ex 20, 17a
Dt 5, 21a
Mt, 5, 27-28
CIC, 2517
CIC, 2518
CIC, 2519
CIC, 2520
CIC, 2521
CIC, 2525-2527
Fernando Vanini de Maria