Vício capital
Santo Tomás de Aquino define a preguiça como “certa tristeza que deixa o homem tardo”, isto é, frouxo, estagnado. A preguiça é o último vício capital responsável por nos entediar e nos levar a desejar sempre o caminho mais fácil, causando uma aflição em relação ao trabalho — o que leva à inação e ao ócio.
No entanto, é justamente por meio do trabalho, da luta árdua, que se conquistam os bens tanto materiais quanto — os que realmente importam — os espirituais. Por isso, já dizia Santa Teresa d’Ávila que “é justo que muito custe o que muito vale”, pois nada pode ser conquistado sem que seja derramada nenhuma gota de suor, sem que enfrentemos os desafios naturais da vida cotidiana. É através do trabalho que o homem tem sentido na sua existência, no serviço, no esforço, já que esta é uma tarefa que foi dada ao homem desde o dia de sua criação “enchei a terra e submetei-a.” 1
Existe, ainda, um pecado derivado da preguiça, chamado acídia. Trata-se da preguiça na conquista dos bens espirituais, da dificuldade de se esforçar para evoluir na vida espiritual, que acaba nos impactando na busca pela santidade e, no pior dos casos, nos leva para o pecado mortal e para a conformidade com o pecado.
A Preguiça na Bíblia
Justamente por ser uma “negligência pela qual alguém se recusa adquirir os bens espirituais por causa do trabalho” 2, a preguiça/acídia é responsável por gerar mais uma série de pecados, assim como aconteceu no episódio bíblico do Rei Davi, quando, por meio da preguiça, que parece algo simples, ele se afundou em pecados terríveis.

Geralmente, as pessoas se recordam apenas dos pecados cometidos pelo Rei Davi, que foram o adultério e o assassinato de um de seus soldados de confiança. Porém, poucos se atentam para o fato de que isso apenas aconteceu porque antes ele foi preguiçoso e, em vez de acompanhar os seus soldados para a batalha, preferiu ceder à ociosidade, o que abriu brechas para cobiçar a esposa de Urias, fato que certamente não teria ocorrido se ele tivesse assumido o trabalho de liderar o seu exército.
Em Provérbios também podemos encontrar uma série de referências aos preguiçosos, como por exemplo “O preguiçoso cobiça, mas nada obtém. É o desejo dos homens diligentes que é satisfeito.” 3, isto é, o preguiçoso apenas fica sonhando, cobiçando, querendo, mas rejeita o trabalho e o esforço que é necessário para conquistar os bens que deseja.
Já no Novo Testamento, encontramos orientações interessantes nas cartas de São Paulo: “Quer comais ou bebais ou façais qualquer outra coisa, façais tudo para a glória de Deus” 4. Isso quer dizer que tudo o que fazemos precisa ser para a glória de Deus, com o maior esmero e cuidado que estiver ao nosso alcance. A preguiça não pode nos deixar relaxar e tratar as coisas com descaso. Até o ato de escovar os dentes, de lavar a louça, de pentear o cabelo, precisa ser feito com amor, sem preguiça e falta de vontade.
Como combater a Preguiça?
O primeiro passo para combater a preguiça é compreender a importância do trabalho humano como uma participação no ato divino da criação que nos foi concedido pelo próprio Deus. Tal entendimento nos leva a valorizar e elevar a dignidade do trabalho, que é responsável pela nossa santificação e aproximação de Deus.
É importante lembrar também que todas as vezes que almejamos combater e vencer algum pecado, precisamos encontrar a virtude oposta, a virtude que o contrapõe. No caso da preguiça, a virtude que a combate se chama diligência e consiste em fazer bem feito todos os nossos deveres e obrigações. É o contrário da negligência. Por meio dela nós entregamos o nosso melhor em todas as nossas ações.
Imagine se um médico decide suturar de qualquer jeito ou se um advogado resolve defender um inocente de modo negligente, sem estudar o caso? As consequências naturalmente seriam muito sérias, mas ainda que não tenhamos que cortar veias ou defender inocentes, igualmente colheremos consequências más das ações mal feitas, ainda que em menores proporções.
Por fim, vale recordar a máxima de São Bento “Ora et Labora!” — reze e trabalhe —. A oração combate a acídia e o trabalho combate a preguiça. Não há outro caminho: só se vence a rejeição ao trabalho, trabalhando.
Saiba o que são doenças espirituais e qual o seu tratamento.
Referências
- Gen 1, 28
- ST I-II q. 85, a. 4. Pág. 457
- Provérbios 13, 4
- 1Cor 10,31
