ECUMENISMO HOJE PARTE V - COMO ENTENDER A VERDADE NO CONTEXTO ECUMÊNICO E NO DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO?

 


Há que relembrar, que da parte da Igreja e dos seus membros, o diálogo, seja qual for a forma sob a qual ele se desenrole  e existem e podem existir formas muito diversas,  não poderá nunca partir de uma atitude de indiferença em relação à verdade, mas tem de ser, sobretudo, uma apresentação da verdade, feita serenamente e com respeito pela inteligência e pela consciência dos outros. O diálogo da reconciliação não poderá nunca substituir ou atenuar o anúncio da verdade evangélica, que tem como objetivo preciso a conversão, abandonando o pecado, e a comunhão com Cristo e com a Igreja,  mas deverá servir para a sua transmissão e realização, através dos meios deixados por Cristo à Igreja . Os ensinamentos contidos nos documentos do Vaticano II sobre ecumenismo e diálogo inter-religioso solidamente insere a verdade da Tradição teológica e doutrinal da Igreja. Tais ensinamentos abordam  a preocupação de que o diálogo ecumênico esteja sendo usado para propagar o indiferentismo religioso. Ele reitera que o diálogo não poderá nunca partir de uma atitude de indiferença em relação à verdade. Então qual é a verdade, como apresentada pela Igreja? Quais são os princípios com os quais a Igreja aborda nossos irmãos cristãos separados?  No documento conciliar, Unitatis Redintegratio  os padres conciliares ensinam claramente: Que para estabelecer esta Sua santa Igreja em todo mundo até a consumação dos séculos, Cristo outorgou ao Colégio dos Doze o ofício de ensinar, reger e santificar. (Cf. Mt 28,18-20, Dentre eles escolheu a Pedro, sobre quem após a profissão de fé, decidiu edificar a Sua Igreja. A ele prometeu as chaves do Reino dos céus (Cf. Mt 16,19,) e, depois da profissão de seu amor, confiou-lhe a tarefa de confirmar na fé todas as ovelhas (Cf. Lc 22,32) e de apascentá-las em perfeita unidade (cf. Jo 21,15-17). Uma vez que compreendamos esse contexto, podemos ver como os ensinamentos  do Concílio Vaticano II  reconhecem a liberdade religiosa, a Dignitatis Humanae reafirma a obrigação moral do homem de buscar a verdade, afirmando: “todos os homens, que são pessoas dotadas de razão e de vontade livre e por isso mesmo com responsabilidade pessoal, são levados pela própria natureza e também moralmente a procurar a verdade, antes de mais a que diz respeito à religião. Têm também a obrigação de aderir à verdade conhecida e de ordenar toda a sua vida segundo as suas exigências.”

Um encontro verdadeiro e profundo entre as religiões acontece pela interação entre seus valores espirituais essenciais. As religiões não se encontram somente em seus elementos externos, mas em suas interioridades. O espírito de oração em uma religião, por exemplo, tem mais sintonia com o espírito de oração de outra religião do que as normas litúrgicas que orientam a oração em cada uma delas. As religiões precisam encontrar-se naquilo que realmente conta para os crentes. Nisso está o desafio para as religiões promoverem, juntas, o espírito humano e alargarem seu universo simbólico. Isso se dá pela observação dos valores, direitos e obrigações que sustentam sua dignidade, como a justiça, a solidariedade, a amizade, a paz. Na cooperação social, as religiões desenvolvem uma nova sensibilidade inter-religiosa, de abertura e acolhida do que há de positivo na outra religião. Essa sensibilidade desenvolve-se a partir de algumas exigências, principalmente a liberdade religiosa, com o respeito pelo indivíduo e sua consciência,  um acordo básico sobre fins e valores comuns e os meios para alcançá-los , como a vida, a justiça, a liberdade, a igualdade e, admitir que no interior de cada religião existe espaço para outras perspectivas de um Deus criador e providente . E a partir dessa fé, as religiões são chamadas a promoverem projetos específicos na vida social, concorrendo para o bem da coletividade. Num mundo multi-religioso, assim como os princípios religiosos não são únicos, também a interação sociedade-religião se dá de modo diferente em cada contexto. O desafio está em construir uma cultura comum que reúna não só a riqueza dos diversos valores sociais, mas também as múltiplas inspirações religiosas desses valores, não numa mesclagem indistinta, mas numa unidade estruturada e diferenciada que respeite a identidade de cada elemento.  O diálogo inter-religioso nos ajuda a discernir como a graça de Deus age no coração humano em todos os povos e culturas, para que aprendamos a respeitar as várias tradições religiosas e a construir uma sociedade de comunhão, de justiça e paz, no respeito profundo ao ser humano , pois todos compartilhamos uma casa comum.



Fernando Vanini de Maria

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