Neste artigo, você irá descobrir o que é necessário para interpretar a Bíblia de maneira fiel e eficaz. As Escrituras são o alimento e a força da Igreja, portanto compreender seu conteúdo é essencial para colocar em prática a vontade do Senhor. Como escreveu São Jerônimo, doutor da Igreja que traduziu a Bíblia, “Conhecer a Palavra de Deus é conhecer Cristo.”
Não há como interpretar a Bíblia sem o Espírito Santo
A Sagrada Escritura é muito mais do que um livro. Ela é a revelação divina transmitida por autores humanos e sua compreensão vai além do que está escrito. Sendo assim, para entender o que Deus quis manifestar a nós por aquelas palavras, é importante compreender não só a intenção desses autores, mas também o contexto cultural, as condições de época e os gêneros literários que predominavam naquele período. 1
Além disso, um princípio igualmente fundamental é que a Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com o qual foi escrita, a fim de que não se torne “letra morta”. 2 É aqui que a influência divina do Espírito Santo entra em ação. Ele ilumina nossa mente, orienta nosso coração e nos ajuda a mergulhar nas profundezas da mensagem divina contida nas Escrituras.
Sem o auxílio do Espírito Santo, portanto, nossa interpretação da Bíblia pode ser superficial ou distorcida. Mas se lemos sob Sua orientação, somos capacitados a buscar a verdade e aplicar os ensinamentos bíblicos em nossas vidas — independentemente da época em que vivemos. Assim, qualquer pessoa que queira interpretar a Bíblia necessita, antes de tudo, da presença e da orientação do Espírito Santo.
Entenda a ação do Espírito Santo em nossas vidas.
Critérios para interpretar a Bíblia
Para nos ajudar a interpretar a Bíblia em sintonia com o Espírito que a inspirou, o II Concílio do Vaticano nos oferece três critérios: 2
- Atentar-se “ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura.” 3 Mesmo que os livros da Bíblia sejam diversos, eles compartilham um plano divino centrado em Jesus Cristo, revelado após sua Páscoa. Isso significa que podemos entender a Escritura de maneira mais profunda quando percebemos como os diferentes livros se relacionam entre si. Quando lemos sobre o sacrifício de Isaac no Antigo Testamento, por exemplo, e o sacrifício de Cristo no Novo, percebemos a unidade na história da redenção.
- Ler a Bíblia considerando toda a Tradição viva da Igreja. 4 Isso significa que não interpretamos a Escritura de forma isolada. A Igreja mantém a memória viva da Palavra de Deus e é guiada pelo Espírito Santo na interpretação espiritual da Escritura. Por exemplo, a doutrina da Santíssima Trindade não aparece explicitamente na Bíblia, mas a tradição da Igreja nos ajuda a compreender esse mistério. Portanto, “a Sagrada Escritura está escrita no coração da Igreja, mais do que em instrumentos materiais.” 4
- Levar em conta a “analogia da fé”, ou seja, considerar a maneira como as verdades da fé se relacionam umas com as outras e se encaixam no plano geral da Revelação. Ao estudar a ressurreição de Jesus, por exemplo, é fundamental compreender como esse evento se relaciona com outras verdades da fé, como a redenção e a vida eterna. Assim é possível obter uma visão mais completa da mensagem bíblica.
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Os sentidos da Bíblia
A Bíblia é como um tesouro de múltiplos sentidos, permitindo-nos desvendar suas riquezas através de diferentes camadas de significado na hora de interpretar. Sendo assim, de acordo com uma antiga tradição, destacam-se dois sentidos principais da Escritura: o sentido literal e o espiritual. Este último, por sua vez, subdivide-se em outros três sentidos: alegórico, moral e anagógico.
O sentido literal é aquele expresso pelas próprias palavras da Escritura e é descoberto através da exegese, conforme as regras da interpretação correta. 5 Enquanto o espiritual interpreta o texto das escrituras, suas realidades e acontecimentos, como sinais, aprofundando a mensagem divina. Ele se desdobra, portanto, em três aspectos:
- Sentido Alegórico: permite-nos entender o significado dos acontecimentos a partir de Cristo. Por exemplo, a travessia do Mar Vermelho representa a vitória de Cristo e o Batismo. 6
- Sentido Moral: por meio dele percebemos que as situações descritas na Bíblia devem nos guiar para um comportamento justo, servindo como lições práticas para a vida. 6
- Sentido Anagógico: revela os significados eternos, presentes nos acontecimentos narrados, que apontam para nossa pátria celestial. Por exemplo, a Igreja na Terra é um sinal da Jerusalém celeste. 6
Sendo assim, a letra nos ensina os fatos passados; a alegoria, o que devemos crer; a moral, o que devemos fazer; e a anagogia nos orienta para onde devemos caminhar. 7 Esses sentidos da Escritura são complementares, de modo que se entrelaçam na hora de interpretar a Bíblia para enriquecer nossa compreensão.
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A relação entre o novo e o antigo testamento
A Igreja, desde os tempos apostólicos, destaca a unidade do plano divino entre o Antigo e o Novo Testamento por meio da tipologia. 8 Essa abordagem reconhece que, na Antiga Aliança, as obras de Deus prefiguram o que Ele realizou plenamente na pessoa de Seu Filho encarnado nos tempos do Novo Testamento.
Por isso, os cristãos leem o Antigo Testamento à luz de Cristo, morto e ressuscitado. Desse modo, a leitura tipológica revela a profundidade e a riqueza do Antigo Testamento, que mantém seu valor de revelação. Da mesma forma, o Novo Testamento também deve ser lido à luz do Antigo — o que a catequese primitiva costumava fazer. Logo, “o Novo Testamento está escondido no Antigo, ao passo que o Antigo é desvendado no Novo.” 9
A leitura tipológica revela, portanto, como os eventos do Antigo Testamento apontam para a realização das promessas divinas no Novo Testamento, formando um todo coeso na história da salvação. Isso significa que as histórias e eventos no Antigo Testamento, como a chamada dos patriarcas e o êxodo do Egito, mantêm seu valor único no plano de Deus.
Ao ler as Escrituras, percebemos essa unidade na qual o passado ilumina o presente, e o presente revela o significado mais profundo do passado. Além disso, essa compreensão aprofundada enriquece o nosso entendimento a respeito da relação entre Antigo e Novo Testamento — sobretudo na hora de interpretar a Bíblia.
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Como interpretar a Bíblia?
A verdadeira interpretação das Sagradas Escrituras exige que você tenha, em primeiro lugar, a presença do Espírito Santo e, ao mesmo tempo, critérios sólidos como guia. Por isso, a importância de levar em conta a Tradição da Igreja na hora de interpretar a Bíblia. Ela preserva a memória viva da Palavra de Deus e nos ajuda a entender o contexto e o significado profundo das passagens bíblicas.
Além disso, é fundamental reconhecer a Bíblia como uma unidade, na qual o Antigo e o Novo Testamento se complementam, e considerar os sentidos literal e espiritual das Escrituras. A consulta aos Santos Padres é igualmente importante, uma vez que eles dedicaram suas vidas ao estudo das Escrituras, deixando preciosos comentários que enriquecem nossa compreensão.
Por fim, para tornar a sua leitura ainda mais rica, recomendamos a Bíblia Sagrada da MBC. Ela é inteiramente comentada pelos Santos Padres da Igreja, com mais de 3.500 comentários patrísticos e quase 9.000 notas de rodapé originais. Essa seleção inédita oferece uma imersão profunda nas Sagradas Escrituras. A Bíblia também apresenta recursos valiosos, como referências cruzadas em todo o texto, índice temático, sumários e introduções em todos os livros, mapas ilustrativos, biografia de personagens, lecionário dominical e muito mais.
É uma verdadeira catedral editorial que enriquecerá sua leitura. Com ela, você terá referências valiosas para interpretar a Bíblia, além de uma obra de beleza única em suas mãos. Sem dúvida, um tesouro que ilumina a jornada de fé de todo cristão que busca se aprofundar nas Escrituras para conhecer mais a Deus e se aproximar dele.
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Referências
- CIC, 109-110
- CIC, 111
- CIC, 112
- CIC, 113
- CIC, 116
- CIC, 117
- CIC, 118
- CIC, 128
- CIC, 129