Neste artigo, vamos abordar o que são os 10 mandamentos, explorando as suas versões bíblicas e comentando a sua relação com a lei da natureza, infundida em nós na criação. Além disso, veremos como o cumprimento pleno da lei se dá em Jesus e recordaremos que o nosso Deus de amor nunca exige sem antes conceder algo, pois tudo o que possuímos — material ou espiritualmente — recebemos dEle.
O que são os 10 mandamentos?
Os 10 Mandamentos têm sua origem na própria ação de Deus ao inscrevê-los inicialmente no coração humano. Essas regras, que resumem e proclamam a Lei Divina , também foram gravadas pelo próprio Deus em tábuas de pedra, conhecidas como Tábuas da Aliança — como narrado nos livros do Êxodo e do Deuteronômio. Este Decálogo não apenas estabelece as condições para uma vida livre do domínio do pecado, mas também revela a verdadeira humanidade do homem, lançando luz tanto sobre os deveres essenciais quanto sobre os direitos fundamentais inerentes à natureza da pessoa humana. Em essência, os 10 Mandamentos constituem um caminho de vida que nos conduz a viver em liberdade, como filhos de Deus.
Quais são os 10 mandamentos?
As duas versões dos 10 mandamentos
As diferenças entre as versões dos 10 Mandamentos no Êxodo e no Deuteronômio refletem nuances no contexto histórico e religioso em que foram apresentados ao povo de Israel. No Êxodo, os mandamentos são proclamados quando o povo ainda está no deserto, pouco após sua libertação do Egito, diante do monte Sinai. Nesse momento de temor e reverência, a ênfase está na imponente revelação da Lei, marcando o compromisso direto entre Deus e o povo recém-libertado.
Já no Deuteronômio, Moisés reitera os mandamentos enquanto o povo se prepara para entrar na Terra Prometida, após quarenta anos de peregrinação no deserto. Aqui, a ênfase se volta à renovação da aliança entre Deus e Israel. O discurso de Moisés visa fortalecer a importância da fidelidade à aliança, à medida que o povo enfrenta os desafios da conquista da nova terra. A ligação entre obediência aos mandamentos e prosperidade na Terra Prometida ganha destaque, assim como as consequências da desobediência.
Um exemplo disso é o mandamento do sábado. O livro do Êxodo enfatiza a observância do sábado como um dia de descanso ordenado por Deus após os seis dias de criação, destacando a santificação deste dia como testemunho da aliança. Já no Deuteronômio, esse mandamento é reafirmado com uma ênfase ligeiramente diferente.
Além de lembrar o descanso divino na criação, ele é justificado pelo fato de o povo ter sido liberto da escravidão no Egito. Aqui, o contexto realça que, como Deus libertou Israel da opressão egípcia, eles também devem proporcionar descanso a seus servos, animais e estrangeiros em sua terra. “Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou observasses o dia do sábado.”
Êxodo 20, 2-17 |
Deuteronômio 5, 6-21 |
Eu sou o Senhor teu
Deus,Que te tirei da terra do Egipto,dessa casa da escravidão. |
Eu sou o Senhor teu
Deus,que te fiz tirei da terra do Egipto dessa da casa da escravidão. |
Não invocarás em vão o
Nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo quem invocar o
seu Nome em vão. |
Não invocarás em vão o
Nome do Senhor teu Deus. |
Lembrar-te do dia do
Sábado para o santificar. Durante seis dias trabalharás e farás todos os
trabalhos. Mas o sétimo dia é sábado do Senhor teu Deus. Não farás nele
nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho ou tua filha, nem o teu servo, nem a
tua serva, nem o teu gado, nem o estrangeiro que vive em tua cidade. Porque
em seis dias o Senhor fez o céu e a terra, o mar e tudo o que eles contêm:
mas ao sétimo dia descansou. Por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o
consagrou. |
Guarda o dia do sábado
santificando-o. |
Honra pai mãe, a fim de
prolongares os teus diasna terra que o Senhor teu Deus te vai dar. |
Honra teu pai e tua mãe. |
Não matarás. |
Não matarás. |
Não cometerás adultério. |
Não cometerás adultério. |
Não roubarás. |
Não roubarás. |
Não levantarás falso
testemunho contra o teu próximo. |
Não levantarás falso
testemunho contra o teu próximo. |
Não cobiçarás a casa do
teu próximo. |
Não desejarás a mulher do
teu próximo. |
Não desejarás a mulher do
próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem
nada que lhe pertença. |
Não cobiçarás nada que
pertença ao teu próximo. |
Lista dos 10 mandamentos
- Amar a Deus sobre todas as coisas.
- Não tomar seu santo nome em vão.
- Guardar domingos e festas.
- Honrar pai e mãe.
- Não matarás.
- Não pecar contra a castidade.
- Não furtar.
- Não levantar falso testemunho.
- Não desejar a mulher do próximo.
- Não cobiçar as coisas alheias.
Os 10 mandamentos ainda valem mesmo com Cristo e a Nova Aliança?
A pergunta sobre a relevância contínua dos 10 Mandamentos no contexto da Nova Aliança é respondida pelo próprio Jesus no Evangelho de Mateus capítulo 5 versículo 17: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.” Ele estabelece uma ligação profunda entre a antiga Lei e sua missão, não para abolir a Lei e os ensinamentos dos Profetas, mas para dar-lhes pleno cumprimento — “A lei moral encontra em Cristo a sua plenitude e unidade.”
Sendo assim, Cristo, em seus ensinamentos, não apenas reitera muitos dos princípios contidos nos Mandamentos, mas também os eleva a um nível mais profundo de significado espiritual. Por exemplo, enquanto a lei diz apenas “não matarás”, Jesus exorta até mesmo a não nutrimos ódio em nosso coração , e eleva a moral ao ponto de amar os inimigos — e não somente os amigos, como a lei era interpretada.
Além disso, Ele não apenas condena o adultério, mas também acentua a importância de guardar a pureza interior. Dessa forma, Jesus demonstra a continuidade e a relevância do cumprimento dos mandamentos — de maneira mais profunda e abrangente — na Nova Aliança. A Lei, assim interpretada, não perde o seu valor, mas — ao contrário, — encontra sua plenitude em Cristo. Seu sacrifício na cruz traz uma dimensão de redenção e transformação que ultrapassa a simples observância externa, enfatizando a transformação interna do coração humano, uma vez que no amor está o pleno cumprimento da Lei.
O decálogo nas Escrituras
Nas Sagradas Escrituras, encontramos o Decálogo, os Dez Mandamentos, revelando-se como um caminho de vida. No livro de Deuteronômio, é proclamado: “Se amares o teu Deus, andares nos seus caminhos e guardares os seus mandamentos, leis e costumes, viverás e multiplicar-te-ás.” Essas palavras destacam que os Dez Mandamentos estabelecem as condições para uma vida livre da escravidão do pecado, sobretudo no contexto do êxodo, o evento libertador de Deus na Antiga Aliança.
Os 10 mandamentos, também conhecidos como “Decálogo”, que significa “dez palavras”, foram revelados diretamente por Deus. O Senhor entregou essas “dez palavras” a Moisés no monte Sinai, escrevendo-as com o Seu próprio dedo. As principais referências ao Decálogo estão no Êxodo (capítulo 20) e no Deuteronômio (capítulo 5). No entanto, seu significado pleno só foi revelado na Nova Aliança através de Jesus Cristo.
O Decálogo resume e proclama a Lei de Deus, além de ser também conhecido como “o testemunho”, representando a aliança entre Deus e Seu povo. Ademais, faz parte da revelação que Deus fez de Si mesmo, bem como da Sua glória e da Sua vontade.
Os mandamentos são, portanto, transmitidos no contexto da aliança do Senhor com Seu povo, como afirmado em Deuteronômio: “O Senhor nosso Deus firmou conosco uma Aliança no Horeb”. 17 Assim, os Mandamentos ganham significado completo na Aliança, expressando a resposta moral do homem à iniciativa amorosa do Senhor.
O decálogo na Tradição da Igreja
O Decálogo detém um papel central na Tradição da Igreja, harmonizando-se com a Sagrada Escritura e o exemplo de Jesus. Desde Santo Agostinho, os “Dez Mandamentos” têm destaque na catequese dos batizados e fiéis, e essa ênfase levou à criação de fórmulas rimadas para facilitar a memorização — uma prática que teve início no século XV e é empregada até os dias de hoje.
Apesar das variações históricas na divisão dos mandamentos, o catecismo atual segue a abordagem de Santo Agostinho, que é adotada tanto pela Igreja Católica quanto pelas confissões luteranas; as Igrejas ortodoxas e as comunidades reformadas possuem divisões diferenciadas. No entanto, todos os Dez Mandamentos convergem para a exigência do amor a Deus e ao próximo.
Além disso, a importância dos Dez Mandamentos é reforçada pelo Concílio de Trento, que enfatiza sua obrigação contínua para os cristãos, e pelo Concílio Vaticano II, que destaca a missão dos bispos de pregar o Evangelho por toda parte, a fim de que homens possam ser salvos através da fé, do Batismo e do cumprimento desses mandamentos.
Ademais, Santo Tomás de Aquino, em sua catequese sobre os mandamentos, argumenta que três coisas são necessárias para a salvação do homem: a ciência do que deve crer, a ciência do que deve desejar e a ciência do que deve fazer. Esta última, sendo a ciência do agir, é transmitida pela Lei. Ainda que a lei da natureza tenha sido infundida por Deus no coração do homem — mostrando o que ele deve fazer e o que deve evitar —, a concupiscência o leva a contradizê-la, sendo assim a lei da Escritura (os mandamentos) torna-se necessária, a fim de instruir o homem nas virtudes e dissuadi-lo dos vícios.
Os decálogo e a lei natural
Desde a criação, Deus instruiu a humanidade com os preceitos da lei natural, gravados em seus corações, ou seja, a lei foi inscrita no interior do homem. Essa lei da natureza, como Santo Tomás de Aquino observou, é “[…] uma luz intelectual infundida em nós por Deus, por meio da qual conhecemos o que fazer e o que evitar.”
No entanto, surge a indagação: se os seres humanos já possuíam esses preceitos em seu coração, por que os mandamentos precisaram ser revelados e escritos em tábuas? Embora os mandamentos do Decálogo possam ser compreendidos pela razão, a influência do pecado obscureceu a capacidade do homem de compreender plenamente a lei da razão, bem como desviou a sua vontade.
Santo Tomás explica que, após o diabo, por sugestão, ter desviado o homem dos preceitos divinos, a carne, que anteriormente obedecia à razão, passou a resistir à razão — e não mais obedecer-lhe. Assim, mesmo quando o homem deseja o bem segundo a razão, ele é inclinado ao contrário devido à concupiscência.
Portanto, a revelação e a explicação dos mandamentos foram necessárias — apesar da presença da lei natural no coração humano —, porque o pecado obscureceu a razão do homem e desviou a sua vontade do bem.
Todo pecado é uma transgressão a algum dos
10 mandamentos
“Todo aquele que peca transgride a Lei, porque o pecado é transgressão da Lei.” A relação entre cada pecado e os Dez Mandamentos é profundamente enraizada na própria essência desses preceitos divinos, como explicitado nas Escrituras. Os mandamentos, revelados por Deus, indicam claramente o que é moralmente correto e, assim, fornecem um padrão pelo qual podemos medir as nossas ações.
Além disso, os exames de consciência — práticas essenciais na tradição cristã — partem dos Dez Mandamentos como um guia confiável para a autorreflexão. É muito valioso que o sacramento da penitência seja precedido por um bom exame de consciência, pois por meio deles medimos nossas ações em relação aos Mandamentos de Deus. O Decálogo nos ajuda a reconhecer os nossos pecados e nos direciona ao arrependimento e à reconciliação com Deus.
Os mandamentos são a âncora da moral cristã, o alicerce dos exames de consciência, a fim de nos conduzir ao caminho da graça e da santidade. Contudo, vale lembrar que o amor de Deus Pai é o fundamento deste dever. Assim, os mandamentos são um reflexo do amor de Deus que primeiro dá, depois manda. Esta ordem é crucial, pois os mandamentos não são impostos antes do estabelecimento de uma relação com Deus: primeiro Deus salvou Seu povo no Mar Vermelho e só depois lhes revelou os mandamentos no Monte Sinai.
Os mandamentos libertam-te do teu egoísmo, e libertam-te porque há o amor de Deus que te faz ir em frente. […]” A gratidão e a obediência surgem, portanto, como expressões de um coração que reconhece os benefícios de Deus e deposita sua confiança Nele.
Os 5 mandamentos da Igreja Católica
Os 10 Mandamentos como já apresentados acima, listados nas Escrituras e organizados pela Igreja Católica, não devem ser confundidos com os 5 mandamentos da Igreja Católica. São eles:
- Ouvir missa inteira aos domingos e festas de guarda
- Confessar ao menos uma vez cada ano
- Comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição
- Jejuar e abster-se de carne quando manda a Santa Mãe Igreja
- Doar o Dízimo, segundo o costume
Qual a diferença entre os 5 mandamentos da Igreja Católica e os 10 mandamentos da lei de Deus?
Os 5 mandamentos da Igreja Católica não são nada mais do que desdobramentos práticos dos 10 mandamentos. Ouvir a Missa aos domingos e festas, por exemplo, é o terceiro mandamento na prática.
Cristo, ao fundar a Igreja Católica, confiou aos apóstolos — e estes aos seus sucessores — a transmissão de todos os seus ensinamentos e a administração da Igreja. Por isso, as leis da Igreja tem a mesma autoridade dos dez mandamentos.
Saiba mais sobre Tradição, Magistério e Sagrada Escritura.
Referências
- CIC 2072
- CIC 2058
- cap. 20
- cap. 5
- CIC 2070
- Ex 20, 8-11
- Dt 5, 15
- 1953
- Mateus 5, 21-22
- Mateus 5, 43-48
- Mateus 5, 27-28
- Rm 13, 10
- Dt 30, 16
- Ex 31, 18
- CIC, 2056
- CIC, 2058-2059
- Dt 5, 2
- CIC, 2062
- CIC, 2064
- CIC, 2065
- CIC, 2066-2067
- CIC, 2068
- CIC, 2070
- Santo Tomás de Aquino, Catequeses. Tradução: Tiago Gadotti — 1. ed. — Dois Irmãos, RS p.151
- CIC, 2071
- IJo 3, 4
- CIC, 1454
- Papa Bento XVI, Audiência Geral, junho de 2018